O Retorno da FEB – A recepção dos expedicionários, de volta ao Brasil, foi um acontecimento estrondoso, empolgante e colossal. Apoderou-se, irresistivelmente, das atenções de todos os brasileiros. Sobretudo, na cidade do Rio de Janeiro – então Capital da República -, onde essas coisas acontecem com maior entusiasmo e ênfase, a festa da chegada varou dias, bulindo com todo mundo e parecia não ter mais fim.
O Exército, que permaneceu no Brasil, alinhou-se, formando cordões de isolamento, ao longo das avenidas, para conter o povo, em suas manifestações, diante dos heróis que desfilavam ao desembarcar. Através de todos os meios de comunicação da época, os feitos dos soldados brasileiros, em terras da Itália, eram descritos e exaltados.
Juntando-se a essas exaltações patrióticas, ainda sob o calor das recepções, começou a aparecer um amontoado de vantagens a serem atribuídas aos ex-combatentes: iam ter direito a coisas que jamais sonharam – aos melhores empregos e vida boa, tranquila. Todas as portas estariam abertas para eles… Mas tudo vago. Nada definido e claro.
O Retorno da FEB – Muita festa, Realidade Difícil…
No retorno da FEB, promessas vãs, hipotéticas. E, não raro, meros engôdos. Todos estes fatos – o estardalhaço das recepções e o anúncio das vantagens a serem concedidas – contribuíram para que fosse estabelecida uma ideia precipitada, momentânea e leviana, em torno dos feitos dos soldados e da importância da diminuta participação do Brasil, na guerra. Com isto, a maioria dos expedicionários, sobretudo os de espírito mais simples, convenceu-se, acreditando mais do que deveriam, em tudo que lhes acenavam e prometiam. Daí descuidarem-se da estabilidade do presente e da segurança do futuro, como se nada houvesse para se preocupar: eram heróis e estavam de retorno ao seio da Pátria.
Em contrapartida, em certas áreas, os ex-combatentes passaram a serem olhadas como super privilegiados, criando-se, em torno deles, um clima de má vontade, precauções e até antipatias, pois no terreno das competições representariam uma ameaça, a preterir direitos e posições pretendidas ou conquistadas por outrem.
Agravando ainda mais a situação dos jovens que deveriam reingressar às atividades da paz, as autoridades civis e militares, incorreram em muitos descasos ou lapsos, altamente nocivos e lesivos aos interesses daqueles. Tanto assim é que não lhes concederam as férias (aliás, em dobro) a que teriam direito, antes da desmobilização; e, não procederam a um novo exame de saúde, também antes de desmobilizá-los.
Se para serem mandados à guerra foram submetidos a rigorosos exames físicos, como nunca se vira, anteriormente, no Brasil, através dos quais só eram selecionados os de categoria especial, como e por que não os examinar de novo, no retorno da FEB?!
A guerra havia exigido daqueles rapazes despreparados e desinformados, sacrifícios enormes tanto de aspecto físico como emocional: foram atingidos por males e infecções; contraíram traumas e lesões os mais variados.
Passadas as festas da vitória, os expedicionários permaneceram uns poucos dias, retidos nos quartéis. E, de súbito, viram-se espremidos na parede, diante de uma instrução do então Ministério da Guerra: “Pede reengajamento agora ou será desmobilizado”. Uma resolução que não poderia ser tomada naquelas circunstâncias.
A Festa na Capital não Preencheu o Vazio no Coração do Febianos
A Força Expedicionária, constituída, como fora, em sua imensa maioria, de convocados do interior, fácil seria deduzir que estavam todos ansiosos para retornar aos seus lares. E, da mesma forma, deveriam estar sendo aguardados, ansiosamente, pelos seus familiares.
Além do mais, sentiam-se desiludidos e amargurados; na guerra, sofreram mais que quaisquer outros soldados; foram submetidos a vexames e decepções que os indignaram, refletindo, esse sentimento de indignação, contra o próprio Exército.
Em tais condições, não se sentiam animados a continuar na farda. Tinham isto sim, muita pressa de retornar aos seus lares, rever a terra natal e a família. Estavam mortos de saudades de tantas, infinitas e pequeninas coisas, que só existem ou são melhores que em todos os outros locais do mundo, no torrão em que se nasceu. Queriam voltar para casa.
E, como não lhes foram concedidas as férias, quando então teriam oportunidade de descansar e meditar sobre o que lhes convinha, permaneceram, indecisos, num curto período de ociosidade. O retorno da FEB foi algo desastroso.
O Retorno da FEB – A Desmobilização da FEB, Milhares de Veteranos Desamparados
A seguir, cumprindo-se a instrução do então Ministério da Guerra, deu-se a desmobilização em massa, de todos os expedicionários que deixaram de pedir reengajamento. A desmobilização atingiu não apenas os soldados, mas a quase totalidade dos graduados e dos oficiais de procedência civil.
Milhares de veteranos de guerra, muitos enfermos, com ferimentos ainda mal cicatrizados, incapacitados física ou mentalmente para exercer quaisquer atividades, desorientados, zonzos e aturdidos, portando mazelas e sequelas da guerra, viram-se, de um momento para outro, postos nas ruas, praças e estradas do Brasil. Em vez de serem tratados, instruídos e reabilitados, recebeu de supetão, a baixa. Até mesmo a passagem de regresso ao lar, deixou de ser fornecida a muitos deles.
No lar, o ex-combatente sentiu-se deslocado e acanhado, como um estranho, entre os seus próprios familiares. Estes não estavam preparados para recebê-lo, sobretudo as famílias mais humildes e pobres.
