O Diário de Joseph Goebbels – Final

20 de agosto de 1941.

O Führer disse que posso deportar os judeus de Berlim tão logo acabe a campanha do leste.

Berlim há de estar livre de judeus. É escandaloso que 78.000 judeus, a maioria parasitas, possam caminhar com suas gorduras pela capital alemã do Reich. Não só destroem a imagem da cidade, a atmosfera também. As coisas mudarão para melhor quando portarem os distitivos.

Expulsá-los é a única maneira de resolver de vez o problema.

1 de setembro de 1941.

Veneza parece uma joia no meio do mar. É a cidade mais bonita que conheço. Estou alojado em um barco, o Cyprus, que está ancorado perto da Praça de São Marcos e oferece uma magnífica vista panorâmica da cidade. No barco pode-se ter alguma paz e tranquilidade. Ouve-se apenas o alvoroço e o balbucio da bienal.

Veneza está cheia de filmes de todas as partes do mundo.

Comemos em um palácio maravilhoso perto do Canal Grande. Isso é o que faz Veneza tão imponente. Gostaria muito de levar ao menos um desses magníficos palácios para a nossa fria e deserta capital. Quando se entra em um desses palácios, vê-se o vital que é reconstruir Berlim com o melhor estilo, para que ofereça vistas interessantes aos turistas dos séculos vindouros.

2 de setembro de 1941.

Excetuando Mussolini, os italianos não têm nenhum líder absoluto. Afirmam que são os mestres da improvisação, mas na maioria das vezes nos seus improvisos se saem mal. Organizar-se e preparar-se para algo metodicamente, não é seu forte.

Goebbels desembarcando na Itália

À tarde, para começar a contribuição italiana à bienal, projetou-se no novo filme romano “O Estádio de Ferro”. A estreia foi um fracasso. A filme é uma grande apologia cinematográfica muito pouco convincente. Não vale a pena nem comentá-la.

Os italianos tinham todas suas esperanças nessa estreia, mas seu próprio público estava decepcionado. Alegro-me porque essas experiências cinematográficas falidas já não aconteçam no cinema alemão. Tenho trabalhado incansavelmente para eliminar todas essas experiências. A falta de talento dos italianos neste campo nos beneficia.

A tarde acabou com uma grande recepção no Cinecittá. Com muita pompa e cerimônia. Mas para quê servem essas festas se os filmes são péssimos. O importante são os filmes, não as recepções.

Depois desse ato, dei um passeio pela cidade iluminada. Veneza possui uma beleza encantadora. Sobretudo quando não há luz artificial e suas torres e silhuetas oferecem uma vista mágica.

A guerra se é inevitável, é uma necessidade remota.

Esta cidade se manifesta mais persuasiva que nunca, que a guerra só pode ser um meio para conseguir um fim. Nunca um fim em si mesmo.

7 de setembro de 1941.

Vi uma filme do encontro entre Roosevelt e Churchill no Atlântico. Está miseravelmente feita. Não merecia nenhuma atenção. Este lixo é o que os ingleses chamam propaganda. Que superiores somos a nossos inimigos neste campo. Faz muito barulho, mas não dizem nada.

Imagem do filme propagandista mostrando o encontro entre Roosevelt e Churchill

16 de outubro de 1941.

Nos últimos dois anos nós conseguimos lucros cinematográficos de proporções inimagináveis anteriormente. Isso se deve, sobretudo a nosso êxito ao apresentar temas modernos de forma moderna.

A geração do novo cinema é medíocre. Dão uma impressão demasiadamente burguesa. Quase nenhum dos homens ou mulheres que elegemos triunfariam internacionalmente. Isto vai mudar. Se o cinema alemão quer conquistar o mundo, deve se utilizar de atores conhecidos.

Não penso relaxar até que progridamos neste campo.

19 de novembro de 1941.

Tenho lido “Sangue Suor e Lágrimas”, de Churcill. Uma compilação de seus discursos dos últimos dois anos. Demonstra uma inteligência inquietante e está muito bem escrito.

