Amigos em homenagem ao nosso querido Major Ruy de Oliveira Fonseca falecido hoje aos 96 anos, esse texto foi extraído do livro “Vivências de Guerra e de Paz”
Que DEUS o tenha em em bom lugar.
Titulo de livros, de filmes e ate de novelas, é mais do que uma simples frase que afirma, negando. . E esta negação que, paradoxalmente, afirma, pode ser constatada quando os veteranos, ex-combatentes da Il Grande Guerra, se reúnem para comemorar os feitos brasileiros, nos Campos de batalha da Itália. O que narramos a seguir demonstra essa vivência que extrapola os limites físicos, o tempo e o espaço, para fixar-se na alma e no coração de cada velho soldado.
Não! Ele não faltaria, como nunca faltou, a festa que todos os anos se realizavam no Velho Regimento, agora transformado em Batalhão, em comemoração a mais um aniversario da mais importante vitória obtida por sua Unidade, na Campanha da Itália.
Na cidade grande, hospedou-se na casa de um antigo companheiro de farda e compadre, depois de seis horas de ônibus, desde a pequena Vila onde se fixara depois da guerra e constituirá família. Pediu à comadre que lhe passasse a ferro o terno, a Camisa e a gravata que tirou amarfanhada da usada bolsa de plástico e depois de se por a par das novidades locais e.
Contar as suas, saiu a bater pernas pelas ruas, com a esperança de encontrar outros antigos companheiros que, tal como ele, também viriam para as solenidades. Passou num engraxate para um lustro nos sapatos e aproveitou o resto do tempo para visitar as igrejas onde muitas vezes, rezava tanto, antes de seguir para a guerra.
Sentia-se excitado e ansioso pelo dia seguinte quando, no meio dos outros veteranos, haveria de destilar como antigamente, ao som das canções militares que nunca esqueceu: “Avante, camaradas”, “Bandeira do Brasil” e “Deus Salve a América”, e prestar continência aos novos e antigos chefes, reunidos no palanque, sob a Bandeira Nacional, lá no Monumento erguido.
Em memoria dos expedicionários, vivos e mortos.
Pedia a Deus que não lhe desse um “treco”, que impedisse sua participação, nem que suas pernas fraquejassem na hora do destile. Não, ele tinha que desfilar, de cabeça erguida e peito saliente, como lhe ensinou os instrutores, quando era recruta.
O dia amanheceu lindo; um sol avermelhado já se levantava por detrás dos morros da cidade, prometendo uma jornada clara e calorenta. Nosso veterano levantou-se cedo e começou os preparativos; vestiu a fatiota escovada pela diligente comadre, caleou os lustrosos sapatos, que ate lhe apertavam um pouco – mas ele nem ligou -, completando a indumentária com uma flamante gravata vermelha e preta. Em seguida, pescou no fundo da bolsa uma antiga caixa de sabonetes, cuidadosamente forrada com uma camada de algodão e, de dentro dela, com a ponta dos dedos retirou as três medalhas com que fora agraciado por sua conduta nos Campos de batalha; a medalha de campanha e a Cruz de Combate. Estendeu-as na palma da mão e alisou-as com carinho, antes de prega-las na lapela, do lado do coração…
Apos uma ultima olhada no espelho, deu uma ajeitada no topete ralo, de poucos cabelos grisalhos e saiu para a rua, feliz da vida, com as medalhas tilintando a cada passo.
Chegou cedo ao quartel, onde já encontrou outros veteranos que se cumprimentavam ruidosa e alegremente.
Olá, Ferreira! Tudo bem? Velho, V. esta bonitão!
Tudo legal! Mas V. é que este garotão!
Eu? _ Eu, não: o Lopes aqui, é que esta com tudo!
É eu sei que ele conseguiu a reforma e isso é bom!
Eu ainda ando as voltas com os exames médicos… Já fiz mais exames do que mulher gravida e ate agora nada…
É isso ai, meu camarada: pra gente “irmos”, bastou uma _ simples “escutada”… Agora, para melhorar um pouco a nossa velhice é uma encrenca toda…
Deixa pra lá, velhinho, o bom mesmo é a gente estar vivo e junto no nosso Regimento…
E por ai foi, aquela conversa de amigos que confiam uns aos outros suas conquistas, suas magoas e suas frustrações.
Terminada a missa gratulatória, celebrada no pátio do quartel, houve a formatura da tropa que, apos receber a Bandeira Nacional, deslocou-se para o local da solenidade. Ao redor do monumento, já se encontravam as autoridades e defronte, em forma, em fileiras, os ex-combatentes. Entre estes e as autoridades postou-se o Batalhão para o hasteamento das
bandeiras, como estava previsto no programa. Hasteadas as bandeiras, começaram as homenagens e os discursos.
A manha continuava radiosa e o sol, como prometera na madrugada, castigava os circunstantes; o suor já banhava os rostos dos soldados, que embora acostumados, já davam sinais de desconforto. Foi quando de repente, bem na frente do nosso veterano, vencido pelo calor, o oficial porta-bandeira do Pavilhão Nacional tombou desmaiado. Atento a tudo, o velho
Soldado, com uma das mãos amparou-lhe a queda e com a outra, tomou-lhe a Bandeira, antes que escorregasse para o chão e plantou-se – é bem o termo – no lugar vago, imponente, na mais rigorosa posição de “descansar”, até ser substituído por outro oficial. Voltou o veterano para o seu lugar em forma, dizendo lá com seus botões, sem atentar na grandeza da ação que
praticara: “é, .. não é que um dia fui, embora por alguns momentos, o “Porta- Bandeira” do meu Regimento!”…
Prezado Sr. Lavecchia, ‘e sempre emocionante para um filho ,encontrar palavras tao nobres referindo-se ao seu pai .
Parabens pelo trabalho de pesquisa e pela sua sensibilidade nos relatos sobre os veteranos da FEB.
grande abraço
Fabio Marcio
Pessoa digníssima o Major Ruy, que tive o prazer de conhecer no lançamento de seu livro que comprei com grande satisfação e autografado por ele, onde após a entrega desejei-lhe longa vida, a quem dedico a minha mais alta estima a este verdadeiro herói da nossa Pátria Brasil, que bravamente lutou com dignidade para a paz mundial.
Sr. Lavecchia,
Apesar de ter passado quase um ano do falecimento dessa grande figura,
hoje relembrando os bravos do 11RI, Regimento de São João, deparei-me
com o seu blog.
Tive a honra,o privilégio de participar com o Major Rui de várias come-
morações sobre Montese.Ajudei a montar o museu da FEB em São João del-Rei
e aprendi que nós brasileiros devemos muito a essa geração de soldados cidadãos.
O livro do maj. Rui, antes de uma história de guerra é um exemplo do homem simples, culto e cumpridor dos seus deveres.