Perturbavam-no, bombardeando-o com tantas e estúpidas perguntas, boquiabertos e impertinentes, cheios de curiosidade: queriam saber tudo sobre a guerra; queriam saber tudo sobre o País estrangeiro, onde estivera; queriam saber por que embarcou como soldado e por que voltou como soldado; queriam saber se guerreou, se matou muita gente, se foi herói e por que não foi promovido nem trouxe medalhas? Enchiam-lhe os ouvidos de perguntas estonteantes, às quais não havia como explicar… O retorno da FEB gerou mais dores aos veteranos e diversas questões aos familiares.
No final da guerra, muitos feridos foram transferidos dos hospitais da Itália para o Hospital Militar do Recife. Aí permaneceram algum tempo sem receberem as atenções e os tratamentos que necessitavam. Tão precária chegou a ser a situação deles, que insistiram em ter alta e serem mandados para casa. Daí a direção do hospital fez com que assinassem um termo de responsabilidade, pela atitude que haviam tomado e os mandou embora.
A concessão de condecorações dependia da conclusão de processo a tramitar na lenta burocracia militar. Quando, finalmente, a medalha era concedida, o agraciado já havia sido desmobilizado. E, embora os respectivos atos governamentais fossem publicados nos boletins das Armas e no DOU, nem sempre deles se tomava conhecimento. Quem lê DOU?
Assim, até hoje, ainda permanecem retidas nas associações de ex-combatentes e no próprio Ministério do Exército, medalhas que jamais foram reclamadas ou chegaram às mãos dos agraciados – anônimos veteranos de guerra ou cadáveres deles.
Promoções e Condecorações falhas e Irrelevantes
Os chamados praças (soldados, cabos e sargentos) foram, tremendamente, injustiçados, tanto na questão das condecorações quanto das promoções.
O critério adotado para a concessão de condecorações aos praças, no retorno da FEB, foi o mais falho e injusto que se possa imaginar: após cada combate, era atribuído um reduzido número de medalhas às unidades participantes.
E a distribuição se fazia de acordo com o arbítrio dos comandantes de companhias e batalhões, sem sequer, muitas vezes, apurar e comprovar as ocorrências. Um processo era montado.
Inventavam-se histórias, criavam-se circunstâncias e deturpavam-se os fatos, para que as condecorações fossem atribuídas conforme fora pré-estabelecido pelo comando, prevalecendo, não poucas vezes, a simpatia ou preferência pessoal.
Se, para o sacrificado combatente, a obtenção de condecorações era penosa, difícil e imprevisível, já, por outro lado, houve distribuição de medalhas de guerra a pessoas que nunca saíram do Brasil, dentre estas secretárias de autoridades, comerciantes, industriais e até os “testas-de-ferro” das negociatas realizadas por ocasião da compra e fornecimento de materiais ordinários à FEB, como se as atividades de relapsos e corruptos representassem “esforço de guerra”.
Independentemente de todas essas coisas absurdas e inacreditáveis, houve ainda fraude, desvios, má fé e deturpação até na moldagem e aquisição das medalhas. As condecorações da FEB foram criadas pelo Decreto-Lei nº 6 795, de 17 de agosto de 1944 e, regulamentadas pelo Decreto nº 16 821, de 12 de outubro do mesmo ano, o qual estabeleceu que a medalha “Cruz de Combate”, seria de prata dourada, ou seja, prata banhada a ouro.
Do mesmo material seria a “Medalha de Guerra”. Ocorre que, por um incrível descaramento de quem as fabricou e de quem as adquiriu para a FEB, as condecorações conferidas aos veteranos de guerra foram moldadas em metal barato, latão, sem nenhum valor. Até nisto os expedicionários e o Brasil foram lesados.
O Retorno da FEB – Qual o sentido das Medalhas e Condecorações?
Aqueles que, premiados pela necessidade, pretenderam trocar suas condecorações por uma hospedagem, por um prato de comida ou por uma simples média de café com pão, viram-se surpreendidos e decepcionados com a informação de que as suas medalhas douradas nada valiam!
Assim, os praças foram logrados e espoliados quanto às condecorações. E mais logrados e espoliados foram naquilo que poderia proporcionar-lhes compensação pecuniária, pelos sacrifícios feitos, nas promoções.
Os regulamentos militares são extremamente parcimoniosos, sovinas e não poucas vezes mesquinhos, na questão de promoção dos praças. Um sem número de soldados, cabos e sargentos, destacaram-se na guerra, atuando, no front, em posições superiores; foram citados e condecorados, por ação em combate, entretanto, retornaram às suas casas na mesmíssima mixuruca posição que embarcaram para a Itália. Uma injustiça desanimadora.
São tantos e tantos os casos de sonegação de promoção dos praças, que nem comportaria citar nenhum nome, mas é impossível silenciar diante da incúria e da flagrante ofensa de direitos cometida contra o brioso e festejado herói da FEB – sargento Max Wolff Filho.
O tempo todo Wolff exercera as funções de tenente (e, frise-se bem: de um tenente especial comandante de um pelotão especial, destinado às missões mais arriscadas e difíceis) e só o promoveram a 2ª tenente, após a sua morte, em ação. Se já exercia, de fato, as funções de tenente, a promoção que o País lhe devia e que ainda deve aos seus descendentes é, no mínimo, a de capitão. Incontáveis e gritantes foram as injustiças quanto ao direito de promoção dos praças.
