Na segunda-feira, 17 de março de 2025, o silêncio tomou o lugar do ronco dos motores que um dia ele dominou. John “Paddy” Hemingway, o último piloto vivo da Batalha da Grã-Bretanha, morreu aos 105 anos, como anunciou a Royal Air Force (RAF). Com ele, vai-se o eco final de uma geração que Churchill chamou de “os Poucos” – aqueles que, em 1940, enfrentaram a fúria da Luftwaffe para proteger a Grã-Bretanha de um destino sombrio.
Nascido em 1919, em Dublin, Hemingway era irlandês de origem e britânico de coração. Aos 19 anos, em 1938, alistou-se na RAF, sem imaginar que logo estaria no centro de um dos capítulos mais dramáticos da Segunda Guerra Mundial. Quando a França tombou e os nazistas voltaram seus olhos – e seus aviões – para o Reino Unido, Paddy estava pronto. Integrante do Esquadrão 85, ele viu ação intensa entre julho e setembro de 1940. Em maio daquele ano, seu grupo derrubou impressionantes 90 aeronaves inimigas em menos de duas semanas, um número que fala por si.
A guerra não poupou Hemingway de sustos. Em 18 de agosto de 1940, seu avião foi atingido sobre o Estuário do Tâmisa; ele escapou por uma triz, pendurado em um paraquedas. Dias depois, em 26 de agosto, outra queda, foi em Eastchurch – a primeira perda oficial do Esquadrão 85 em território britânico. Mas Paddy era feito de fibra rara. Em cinco dias, já pilotou novamente e deixou uma caça alemã BF109 em apuros. Veio a promoção a oficial de voo em setembro de 1940, e, em julho de 1941, uma Distinguished Flying Cross, medalha que conquistou sua valentia. Ele se aposentou em 1974, com a patente de capitão de grupo, após uma carreira que atravessou décadas.
O primeiro-ministro Keir Starmer prestou tributo com palavras diretas: “Paddy e seus companheiros da RAF mudaram o curso da guerra com sua bravura.” John Healey, secretário de Defesa, reforçou o tom: “Eles lutaram por um valor que entenderam como poucos: a liberdade.” O marechal do ar Sir Rich Knighton, chefe da RAF, foi mais pessoal: “Paddy era único, um símbolo vivo do espírito da nossa força.”
Ele nunca se deixou levar pela fama. “Apenas um irlandês que teve sorte”, dizia, com um sorriso discreto e o hábito excêntrico de voar de mangas curtas – um toque de leveza em meio ao caos. Humildade à parte, sua história é de gigante.
A morte de Hemingway, dois dias antes desta publicação, data um ciclo. Desde que Terry Clark, penúltimo dos Poucos, partiu em maio de 2020, Paddy carregava sozinho a memória daqueles combates nos céus. Agora, resta o silêncio – e a gratidão por homens como ele, que fez da coragem um legado eterno.