Em 2024, a Europa viveu um dos verões mais rigorosos das últimas décadas. As temperaturas elevadas e a falta de chuvas castigaram o continente, afetando lavouras, reservatórios e, claro, os grandes rios. Um dos mais icônicos e vitais, o Danúbio, teve seu nível reduzido a patamares alarmantes. E foi justamente nesse cenário que a história voltou à superfície.
A seca extrema expôs navios nazistas afundados desde 1944 no trecho do rio que passa pela cidade de Prahovo, na Sérvia. São embarcações que faziam parte da frota da Alemanha de Hitler, submersas de forma deliberada pelos próprios nazistas numa tentativa desesperada de conter o avanço do Exército Vermelho na fase final da Segunda Guerra Mundial. Além da estratégia militar, havia um objetivo claro: evitar que os soviéticos se apoderassem das embarcações.
A aparição desses destroços não é apenas um capítulo curioso da história, mas também um problema prático. Os restos dos navios, muitos ainda carregados de explosivos, representam uma ameaça para a navegação e para a segurança da região. “Os capitães precisam ser extremamente cautelosos, e incidentes como encalhes ocorrem com frequência”, alertou Damir Vladic, gerente do porto de Prahovo. “Basta um pequeno desvio da rota navegável para causar problemas.”
Uma redescoberta cheia de riscos
As embarcações que emergiram do leito do Danúbio estão longe de serem meros escombros enferrujados. Muitos dos navios ainda possuem torretas, mastros quebrados e munição não detonada, o que torna sua remoção um trabalho de alto risco. Em agosto de 2024, o governo sérvio iniciou uma operação para desobstruir a passagem fluvial, uma tarefa que deve durar cerca de um ano e meio.
Goran Vesic, ministro sérvio para Construção, Transporte e Infraestrutura, explicou a complexidade da missão: “Os navios estão cheios de minas, projéteis e artefatos não detonados, que poderiam causar grandes problemas, catastróficos, se explodissem”.
O governo local mobilizou especialistas em detonação e mergulhadores militares para auxiliar na retirada segura dos destroços. Até o momento, um navio varredor – utilizado na detecção de minas – já foi removido. Mas a dimensão do problema ainda está longe de ser resolvida.
Uma crise anunciada
O ressurgimento dos naufrágios nazistas é um sintoma de um problema maior: a seca que assola a Europa Oriental. O serviço climático europeu Copernicus divulgou um relatório que alerta para o impacto da falta de chuvas na região, afetando tanto a vegetação quanto as colheitas. No caso do Danúbuio, a situação chegou ao ponto de prejudicar a navegação comercial, essencial para a economia local e regional.
Os efeitos da seca extrema foram sentidos também na Hungria, onde outras quatro embarcações fabricadas antes de 1950 ressurgiram na altura do parque nacional Drava, próximo à cidade de Mohacs. O nível da água na região chegou a apenas 1,5 metros, dificultando a passagem de navios de grande porte.