O extraordinário soldado Wagner, várias vezes citado e condecorado, havendo substituído sargentos, em combate, promoveram-no, simplesmente, a cabo, no final da guerra. Wagner rejeitou as divisas, dizendo: “Não preciso disso”. Já os oficiais, todos eles, indistintamente, mesmo os que não participaram de operações no front, tiveram as promoções asseguradas, tanto os que continuaram nos quadros militares como os que foram transferidos para a reserva, receberam dois a três postos, imediatamente, superiores.
Quem foi tenente, voltou major; quem foi major, voltou general.
Raríssimas foram as promoções de praças. Quem foi soldado, voltou soldado; quem foi cabo, voltou cabo; quem foi sargento, voltou sargento. E assim foram transferidos para a reserva.
Cometeu-se, com isto, uma violação dos direitos e dos méritos dos mais humildes, justamente os que mais lutaram; justamente os que mais se sacrificaram; justamente os que mais se expuseram nos combates! O retorno da FEB foi desastrosa aos praças.
FEB – Retornar ao seio familiar virou um pesadelo
Como os ex-combatentes explicariam essa injusta posição aos seus familiares? Eram fatos inadmissíveis e inexplicáveis a lhes causar um mundo de embaraços e constrangimentos, ao retornar à sua terra.
Nas cidades do interior eram vistos e seguidos por toda parte. Os antigos colegas, os parentes, os amigos e os conhecidos corriam alvoroçados, a cercá-los, onde quer que os encontrassem. E as conversas, as perguntas, eram sempre as mesmas, sobre os mesmos assuntos – assuntos que os enchiam de aborrecimentos e tristezas, os quais necessitavam esquecer.
Haviam sido envergonhados muitas vezes e muitas vezes espoliados de direitos que supunham haver conquistado, mas não ousavam confessar.
Daí a razão porque, muitos deles, não suportando aquela espécie de assédio, abandonaram suas famílias, suas cidades, passando a vagar de um canto a outro, na esperança de que em lugares estranhos encontrassem tranquilidade. O retorno da FEB foi se tornando, cada vez mais, um desespero…
Não demorou a que os óbitos de veteranos de guerra, em estado de indigência, começassem a aparecer.
O Retorno da FEB – Heróis em Situação de rua e indigentes
Após o retorno da FEB, os pedidos de reforma dos incapacitados encalhavam nas repartições militares ano após ano. Na maioria das vezes a reforma era negada: consideravam-no capaz de prover sua subsistência. E em outros casos em que a reforma era concedida, o requerente já havia falecido na miséria extrema – na indigência. Foram-se muitos. Foram-se milhares. Calcula-se em mais de três mil os que morreram caídos nas calçadas, ruas, praças e terrenos baldios de todas as cidades do Brasil. Impossível seria citar tantas ocorrências, mas apanhando-se ao acaso uma notícia publicada em jornais e resumindo-se os fatos, por si só basta para substanciar esta vergonha nacional:
“Na cidade de Olímpia, no Estado de São Paulo, alguém encontrou, num terreno baldio, em adiantado estado de putrefação, o corpo de um indigente. Dentro de um saco plástico, o corpo baixou à sepultura nº 4 382, da quadra 19, destinada, exclusivamente, a indigentes. Na guia de sepultamento não constou nome nem outros dados que o identificassem, constando apenas a palavra brasileiro. Ser brasileiro era tudo que se sabia do infortunado cadáver. Meses depois a polícia encontrou os pertences do morto e os relacionou: Um saco de farrapos, dentro do qual, envolvidos em jornais velhos e amarrados com barbante, estavam as coisas que o identificavam:
1. Uma foto da pessoa em tela;
2. Uma foto da embarcação SS Mariposa;
3. Uma medalha de combatente da FEB;
4. Uma plaqueta de identificação de combatente da Segunda Guerra Mundial;
5. Um emblema de condecoração;
6. Dois emblemas da FEB; e
7. Dois certificados de nº 08612 e 2916161…”
E o nome? Não! Respeitemos, pelo menos, o nome. Porque, para morrer assim, tão desgraçadamente, é preferível permanecer no anonimato.
De modo semelhante ao narrado acima, foram-se muitos. Em condições semelhantes, morreram milhares. A maior incidência, desse tipo de óbitos, verificou-se nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre…
Somente em Curitiba, onde os ex-combatentes tiveram acolhidos das melhores, foram sepultados cerca de duzentos. E, esclareça-se: duzentos identificados pelo secretário de assistência da Legião Paranaense do Expedicionário. Pode parecer estranho, mas o melhor período para os veteranos de guerra, quando encontraram maior facilidade de trabalho e leis de amparo mais efetivas e práticas, foi durante os governos civis de Nereu Ramos (embora de curto período), Juscelino e Jânio Quadros. O retorno da FEB virou vergonha nacional…
O Governo Militar no Poder foi ainda pior para a FEB
E, o pior, quando as coisas mais sórdidas, infames e canalhas passaram a ser cometidas contra os veteranos de guerra, veio a partir de 1964, com os militares de “espada virgem” no poder.
Com o advento dessa calamitosa situação que ai está, os órgãos públicos, as empresas de economia mista, as fundações e estatais, caíram nas mãos de militares que não participaram da guerra.
O simples fato de ser oficial da reserva e não veterano de guerra, passou o cidadão a ter direito – credenciais e habilitações – de ocupar altos cargos em entidades públicas, mesmo em se tratando de corruptos, ineptos ou meros aproveitadores, alguns até com registros negativos em fichas dos órgãos de informação do próprio governo.
