Livro A Luta dos Pracinhas – A Força Expedicionária Brasileira

Livro A Luta dos Pracinhas – o heroico desempenho de nossa Força Expedicionária Brasileira.

Neste livro há o relato do que aconteceu desde a declaração de guerra do Brasil ao eixo, até a rendição alemã em Fornovo.

Algumas histórias ganham destaque devido à minúcia dos detalhes que nos permite imaginar o campo de batalha tal como foi.

“Não Vá Além Daquele Poste”. – Pág 55.

Sinto alguma coisa estremecer dentro quando o Capitão Ernani Ayrosa da Silva (poucos dias depois ele seria gravemente ferido) me segura pelo braço e me diz:

— Cuidado. Não vá além daquele poste. O terreno está todo minado.

Volto mais uma vez ao posto mais avançado da FEB. No termómetro manual do Capitão Ayrosa vem indicado que aqui fora já está fazendo nove graus abaixo de zero, o que significa dizer que a noite vai ser polar. A cortina de fumaça nos protege, grossa e acre, e por causa dela é impossível divisar qualquer coisa um metro além. A linha inimiga a nossa frente, onde os alemães estão vigilantes em seus postos igualmente avançados e protegidos em suas trincheiras e casamatas, é apenas uma parede cinzenta. Sentimos que eles estão ali, mas não os vemos, e muito menos suas trincheiras. Quando deixamos de falar — ou de sussurrar, porque qualquer som na acústica destas montanhas soa como um toque de corneta — o silêncio volta pesado e vazio. Um silêncio que esconde ameaças e armadilhas. O Capitão Ayrosa me diz:

— Estamos a menos de meio quilometro dos alemães.

Outra historia emocionante aparece na pág. 83, onde Joel narra a patrulha onde o Sgt. Max Wolf Junior foi atingido mortalmente, fato também citado na pag. 163 por Thassilo, na segunda parte do livro, que além de textos, inclui diversas imagens.

Outro destaque está na pag. 178/179. “A Rendição Nazista“, cujo nome já faz jus do quão interessante é.

Após a leitura de “A Luta dos Pracinhas” ninguém mais poderá ter duvidas sobre o papel do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

 

Apresentação do livro por Rubem Braga

Um Livro Honesto

Valeria a pena, a esta altura dos acontecimentos, publicar mais um livro sobre a FEB? Quase 40 anos se passaram desde que a primeira tropa embarcou para a Itália. E sempre houve, no correr desses anos, quem nos perguntasse, aos velhos correspondentes de guerra:

— Mas o pessoal do Brasil entrou mesmo na guerra?

— É verdade que a guerra para os brasileiros foi uma passeata paga pelos americanos?

— Aquilo lá era uma farra formidável, não era?

Respondemos pacientemente:
1) o pessoal entrou mesmo na guerra;
2) não foi passeata e tudo que os americanos pagaram eles receberam de volta;
3) não.

O Brasil fez a guerra com um contingente modesto e mal treinado, mas fez a guerra dura e dignamente.

O nosso soldado não é “o melhor do mundo”, mas, de um modo geral, se portou bem e mostrou capacidade de adaptação. Não fomos nós que decidimos a guerra, mas contribuímos, ainda que modestamente, para a vitória.

Lendo este livro de Joel Silveira e Thassilo Mitke vocês sentirão essas coisas e poderão ter uma noção geral da campanha; e, além disso, uma impressão viva e humana de muitos momentos, enriquecida pela melhor coleção de fotos até hoje publicada sobre a expedição.

O que lhes posso dizer é que é um livro honesto. Quando Joel e, mais tarde, Mitke chegaram à Itália, já estávamos lá Raul Brandão, Egydio Squeff e eu.

Ficamos todos até o fim. O trabalho do correspondente é penoso, e sujeito a muitas restrições; umas, obrigatórias, como a censura militar, para evitar que se publique qualquer coisa que possa ser útil ao inimigo; outras, admissíveis, como as que afetariam a divulgação de fatos que possam deprimir a opinião e prejudicar o esforço nacional.

Em tempo de guerra já é muito não se mentir; dizer qualquer verdade é impensável.

Juntemos a isso que para nós, brasileiros, além da censura militar, havia a censura política de uma ditadura que só com um grande constrangimento acedera em guerrear o fascismo e o nazismo.

Basta dizer que nenhum jornal pôde mandar correspondente com o Primeiro escalão de embarque, em 2 de julho de 1944; só a 22 de setembro, como os correspondentes oficiais não se deram bem com o Comando, (foram mandados de volta) abriram-se as primeiras exceções.

Já se escreveram livros críticos sobre a Campanha; os mais conhecidos são os do General Floriano de Lima Brayner e o de um grupo de oficiais da reserva; o que não se fez ainda foi uma história desapaixonada e equilibrada dessa aventura.

Quem a fizer enfrentará uma série de questões delicadas, não só do ponto de vista militar como do político.

A primeira coisa a questionar seria a conveniência do envio de tropa naquelas circunstâncias.

Mas o próprio funcionamento de uma força multinacional apresenta problemas dentro de cada Corpo, dentro de cada Exército.

No caso da Itália, não éramos apenas uma Divisão do V Exército, éramos também a Divisão Brasileira na Guerra. Sempre ouvi dizer (e nunca apurei isso) que os portugueses perderam a Primeira Grande Guerra, que seus Aliados ganharam; o mesmo poderia ter acontecido ao Brasil na Segunda.

Seria pelo menos duvidosa a nossa sorte se os alemães tivessem resolvido desfechar no vale do Reno a ação que empreenderam na extremidade ocidental da Frente, por ocasião da contraofensiva das Ardenas.

Pelo menos uma boa parte de nossa tropa teria de se retirar com dificuldade ao longo da estrada 64, e não seria impossível que outra parte fosse ali cercada.

Deixemos, porém, essas imaginações infelizes. Houve, certamente, como em toda a guerra, muitos erros, mas acredito que, de um modo geral, o Exército pode se orgulhar do Comando da Campanha e de seus quadros; e, nós todos, da atuação dos jovens soldados filhos do povo do Brasil.

Nem Joel nem Mitke discutem estas coisas neste livro; é possível que eu o faça, depois de entrevistar algumas autoridades, em apêndice a meu livro de “Crónicas de Guerra” que pretendo reeditar aqui na Record.

O grande valor do trabalho dos dois autores está no equilíbrio entre a narração objetiva e factual da guerra e o registro colorido e emocional daqueles dias já tão antigos.

 

Os Correspondentes de Guerra Junto à FEB

 

 

A LUTA DOS PRACINHAS
JOEL SILVEIRA / THASSILO MITKE
EDITORA RECORD, 3ª EDIÇÃO 1993
287 PAGINAS

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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1 comentário

  1. Eu fiz uma citação do seu excelente blog sobre a Guerra, inclusive, citando gente da mídia hollywoodiana que atuou no cenário europeu. Gostaria muito de ter informações de uma revistinha distribuída no Brasil – título Zé Curioso – que mostrava a desgraça da guerra e fazia propaganda contra os comunistas, nazistas e fascista. Eu era pequeno e meu pai levou uma série dessas revistinhas. Tem alg uma informação?

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