Rota Pérsica: O Impacto do Irã no Desfecho da Segunda Guerra Mundial

A invasão do Irã durante a Segunda Guerra Mundial se destacou como uma das ações mais cruciais para a vitória dos Aliados. Esta operação, essencial para a sustentação das tropas aliadas, merece uma análise aprofundada para entender sua real importância.

Contexto Geopolítico

No contexto do desembarque aliado nas praias da Normandia, evento marcante conhecido como Dia D, uma decisão estratégica foi tomada na Conferência de Teerã, realizada entre 28 de novembro e 1º de dezembro de 1943. A escolha de Teerã, capital iraniana, como sede dessa conferência, não foi aleatória. A localização do Irã, situada no coração do Oriente Médio, com acesso ao Mar Cáspio ao norte e ao Golfo Pérsico e Mar Arábico ao sul, conferia ao país uma importância estratégica incomensurável.

Raízes Históricas

Para compreender a importância do Irã na Segunda Guerra Mundial, é necessário recuar no tempo até 1925. Nesse ano, após uma guerra civil, Reza Khan ascendeu ao poder e se proclamou Reza Shah. O título de “Shah” é equivalente ao de imperador nas monarquias ocidentais, denotando a liderança soberana da Pérsia e do Afeganistão.

Tropas indianas invadindo o Irã em 1941

Reza Shah era um visionário, determinado a modernizar seu país. De origem modesta, sua família de classe média proporcionou-lhe uma educação que o preparou para seguir uma carreira militar. Na liderança de uma revolta contra a Dinastia Qajar, que governava a Pérsia desde o século 18, Reza Shah conseguiu consolidar seu poder. Em 1935, ele pediu que o antigo Reino da Pérsia passasse a ser chamado de Irã, refletindo sua ambição de renovação nacional.

Importância Econômica

Quando a guerra eclodiu na Europa em 1939, o abastecimento de combustível tornou-se uma prioridade para os Aliados. O Irã, na época um dos maiores produtores de petróleo do mundo, era um fornecedor estratégico. Empresas estrangeiras, especialmente a Companhia de Petróleo Anglo-Iraniana, controlada pela Inglaterra, tinham uma presença significativa no país.

No século 19, o Irã buscou aliança com a Alemanha Imperial, recebendo missões científicas e econômicas, além de assessores militares que treinaram gerações de soldados iranianos, incluindo Reza Shah. Apesar de não ser um simpatizante do nazismo, Reza Shah manteve relações com Berlim, que se intensificaram em 1936 com a visita de Hjalmar Schacht, presidente do Reichsbank. Esse encontro selou importantes acordos econômicos, e Hitler declarou o Irã como um país “ariano” e “racialmente puro”.

Estratégia Militar e Alianças

Com a invasão da União Soviética pela Alemanha em 22 de junho de 1941, durante a Operação Barbarossa, Churchill formou uma aliança com Stalin, apesar de seu anticomunismo. Para Churchill, o nazifascismo representava uma ameaça maior, justificando a colaboração com a União Soviética.

Reza Shah

Naquele momento, os alemães avançavam em várias frentes. Até o Natal de 1941, chegaram às portas de Moscou, enquanto no Norte da África, o Afrikakorps de Rommel empurrava os britânicos até quase o Cairo. Os Aliados suspeitavam que um dos objetivos do Eixo era controlar os campos de petróleo do Oriente Médio. O plano alemão incluía a captura dos campos de petróleo do Azerbaijão e a subsequente invasão do Irã, enquanto Rommel avançaria pelo Egito e capturaria o Iraque e o Irã, garantindo assim o abastecimento de combustível para o Eixo.

Intervenção Aliada

Frente a essa ameaça, Londres e Moscou concordaram que o Irã deveria ser alvo de uma ação conjunta. Após tentativas frustradas de negociação diplomática com o Shah, que desejava manter a neutralidade, e diante do crescimento de manifestações anti-britânicas e anti-soviéticas, a invasão começou em 25 de agosto de 1941.

As forças britânicas atacaram a partir do Iraque, enquanto a Marinha australiana cercou o Golfo Pérsico. As tropas soviéticas avançaram pelo Cáucaso, com a Frota do Mar Cáspio bloqueando reforços para o Irã. Em 31 de agosto, diante da superioridade aliada, Shah ordenou a rendição de suas tropas e iniciou negociações com britânicos e soviéticos, abdicando do trono em seguida.

A ocupação assegurou que o petróleo iraniano não caísse nas mãos do Eixo e permitiu o envio de ajuda aliada para diversas frentes. Quando os líderes aliados precisaram se reunir no final de 1943, Teerã foi escolhida como local de encontro por sua segurança estratégica. Como bem disse Churchill: “Nossos caminhos passam pelas antigas rotas da Pérsia”, destacando a importância crucial do Irã no contexto da guerra.

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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