As delegacias dos Ministérios, nos Estados – do trabalho, da agricultura, da educação – várias delas, passaram a ser ocupadas por coronéis e generais, de” espada virgem”, como se fossem eles “técnicos” e “especialistas” em tudo, em todos os setores da inteligência humana, menos nas suas verdadeiras profissões, naquilo para que se prepararam: nas questões de guerra.
E à proporção que o Brasil empobrece, o patrimônio dos patriotas cresce. É espantoso de onde saiu tanta gente para ocupar tantos e polpudos cargos? Consta que, somente na Petrobrás, têm milhares deles.
Onde estavam esses favoritos e favorecidos filhos da Pátria, durante a guerra? Eram jovens, profissionais das armas, e sendo, como se dizem – patriotas – por que não foram à guerra?… O oficial da reserva é um cidadão como outro qualquer; tem todo o direito de competir aos cargos de função civil.
De competir e não de açambarcar todas as posições, preterindo o direito dos que se prepararam nas faculdades; preterindo o direito de outras camadas sociais. Ora, justamente nas empresas do governo, nas quais as exigências de idade e outras são dispensadas, onde os veteranos de guerra poderiam ser aproveitados, tiveram (mesmo nas modestas funções) seus ingressos barrados por militares que não participaram da guerra e que, nessas empresas, ocupam altos cargos.
E o pior são os métodos e meios infames engendrados para alijar as pretensões dos ex-combatentes, mesmo quando de comprovada competência e preenchendo os requisitos para a vaga existente: submetiam-nos a exames prolongados e cansativos, trancados em salas mal iluminadas, com psicólogos suspeitos e pré-orientados.
A FEB envolvida em todo o tipo de Injustiças
Infâmias e safadezas sem tamanho foram cometidas contra muitos veteranos de guerra, desorientando-os. Para agravar ainda mais a situação dos ex-combatentes, em 1967, um general-deputado, pretextando “regulamentar a situação dos ex-combatentes”, elaborou um projeto de lei que tomou o número 5 315/67, através da qual, num golpe de astúcia, considerou, os militares que permaneceram no Brasil, durante a guerra, como ex-combatentes!, com todos os direitos e vantagens, como se, efetivamente, tivessem ido à guerra.
Uma coisa calamitosa, na velada intenção de desprestigiar, diminuir e achatar o mérito dos que se sacrificaram pela Pátria. O próprio autor da lei transformou-se, de um dia para o outro, em ex-combatente. E, seguindo-se à publicação da tal lei, bandos de reservistas que não foram ao Teatro de Operações na Itália, acorreram ás Instituições de Ex-Combatentes, pretendendo se filiar a elas, pois assim a lei os amparava.
Um ato absurdo e altamente oneroso aos cofres do País, como se virá adiante. Se a Nação já não tinha condições de acomodar a situação de um punhado de sacrificados veteranos de guerra, que mereciam ser atendidos, como iria resolver os problemas dos 150.000 que, de um momento para outro, passaram a existir?! Obra escabrosa de militar político.
O Retorno da FEB – A Criação da Associação dos Veteranos de Guerra
Procurando rebater as insídias do ato governamental e no intuito de separar o joio do trigo, foi fundada a “Associação dos Veteranos de Guerra do Brasil”, distinguindo-se, dessa forma, dos que, por obra da malfadada lei, passaram a ser apelidados de ex-combatentes.
A nova instituição, embora séria, embora congregando os verdadeiros ex-combatentes, pouco ou quase nada conseguiu alcançar em benefício dos camaradas mais necessitados, face às dificuldades criadas pela má vontade dos que hoje mandam. O retorno da FEB trouxe maior dor que durante a guerra.
Mais historias de canalhices contra Ex-combatentes da FEB
Em 1975, um ex-sargento expedicionário trabalhava como vendedor de livros da Enciclopédia Britânica. E vendendo livros, chegou à Foz do Iguaçu. Lá percebeu que a camada obreira mais bem remunerada constituía-se de funcionários da empresa do governo, Itaipu, e das empresas particulares empreiteiras das obras da barragem.
Ocorre que, para ingressar nos acampamentos, seria necessária uma autorização do chefe de segurança da Itaipu – um capitão da Brigada Gaúcha. Ao entrar na sala do capitão da guarda, o ex-sargento deparou, espalhados sobre a mesa, documentos de caráter sigiloso, inclusive as INs (Informações necessárias da Presidência da República). Identificados os documentos, embora afastado da mesa, o ex-sargento falou: “Vejo algumas INs sobre sua mesa”.
O capitão espantou-se com a observação do ex-sargento: “Você entende disso?!”, perguntou. “Sim. Sei alguma coisa sobre informação. Aqui é um órgão setorial, deve ter a obrigação de umas cento e cinquenta INs…” Mais espantado se mostrou o capitão, confirmando: “Cento e quarenta e cinco, para ser exato!”
Prosseguindo, tentou justificar a desordem de documentos em sua mesa, lamentando-se: “Não disponho de gente habilitada! Isto e um fim de mundo!” E, propôs: “Você quer trabalhar comigo? Há uma vaga no setor de informação… se aceitar começará com um bom salário e, após os três primeiros meses, receberá em dobro…”
Aquela proposta de um emprego razoável vinha a calhar. O ex-sargento atravessava um período difícil; os resultados das vendas de livros desapareciam com as despesas de viagem.