Tem um estilo claro, ainda que seu cinismo resulte surpreendente para nossa forma de pensar. Não se pode negar que Churchill é um adversário que impõe respeito. Não é tão estúpido como era Chamberlain.

30 de novembro de 1941.

O Führer não crê que devamos tomar as grandes cidades soviéticas. Não há nenhum benefício, e haveria de ter que alimentar muitas mulheres e crianças. O objetivo é não ocupar nem Moscou nem Lenigrado. Tem que destruí-las e lavrar a terra.

Soldado Alemão durante a Campanha contra a União Soviética

Creio que o modo com que o Führer dirige esta guerra é admirável. Nem lhe ocorre conquistar Moscou e fazer um desfile da vitória. O objetivo nesta guerra não é ganhar prêmios mas destruir o inimigo. Isso é o que importa. E estamos tentando com todas as nossas forças.

21 de dezembro de 1941.

Estou lendo um extenso informe dos últimos dias de novembro, escrito por um oficial no front do leste. Dá o que pensar. Ali andam muito carentes de tudo. Comida, gasolina, armas, munição, gente. O humor entre as tropas ainda é relativamente bom. Mas tem um sentimento vago de que algo vai mal. O pronunciamento do Führer terá, certamente, um efeito liberador.

Soldados alemães tentando desatolar caminhão durante a campanha no front leste

Nossa propaganda é exageradamente otimista; quero dizer que, muito contra a minha vontade parecia dar ideia de fato que a campanha do leste já havia sido ganha tenha sido recebida com grande desprezo.

O assessor de imprensa do Reich, Dr. Dietrich, não tem ideia de quanto dano está causando. Seu discurso foi desastroso. No momento em que falava, os soldados da frente estavam lutando suas mais duras batalhas e suportando grandes privações. É fácil imaginar o que os soldados pensam dessas mentiras patrióticas.

O que mais me dói é que o povo me faça em parte responsável, ainda não nada a ver e inclusive lute contra.

15 de fevereiro de 1943.

Pela tarde comecei a ditar meu discurso do Palácio de Esportes. À noite já estava acabado e corrigido. Creio que será muito positivo. Pode ser um de meus maiores louros como orador.  Necessitamos destes discursos para animá-los. É necessário dar um pouco de coragem aos alemães.

Oxalá pudesse-me multiplicar um milhão de vezes para poder conseguir um milhão a mais do que posso agora.

19 de fevereiro de 1943.

Ontem as 5 começou o esperado rali no Palácio de Esportes. Houve uma grande assistência. As portas fecharam às 16h30min.

Respirava-se um ambiente de histeria febril. Os berlinenses são a audiência mais atenta do Reich. Quase o total do conselho, grande número de diretores regionais e quase todas as secretarias de governo estavam presentes. Era uma amostra representativa de toda a população alemã.

“Os ingleses sustentam que o povo alemão se opõem aos planos de Guerra Total do governo. Os ingleses dizem que os alemães preferem capitular antes que lutar. Nunca!

 

Vocês querem a guerra total?

 

Se fosse necessário, apoiariam uma guerra mais total e radical do que hoje possam imaginar?

Pergunto-lhes, estão decididos a seguir o Führer, até levar a guerra a um vitorioso final, ainda que isso implique numa carga pessoal insuportável?”

Minha oratória estava em muito boa forma e levei a audiência a um estado de total mobilização espiritual. O Führer ordena, nós seguimos! O comício acabou com uma grande ovação. O Palácio de Esportes não havia visto nada parecido, nem sequer antes de 1933.

A nação alemã está preparada para sacrificar tudo pela guerra e por nossa vitória. Assegurar-me-ei que a guerra total não fique em pura teoria.

3 de março de 1943.

De caminho para Berlim inteirei-me que a cidade havia sido bombardeada durante a noite. No primeiro informe não se analisava o grande impacto do ataque. Saí imediatamente para a rua a fim de inspecionar os danos. Comecei pela Igreja de Sant Hedwig que estava feita em pedaços. O sacerdote me pediu outro local para realizar os serviços.

