Os desafios de um brasileiro com raízes nipônicas na Força Expedicionária Brasileira: a luta contra o Eixo e o preconceito em casa.
A Convocação em Meio à Suspeita
Em 1941, no interior de São Paulo, o jovem Kunio Ojima, à época servindo o Exército Brasileiro no 5º Batalhão de Caçadores, na cidade de Itapetininga, estava prestes a ser liberado do serviço militar. Contudo, o destino do mundo interveio: a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) impôs uma reviravolta em sua vida. Ojima foi obrigado a permanecer aquartelado, testemunhando o Brasil, sob o governo de Getúlio Vargas, declarar guerra às potências do Eixo em agosto de 1942 e, posteriormente, mobilizar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para o front italiano.

Contudo, a lealdade de Ojima, filho de imigrantes japoneses em um país que havia se aliado aos Estados Unidos, não era vista com naturalidade por todos. Ele próprio recordaria o clima de desconfiança e perseguição. “Tinha gente que não gostava de filho de japonês. O comandante achava que eu era espião”, relatou Ojima em entrevista concedida em 2002 à publicação Made in Japan, detalhando a hostilidade que chegou a privá-lo de tarefas no quartel.
A Missão na Itália: Engenharia de Risco
Em 1944, Kunio Ojima foi escalado para embarcar rumo à Itália, integrando o 9º Batalhão de Engenharia da Força Expedicionária Brasileira, os “pracinhas”. A despeito das mágoas e do preconceito sofrido, o soldado nissei se manteve firme em seu dever cívico. “Não pensei que estava traindo a Pátria de meus pais. Não senti nada. Estava cumprindo com minha obrigação como soldado”, afirmou.

Sua função no Teatro de Operações italiano não era o combate direto de infantaria, mas sim uma das mais perigosas: a construção de pontes e, sobretudo, o desarmamento de minas terrestres. Segundo o próprio Ojima, o trabalho de mineiro era um erro com consequências fatais. “O mineiro erra só uma vez, porque quando erra morre”, disse ele, ilustrando a tensão constante da frente de batalha, onde o barulho incessante das bombas lhe causou sequelas emocionais duradouras, como a aversão a ruídos altos.
O Retorno e a Sombra da Perseguição
Ao retornar ao Brasil, após o cessar-fogo e a vitória Aliada em 1945, o ex-combatente buscou retomar a vida civil na cidade de Piedade, interior paulista. Entretanto, o período pós-guerra trouxe consigo novas turbulências. Ojima soube que seu nome estava ligado à Shindo Renmei – a notória organização nacionalista nipo-brasileira que, recusando-se a aceitar a derrota do Japão, realizou uma série de atentados e perseguições no Brasil entre 1946 e 1947.

A incredulidade da comunidade local e as suspeitas sobre sua participação na guerra demonstravam o quanto os descendentes de japoneses continuavam a ser vistos com desconfiança, mesmo após um deles ter arriscado a vida pela Pátria brasileira.
“As pessoas não acreditavam que eu tivesse lutado na Segunda Guerra”, lamentou. A dor da memória era clara: “Não gosto de falar dessa época. É ruim de lembrar”.

Kunio Ojima, um dos muitos nipo-brasileiros a servir no Exército, carregou consigo as cicatrizes de uma guerra dupla: a travada no campo de batalha da Itália e a sofrida contra o preconceito dentro do próprio Brasil. Em abril de 1945, o praça foi fotografado em meio ao conflito, um registro histórico de um homem que cumpriu o seu dever, defendendo a nação que o acolheu, apesar de toda a suspeita. Aos 82 anos, em 2002, ele ainda vivia em Piedade, guardando as memórias de um tempo em que a lealdade custou um preço altíssimo. Não temos informações se ainda continua vivo em 2025.
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