Face à anuência do ex-sargento em aceitar o emprego, o capitão esclareceu alguns detalhes: “A sua admissão depende de autorização do nosso diretor administrativo, o general, mas não haverá problema: a vaga existe e ele atende todos os meus pedidos. Vou me comunicar com ele e você o procurará, em Curitiba. Leve o meu cartão; nele está o endereço. Outra coisa: não se esqueça de levar o seu currículo.”
Diante da alvissareira perspectiva de trabalhar na Itaipu, o ex-sargento esqueceu todos os outros compromissos e encerrou as suas atividades de vendedor de livros da Britânica.
Em Curitiba, o general (tratava-se, sem dúvida, de um general de “espada-virgem”, irmão do governador também general de “espada-virgem”), diretor administrativo da empresa da União, com quem o capitão da guarda já havia se comunicado, recebeu o ex-sargento de braços abertos, como se fossem velhos e bons amigos.
Uma pessoa fina, educadíssima e maneirosa, apresentava-se toda vestida de branco e de cabeça raspada. Depois dos abraços e das saudações, foi entregue o currículo. Feita uma rápida leitura, vieram os “volte amanhã”…
Aí é que está a canalhice: as protelações, acarretando perda de tempo e despesas inúteis; a falta de franqueza, de considerações e de respeito para com os outros. Esses aproveitadores que ora detêm o poder, tem todo o direito de escolher os seus auxiliares, como bem entenderem, mas não têm o direito de embromar, abusar da paciência e nem achincalhar ninguém, sobretudo um veterano de guerra, necessitando trabalhar. Seria preferível que lhe dissessem: “Não queremos ex-combatentes aqui!…”
As protelações oneraram o ex-sargento com viagens dispendiosas à Foz do Iguaçu, sempre a chamado, por telegrama, pelo capitão da guarda; preenchidas todas as formalidades e habilitado nas provas que o submeteram, “inventaram”, como recurso final, um exame psicológico escabroso e fantasioso; falso, primaríssimo e infantil, sob todos os aspectos.
O ex-sargento foi trancado numa sala, por um tempo enorme, em companhia de uma senhora que se dizia psicóloga. E por mais de quatro horas a mulher passou a mostrar figurinhas embaralhadas ou embaço mal delineados, fazendo sempre a mesma pergunta: “Com que se parece isto…” O pseudo-exame resumiu-se apenas na apresentação de figurinhas. À tarde, o capitão avisou o ex-sargento: “O senhor pode viajar… Nós lhe comunicaremos o resultado, oportunamente…”
O ex-sargento ficou tão indignado, com a sujeira que o pessoal da Itaipu lhe aprontou, que, não sendo político, tomou uma decisão de aspecto político: viajar para o exterior, onde pudesse aperfeiçoar os seus conhecimentos em explosivos: “Vou dar a essa gente, a resposta que merece!” – disse, despedindo-se de um amigo. Habilidade e coragem, não lhe faltariam. Desfez-se do que possuía e viajou.
Em Belém, fez uma parada. Precisaria ganhar um pouco mais para prosseguir a viagem que arquitetara. Iniciou, modestamente, trabalhando como motorista de veículos de carga de uma empresa de importante grupo de estrangeiros. E veio o inesperado: em poucos meses, o ex-sargento destacou-se, passando a exercer, com extraordinária atividade, segurança e desembaraço.
Funções mais elevadas, que foram se escalonando até alcançar o cargo de procurador junto aos bancos, repartições públicas e órgãos do Poder Judiciário, representando ainda a empresa nas reuniões das associações empresariais, clube dos exportadores, sindicatos e toda uma gama de atribuições que exigem capacidade intelectual, equilíbrio emocional, raciocínio rápido e inteligência bem desenvolvida, além da indispensável honestidade.
Essas qualidades do ex-sargento, foram sempre reconhecidas e exaltadas pelos estrangeiros, donos da empresa. Progrediu tanto que esqueceu a necessidade de vingança. Mas, para ocupar um modesto empreguinho de auxiliar de segurança da Itaipu, onde tantos incompetentes, inúteis e safados gravitam; familiares dos diretores percebendo altos salários sem nada fazer, o ex-sargento veterano de guerra e conceituado procurador de empresa, não tinha condições psicológicas para trabalhar!
Honorato, mais dos milhares de Ex-combatentes da FEB humilhados…
Onde andará o Honorato? Que alma boa e simples. Era um desses tipos curiosos que conseguem fazer milagres com o pouco ou quase nada que ganham. Andava sempre bem vestido e com os sapatos lustrosos; sempre de boa aparência. Educado e caprichoso; lia e escrevia com desembaraço. Mas não tinha emprego certo, vivia de bicos ou de favores dos amigos.
Honorato apresentava todos os requisitos, parecia mesmo moldado para exercer um cargo de portaria: receber, orientar e encaminhar as partes, em qualquer repartição ou escritório. Desde que chegara a Manaus passou a morar na Sede da Associação dos Ex-Combatentes, fazendo às vezes de zelador. E de bom zelador.
A sede conservava-se limpa e bem arrumada. Vez por outra, Honorato ganhava algum dinheirinho, em serviços avulsos, ou filava a refeição na casa dos companheiros, com maior frequência na casa do Petrônio, presidente da Associação.
Durante meses, mais de ano, o pacienciosíssimo Petrônio (que não usava chapéu), “andou de chapéu na mão” implorando, pedindo, bajulando e humilhando-se até ao então Prefeito (nomeado) da cidade, coronel Jorjão:“Coronel!… vê se arruma um lugarzinho pro Honorato! O homem precisa trabalhar… Eu já não aguento mais carregar o Honorato nas minhas costas!…”
“Sim… sim, vou arrumar, Petrônio! Mas tenha paciência… um tempo mais… as coisas não andam fáceis…”, defendia-se o coronel Prefeito.