Garanti uma solução. Esses detalhes fomentam a amizade.

Goebbels Inspeciona a Igreja de Sant Hedwig completamente destruída pelo bombardeio aéreo

7 de maio de 1943.

Tenho um novo projeto: “Kolberg”. Este filme é o retrato de um homem valente e da determinação de uma comunidade a resistir ainda que a situação pareça desesperadora.

Este filme servirá de lição, sobretudo, nas zonas atacadas. Está baseado em fatos reais.

O diretor, Harlan, que ao princípio não queria fazer o filme, está trabalhando muito nele. Prometeu-me estrear no Natal. Para quando necessitaremos dele desesperadamente.

24 de novembro de 1943.

O panorama que Berlim oferece é bastante deprimente. Não imagino como os ingleses puderam causar tanto dano. O Ministério da Propaganda havia se salvado em sua maior parte, mas o estado da Wilhelmplatz era o mais desolador.

Berlim destruída pela Guerra

De manhã tive uma longa reunião com os diretores do partido e outros responsáveis por Berlim para discutir o que fazer. Estamos improvisando muito.

A resposta ao ataque aéreo foi muito eficiente. Os berlinenses sabem por instinto quando vale a pena salvar una zona e quando é melhor sair de lá.

25 de fevereiro de 1944.

O Führer dirigiu umas palavras de calma aos berlinenses. Reafirmou que Berlim havia demonstrado ser a capital do Reich durante os assaltos dos últimos meses.

Os berlinenses demonstraram uma coragem e uma virilidade que muito poucos podiam imaginar.

7 de junho de 1944 – Sobre o Dia D

Ontem, durante a noite, chegaram os primeiros informes sobre a invasão aliada no oeste. O Führer se encontrava com um humor excelente. A invasão estava sendo feita justamente onde a esperávamos. A menos que tudo saísse mal, poderíamos gerenciar.

Desafortunadamente, o inimigo pôs tanques em ação, mas nós mobilizaremos a reserva. Partiram duas divisões blindadas de combate.

O Führer assegura que expulsaremos as unidades que aterrissaram e que aniquilaremos seus paraquedistas.

As palavras do Ministro sobre o novo V1 alemão foram recebidas com um estrondo e aplauso.

“Como disse em Berlim antes do bombardeio da capital: Logo chegará a hora de nos vingarmos dos ingleses.

 

Choveram críticas na imprensa inglesa e se perguntam em tom zombador se não seria o Ministro da Propaganda o que inventou a arma no lugar do Ministro da Guerra. Não creio que seja minha obrigação corrigir os ingleses. Quanto mais tarde saibam de sua existência, melhor para nós. Porque a surpresa também é uma arma muito potente.”

18 de junho de 1944.

Nossas primeiras armas de represália humilham o mundo. Os ingleses utilizam todo seu poder contra nossa arma secreta, mas não têm êxito algum. Os londrinos estão aterrorizados. Atônitos.

Soldados preparam foguete V1 para dispará-lo

O bombardeio de Londres não cessou desde quinta-feira à tarde.

Não há defesa contra nossos mísseis.

7 de julho de 1944 – O Otimismo já não é grande o suficiente…

O entusiasmo está em queda livre. O V1 e as tentativas de repelir a invasão do oeste têm sido nulos. No leste, tão-pouco, restam muitas esperanças. Nossa equipe de informação tem recebido duras críticas.

Nossos jornalistas e apresentadores voltaram a falar mais da conta, como sempre critiquei. O povo está cansado de tanta desculpa. A única coisa que ouvir é a verdade.

Haegert crê que poderíamos utilizar o slogan: “Sangue, Suor e Lágrimas” para nossos próprios fins. Tornaríamos imunes ante qualquer revés.


28 de fevereiro de 1945.

Não há motivo para passar à margem por esses assuntos nem para calar com objetivo de não ferir os sentimentos do Führer. A discussão que mantivemos foi visceral e muito calorosa.

O Führer acabou compreendendo meu ponto de vista.

