Não é todo dia que uma ponte deixa de ser apenas aço e concreto para se transformar em um testemunho vivo de coragem, memória e resiliência. Na última quarta-feira, o Exército Brasileiro deu um passo além da engenharia e cravou na travessia entre Lajeado e Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, o nome de um homem que viu a guerra de perto e sobreviveu para contá-la: Capitão Elmo Diniz. Aos 103 anos, o gaúcho de Cruz Alta, que pisou os campos de batalha da Itália na Segunda Guerra Mundial, recebeu a homenagem com a simplicidade de quem já enfrentou o pior e sabe o valor de ser lembrado.
A solenidade teve pompa militar, claro, mas também um toque humano que transcende as formalidades. Ali estavam o Coronel Bráulio de Souza, chefe do Estado Maior do 4º Grupamento de Engenharia, o Tenente-Coronel Humberto Costa, comandante do 3º Batalhão de Engenharia de Combate, e o próprio Elmo Diniz, ao lado da esposa Eunice, assistindo ao descerramento da placa que eterniza seu nome. “Muita gratidão às autoridades que lembraram da gente e do que fizemos pelo Brasil”, disse ele, com a voz de quem carrega mais do que anos nas costas — carrega uma história que não se apaga.
A ponte em si não é um detalhe menor. Montada em agosto passado durante a Operação Taquari 2, essa estrutura metálica de 60,96 metros foi a resposta do Exército às chuvas que devastaram a região e derrubaram a travessia anterior. Com capacidade para suportar 80 toneladas — a maior já lançada pelo Exército Brasileiro —, ela já viu passar mais de 430 mil veículos. Não é só uma ponte: é uma artéria que reconectou vidas, negócios e a esperança de um estado que sabe se reerguer. “É um símbolo da reconstrução do Rio Grande do Sul”, definiu o Tenente-Coronel Humberto Costa, com a precisão de quem entende que logística e alma andam juntas.
A escolha do nome de Elmo Diniz não é acaso. Em 2025, completam-se 80 anos da chegada da Força Expedicionária Brasileira à Europa, onde brasileiros como ele enfrentaram o inferno da guerra para garantir um mundo que nem todos os que vieram depois souberam valorizar. Homenageá-lo agora, em uma obra que une duas cidades e sustenta o presente, é um jeito de dizer que a história não é só passado — ela pulsa, respira, atravessa pontes. E o Capitão, com sua presença firme aos 103 anos, é a prova disso.
O que fica dessa cena em Lajeado não é só a placa ou os números impressionantes da engenharia. É o recado de que o Brasil, mesmo nas suas horas mais duras, tem quem o sustente — seja na guerra, seja na paz, seja sobre uma ponte que, agora, tem nome, rosto e uma memória que não se curva.