O coronel (obviamente se tratava de um desses coronéis espertalhões e politiqueiros, fujões da guerra e que hoje ocupam todas as “bocas boas” da Pátria Amada), sempre procrastinando, sempre enrolando, mas tantas vezes abordado pelo insistente Petrônio, terminou por arranjar um emprego para o Honorato: guarda-noturno das obras de remodelação do Mercado Municipal, percebendo mil e quinhentos cruzeiros por mês! Um lixo de emprego para o candidato tão recomendado pelo Presidente da Associação dos Ex-Combatentes! E com qualificação e mérito para posição superior.
Mas Honorato, bom e simples como era, não só aceitou como ficou contente com o miserável empreguinho. Só que não durou: seis meses depois, a guarda foi desativada. Um ano e meio de labuta, de insistência e de paciência do Petrônio, para conseguir uma porcaria de emprego, que mal durou seis meses! E o pobre do Honorato voltou a vagar, desempregado. Dias depois, sumiu no mundo…
O Retorno da FEB – Pensão de Louco de Guerra
Dirão, contestando: “Hoje, os ex-combatentes estão sendo amparados: o governo concede-lhes uma pensão!…” Concede, realmente. E sabem que pensão é? É a pensão mais degradante, suja e miserável que se poderá atribuir a alguém: a desgraçada “Pensão de Louco de Guerra”! Essa pensão é um escárnio! É um deboche sem tamanho! É a intenção infame e sarcástica de estigmatizar, de desacreditar e de rebaixar a personalidade dos veteranos de guerra.
É a desonra e a vergonha maior que se poderá pretender lançar sobre a integridade e a dignidade dos que lutaram em nome da Pátria! Infeliz da Nação, que comete um aviltamento desses! É o “prêmio” que recebem, alquebrados e na velhice, os que retornaram de uma campanha penosa. E é o único tipo de pensão que o governo concede aos veteranos de guerra. Por outros motivos, não.
O processo encalha, os anos passam e a pensão não sai. É condição sine qua non: ou aceita o labéu infamante, o descrédito e a destruição da própria personalidade, ou não recebe pensão nenhuma. Aceitando, a concessão é facílima. Rapidíssima. Três meses, no máximo. É só o veterano de guerra ou um daqueles reservistas apelidados também de “ex-combatentes”, por força da lei do general-deputado), assinar um requerimento, por sinal lacônico e simples.
Eis a minuta:
Ao Exmo. Sr. Chefe do Departamento Geral do Pessoal. Objeto: – Inspeção de saúde para fins de reforma.
1. (nome) ex-combatente da 2ª Guerra Mundial, identidade (número), reservista. achando-se em situação de invalidez, requer a V. Está. inspeção de saúde para fins de reforma prevista na Lei nº 25779 de 29 Ago 55.
2. A título de informação, para instruir o processo de reforma, declara: (seguem-se os dados pessoais do requerente).
Inacreditável! Os que permaneceram no Brasil, durante a guerra, também têm direito à “pensão de louco de guerra”! Fato calamitoso que está onerando, tremendamente, os cofres do Exército.
Os interessados contam com duas opções: a de reforma no posto ou graduação em que deu baixa ou ainda pela Lei 4242, que dá direito a uma pensão de segundo sargento, independentemente da graduação anterior, inclusive para os soldados. Esta última lei remonta aos benefícios concedidos aos herdeiros de veteranos da Guerra do Paraguai.
Até 1967 havia algumas exigências embaraçosas para ser obtida a “pensão de louco de guerra”, tais como anexar ao requerimento um atestado fornecido por psiquiatra e sujeitar-se ainda a um internamento de 15 dias a um mês, numa das Enfermarias Psiquiátricas do Hospital Central do Exército.
Ocorre que, com o crescente aumento de pedidos, sobretudo por parte de reservistas favorecidos pela lei do general-deputado, muitas das exigências anteriores foram, gradualmente, sendo dispensadas. E hoje a coisa está simplificada.
Entretanto, os processos que andam mais rápidos e nunca falham, são os preparados, encaminhados e acompanhados por um dos dois grupos que, no Ato, exploram a “Indústria de Loucos de Guerra”.
Comenta-se que um desses grupos é menos escorchante que o outro, por isso se digladiam. Briga de competidores por uma coisa tão triste e feia. Os grupos mantêm ligações com médicos, enfermeiros e funcionários burocráticos das repartições militares; dispõem ainda de aliciadores que se encarregam de arrebanhar pretendentes à pensão, pelo interior do País; não raro financiam todas as despesas de viagem e hospedagem; instruem, dando as orientações e dicas, com exercícios, para que o paciente desenvolva todos os seus cacoetes e tiques nervosos, de maneira a simular bem o comportamento de louco, diante da junta médica.
E, quando havia internamentos, as “Indústrias de Louco de Guerra” forneciam os nomes dos médicos e enfermeiros que iriam “tratar bem do internado” e nos quais poderia confiar.
Para o infeliz veterano de guerra, que desde a desmobilização fora esquecido pelos poderes públicos, marginalizado, envelhecido e atacado de mazelas várias resultantes da dura campanha que participou, vivendo na angústia e na miséria, qualquer coisa que lhe ofereçam, serve! Qualquer coisa que lhe acenem, por minguado, por sórdido e infame que seja como essa maldita pensão, é sempre recebido como uma dádiva dos céus, capaz de minorar seus sofrimentos.