Enfadou-se porque a situação havia se deteriorado muito não porque eu houvesse falado com toda a franqueza. Se Goering passar do ponto haverá de fazer recobrar a razão. Não há lugar para tontos condecorados e vaidosos entre os líderes de nossa guerra. Não penso descansar até que volte a se restabelecer a ordem.

Por exemplo, é de muito mau gosto, que um oficial do Reich se pavoneie com o uniforme cinza-prata. Pequeno comportamento tão afeminado dada a situação. Espero que o Führer volte a fazer de Goering um homem.

9 de março de 1945.

Ao meio-dia conduzem até Berlim. Para um tempo frio e espaçoso. O campo aparecia iluminado pelos raios do sol. Quando deixa as ruínas de Berlim entra em uma região que parece indiferente à guerra.

É uma maravilha voltar ao campo e respirar ar puro. As vidas dos habitantes apenas haviam se alterado. É invejável.

Depois, nos aproximamos para frente e entramos em zona de guerra. À distância se vêm brilhos de fogo inimigo ou alemão.

Então chegamos a Lauban. A localidade estava muito danificada pelos últimos ataques.

Os paraquedistas, que lutaram magnificamente em Lauban, estavam desfilando pelos escombros do mercado da cidade.

O general Scherner se dirigiu às tropas e a mim particularmente. Se referiu a meus constante empenho por ajudar a guerra. Disse que sou um dos poucos que escutam o front. Não havia sinal de derrotismo.

Imagem curiosa mostra Goebbels cumprimentando um soldado menino – Fato comum nas fileiras alemãs no final da guerra

Isto o testemunhei eu mesmo quando me dirigi às nossas tropas no acampamento de Görlitz. Meu discurso tratava da necessidade de lutar sem se render jamais.

“As divisões que já lançaram ofensivas de pequena escala e as que lançaram ofensivas de grande escala nas semanas e meses vindouros entrarão nesta batalha como se fosse um serviço religioso.

 

E quando empunharem as armas se encarnem a seus tanques, e só pensarão em seus filhos mortos e nas mulheres violentadas, e seus gritos de vingança seriam tais que deixariam pálido o inimigo.”

 

11 de março de 1945.

O que mais incomoda é o comportamento do povo em Rheydt, minha cidade natal. Os americanos lhe deram muita importância. Um tal Herr Vogelsein, que conheci na juventude, como um inculto nacional-socialista foi às autoridades de ocupação para se oferecer como prefeito. Ocupar-me-ei pessoalmente deste homem. Tenho um plano para liquidá-lo na primeira oportunidade. O farão membros do partido de Berlim especialmente treinados.

Os americanos, como esperávamos, lançaram um suposto jornal alemão em Rheydt, uma das primeiras cidades a serem ocupadas. Mas seu triunfo parece um tanto prematuro. Encontrarei a forma de endireitar as coisas. Pelo menos em Rheydt.

21 de abril, 1945Último discurso

“Defensores de Berlim, os olhos de vossas mulheres, vossas mães e vossos filhos se fixam em vós. Confiaram suas vidas, sua felicidade, sua saúde e seu futuro. Sabeis qual é vosso trabalho, e eu sei que o cumprireis.

O momento da verdade chegou. Eu permaneço com minha equipe em Berlim. Minha mulher e meus filhos estão também e aqui ficarão. Farei tudo que possa para mobilizar a defesa da Capital do Reich.

Meus pensamentos e desejos estarão sempre convosco, e rechaçaremos nosso inimigo comum. As hordas de mongóis serão detidas nas portas da cidade. Nossa luta será o sinal para que toda a nação lute com decisão.

Com o fanático desejo de não deixar cair a capital em mãos dos bolchevistas, trabalharemos e lutaremos solidariamente.”

Joseph Goebbels se suicidou juntamente com sua esposa, no dia 1º de Março, logo após envenenar seus seis filhos com cianureto.

Ainda hoje é considerado um mago da propaganda politica…

Fonte: Documentário “O Experimento de Goebbels”

 

 

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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