Memórias de um Soldado Brasileiro: Um dos Primeiros Combates da FEB no Front Italiano

O primeiro combate da FEB no front italiano (14/09/1944 a 15/09/1944)

Na noite de 14 de setembro de 1944, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) enfrentou seu primeiro teste de fogo nas colinas da Itália. Entre os homens que compunham essa tropa estava o cabo Argemiro Pavelosk, nascido em 1920, em São Paulo. Ele fazia parte da 6ª Companhia, 2º Batalhão, do 6º Regimento de Infantaria (RI), e suas memórias desse momento marcante foram gravadas para sempre no relato cru e detalhado de uma experiência de guerra que poucos conseguem imaginar. O front italiano estava preparado para testar a determinação e coragem de soldados vindos de um país tropical, lutando contra um inimigo bem posicionado e determinado.

Cabo Argemiro Pavelosk

Após semanas de treinamento e de uma longa jornada pela Europa devastada, a expectativa entre os homens da FEB era palpável. Quando receberam a ordem de marcha, “sabíamos que estávamos cada vez mais perto dos alemães”, relembrou Argemiro em seu diário. Às 4 da manhã do dia 15 de setembro, o avanço começou. Sob o calor do sol nascente, os brasileiros avançavam lentamente, conscientes de que estavam visíveis aos olhos atentos do inimigo.

À medida que o dia avançava, o silêncio do amanhecer foi quebrado pelo som distante de metralhadoras e, em pouco tempo, o próprio pelotão de Argemiro estava sob fogo. “De repente, ouvimos os primeiros disparos das metralhadoras inimigas. Era uma sensação estranha, saber que estávamos sendo caçados por homens que nunca vimos.” Essa era a realidade brutal da guerra. Os soldados se abaixavam em busca de cobertura, tentando se proteger dos projéteis inimigos, enquanto avançavam lentamente em direção ao inimigo.

Às 15 horas, o movimento brasileiro foi detectado pelos alemães, e o bombardeio começou. Morteiros e artilharia pesada caíam sobre as posições da FEB, transformando o terreno em um inferno de explosões e fumaça. “Era como se o céu estivesse caindo sobre nossas cabeças. A cada explosão, o chão tremia, e o som ensurdecedor preenchia o ar, nos deixando desorientados e exaustos.” Os soldados lutavam para manter a calma, mas o bombardeio implacável tornava cada segundo uma batalha contra o medo e o instinto de sobrevivência.

Com o avanço inimigo cada vez mais intenso, as ordens para recuar chegaram ao cair da noite. Às 19 horas, sob o manto da escuridão, os brasileiros se retiraram para novas posições, deixando para trás o que foi o seu primeiro confronto real com a guerra em sua forma mais brutal. “Recuei com meus homens, sabendo que havíamos feito o possível naquele dia. Mas o bombardeio nos obrigou a abandonar o terreno, não sem deixar para trás o peso das vidas que a guerra leva.”

O recuo, embora necessário, foi realizado com disciplina, uma marca da FEB. Durante a noite, a nova posição foi fortificada, e Argemiro foi destacado para uma missão crucial: impedir a passagem de civis e veículos pelas linhas inimigas. “Fui encarregado de proteger a estrada por seis dias, e durante esse período, capturamos oito prisioneiros alemães.” Mesmo em meio ao caos da guerra, os brasileiros demonstraram capacidade de adaptação e resiliência, mantendo-se firmes em suas novas funções.

Esse primeiro combate no front italiano foi um marco para a FEB. A realidade da guerra, com suas explosões, mortes e o constante medo da artilharia inimiga, mostrou aos soldados brasileiros o verdadeiro custo da luta. No entanto, eles provaram estar à altura do desafio, avançando com coragem, mesmo quando forçados a recuar. O soldado Argemiro Pavelosk e seus companheiros continuaram sua marcha, sabendo que aquele era apenas o começo de uma longa e árdua campanha.

Os dias de combate na Itália moldaram a história da FEB e a memória de cada um dos homens que participaram dela. Para Argemiro, a guerra já não era apenas um conceito distante, mas uma realidade visceral, marcada por tiros de metralhadora, bombardeios implacáveis e a perda de companheiros em combate. “Naquela noite, ao olhar para as estrelas, pensei nos que não estavam mais conosco e no que ainda estava por vir. A guerra não tinha terminado para nós, mas tínhamos sobrevivido ao primeiro confronto.”

Fonte: Este artigo foi extraido do Diário de campanha do Cabo Argemiro Pavelosk, Ex-Combatente da Força Expedicionária Brasileira, gentilmente cedido por sua filha Dona Márcia Pavelosk

***Imagem Ilustrativa – Fonte: Portal Veneza***

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Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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