Acontece que não são apenas os ex-soldados que estão se submetendo a essa terrível humilhação; os antigos oficiais também. É doloroso e revoltante assistir-se o que se está assistindo hoje no Brasil: ver os antigos tenentes comandantes de pelotões, na Itália, heróis e bravos que foram, agora envelhecidos, doentes e também marginalizados, encontrar-se, no final da vida, de mãos vazias!…
E, como último e deprimente recurso, subjugados pelas circunstâncias, encaminharem-se, alquebrados e mal vestidos para uma dessas juntas médicas militares que lhes fornecerá o sórdido e infamante atestado de “louco de guerra”!
O Retorno da FEB – Muitos Oficiais da FEB não escaparam da triste realidade
A Pátria lhes deve muito mais; e, acima de tudo, deve-lhes respeito. Enquanto os antigos heróis se submetem a esse terrível vexame, os outros oficiais da reserva de sua época – posteriormente coronéis e generais de “espada virgem” – refestelaram-se nos altos cargos das estatais (recebendo ainda por fora das multinacionais) e outros órgãos do governo, usufruindo de absurdas mordomias e contribuindo para afundar o Brasil em dívidas.
Os antigos tenentes da Força Expedicionária Brasileira descendiam quase todos, de famílias abastadas; eram jovens, sadios, viviam bem e frequentavam universidades, quando a guerra os apanhou, convocando-os como aspirantes e tenentes.
Na Itália, a atuação deles foi de uma importância incontestável. De formação civil e de espírito liberal, constituíram-se no elo entre as camadas de soldados e graduados com os escalões de comando.
Durante a campanha, convivendo e combatendo em meio aos praças, estabeleceram entre eles círculos de amizades muito sólidos, passando a considerar seus comandados como irmãos de sofrimento. De volta ao Brasil, de imediato, deixaram a farda, reingressando nas atividades civis.
Procuravam, através do trabalho e da conclusão de seus estudos, superar os danos psíquicos, emocionais e físicos que lhes causou a guerra. Enganaram-se, contudo. Não conseguiram dedicar-se, inteiramente, às novas atividades. Onde quer que trabalhassem eram, continuamente, procurados e molestados por antigos camaradas, que lhes tomavam o tempo, levando a eles as dificuldades e penúria em que viviam.
As bancas de advogados, os consultórios médicos e odontológicos, laboratórios, escritórios de contabilidade ou de representações, as indústria e casas comerciais de antigos tenentes febianos, passaram a se encher de veteranos de guerra, mal vestidos e desorientados, que lá buscavam uma ajuda, uma consulta, um tratamento, sem nada lhes pagar, tomando ainda o tempo da clientela pagante.
Penalizados com o que assistiam e não podendo virar as costas aos seus antigos comandados, imbuídos do sentimento de lealdade que os conduziu nos combates, passaram a se dedicar, com os poucos recursos que dispunham, aos trabalhos assistenciais junto às associações de ex-combatentes.
Assim, assistindo seus camaradas, tratando de uns, internando-os em hospitais ou ainda recolhendo os corpos de outros que pereciam em terrenos baldios, para sepultá-los, condignamente, os anos se passaram… E, abrindo os olhos, viram-se velhos, doentes e de mãos vazias! É triste vê-los encerrar as portas de seus estabelecimentos, à beira da falência, encaminhando-se para uma das juntas médicas militares… Há ainda a terrível situação dos “mortos-vivos”. Aqueles aos quais a ditadura militar pretendeu infringir-lhes a morte moral, banindo-os de tudo.
É uma situação inenarrável, pior, mais deprimente e desgastante que a dos cassados políticos e a dos loucos de guerra, porque nem o direito de receber a pensão correspondente aos seus postos, eles têm. A pensão é paga apenas aos seus familiares.
Não se sabe quantos são os “mortos-vivos”. Um advogado, veterano de guerra, afirmou que são muitos. Trata-se de antigos sargentos, tenentes, capitães e majores da Força Expedicionária Brasileira, que permaneceram nos quadros das Forças Armadas e em 1964, ocupavam postos, hierarquicamente, mais elevados. E qual o crime que cometeram? Foi o crime de assumir posição consentânea aos seus princípios democráticos, declarando-se contrários ao golpe armado.
Se, a pretexto ou em nome de democracia, viram tombar antigos camaradas e comandados, outra não poderia ser a atitude deles. Entre os mortos-vivos figura um nome ilustre, uma das mais expressivas inteligências e um dos mais hábeis estrategistas que o Brasil mandou à guerra.
E se o ex-presidente Jango não tivesse cometido a tolice e imprudência de convocá-lo para uma reunião no Rio, na noite de 29 de março de 1964, o ausentando da tropa que comandava no Sul, os rumos da história do Brasil seriam outros.
O velho general, ex-comandante de um dos gloriosos batalhões da FEB, viveu ou vegetou isolado de tudo e de todos, trancado num apartamento, no Rio. Ele e os demais, que estiveram na mesma situação, precisaram ser, urgentemente, reabilitados perante a consciência nacional; trazidos de volta ao convívio dos vivos e às prerrogativas a que tinham direito esses heróis. Tudo que se refere aos veteranos da Segunda Guerra Mundial, no Brasil, assume velada e maliciosamente uma significação depreciativa; sofre deturpações. O retorno da FEB, ainda hoje é algo que machuca…
Pracinha – Termo medíocre e estúpido para designar nossos Heróis
A começar por essa denominação idiota, inventada para designá-los: “Pracinha“. Haverá tratamento mais estúpido e cretino que esse?! Um diminutivo infame, como se os veteranos de guerra fossem uns coitadinhos: “uma expressão carinhosa. própria dos sentimentos do povo brasileiro” procurou argumentar uma ingênua e bondosa senhora do Tribunal de Contas da União, em Brasília. Manifestação carinhosa para os trouxas. É um diminutivo e, como todo diminutivo, estabelece uma situação de dependência e de inferioridade do designado.
É uma designação torpe e canalha que, alguém, mal intencionado, inventou e os simplórios, sem se darem conta, aceitaram. A partir daí o deboche vem prevalecendo até ao ponto de considerá-los loucos de guerra.
O próprio Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no aterro do Flamengo, com aquela extravagante aparência de guarda-sol quadricular de duas hastes – representando mais um símbolo do comodismo e do temor às intempéries – assume uma imagem depreciativa. Longe está de ser o monumento que representaria a grandeza e o arrojo do ato dos que tombaram, em campo de batalha, em nome da Pátria! No retorno da FEB, os heróis, viraram: pracinhas…
O Retorno da FEB – Encerrando
Foi, visitando um veterano de guerra, antigo subcomandante de companhia de fuzileiros, que tomei a resolução de escrever este livro de verdades e vergonhas. Encontrei-o morando numa casinhola de madeira, acanhada, mal construída, na periferia distante do centro urbano, velho e acabrunhado, mancando, com as juntas inchadas, atacado de reumatismo.
Na saleta de entrada, viam-se os vestígios de riqueza e de cultura decadentes, empobrecidos, antigos e pesados móveis de guarda-louças, abarrotados de raras edições da centenária biblioteca da família…
Pouco falamos… Pouco havia para ser falado. Os fatos, ao redor, falavam mais alto. Vendo-o, triste e acabado, lembrei-me do jovem que fora – altivo, ágil e incansável – num distante entardecer sobre um pedaço de montanha da Itália, juncado de mortos e feridos.
Não havia o que se falar. E eu já conhecia a sua história: a olaria, que herdara do pai, que possibilitara a conclusão de seus estudos e até certo tempo um padrão de vida de cidadão abastado, teve de desativá-la; cuidando da assistência de ex-combatentes, seus negócios fracassaram. Daí fez ingentes tentativas para obter um cargo condizente numa fundação e numa estatal, deparando sempre com empecilhos inexplicáveis.
Assim foi até que toda renda da casa passou a se resumir nos salários de professora suburbana principiante, da esposa, também idosa. Fui ao encontro dela, quando chegava andando a pé pela rua – estrada, poeirenta e ensolarada, ao meio-dia. Vinha vagarosa, com braçadas de livros didáticos e cadernos…
Insistiram para que eu participasse da singela refeição que dispunham. E, enquanto a esposa concluía o almoço, confessou-me, amargurado:
“Não posso mais viver desta maneira… deixar que minha mulher suporte os encargos da família com os minguados salários que recebe. Por isso amanhã, sem falta, vou procurar uma junta médica militar; preciso do atestado que me dará direito a uma pensão de major”.
Tratava-se da desgraçada “pensão de major louco de guerra”!…
“Verdades e Vergonhas da Força Expedicionária Brasileira”
Leonércio Soares – Obra do autor, editada em 1984.
Documentário FEB – Heróis Esquecidos
A história do descaso e humilhações contada pelos próprios ex-combatentes da FEB
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Eu ja servi o Exercito Brasileiro e vi que la vc não tem o devido valor que um soldado merece fico chocado com a condição que nossos soldados da 2 guerra foram tratados é vergonhoso são HEROIS e arriscaram suas vidas pela Patria e depois chutados é lamentavel!
Nada mudou…e pior, as forças estaduais (PM) cometem o mesmo erro hoje quando enviam militares para trabalhar na Força Nacional de Segurança Pública…quando retornam, ficam no prejuízo…porque temos sempre que aprender as coisas erradas…nada mudou
E revoltante o que foi feito a esses homens, esses heróis que renunciaram a tudo para Evitar que a guerra escolhesse como palco as terras do nosso Brasil, verdadeiros heróis, homes dignos das mais altas condecorações, soldados valiosos hoje tão pouco lembrados.
POLITICO CORRUPTOS; Criem vergonha na Cara, e paguem decentemente teus filhos que se sacrificaram na luta pelo teu País e deixaram Viuvas. Filhos e Netos a própria sorte, deixem de criar leis fajutas e demagogas e paguem pelo menos os direitos reais destes Bravos Guerreiros. Os Corruptos. só comem e não pagam ninguém. Mais DEUS está assistindo a esta VERGONHA toda que um dia vocês governantes, irão pagar.
Meu tio, GASPAR FRANÇA, FOI TIRADO DOS CORREIOS PARA SERVIR A ESTE PAÍS,
até hoje, a minha tia não recebeu o dinheiro da receita federal pela isenção de pagamento.
Até plano de saúde, foi tirado de seus dependentes. V E R G O N H O S O .
Boa tarde! adorei o texto sobre os Ex-combatentes. Este foi o meu tema de TCC no Curso de História pela qual me formei.
Acrescento ainda que a Força Expedicionária Brasileira foi extinta alguns meses depois do final da Segunda Guerra, início de 1946, aos poucos…primeiro a Infantaria, depois outros comandos….abandonando-os a prória sorte, como disse o autor.
Pude fazer uma entrevista com um deles, estava com 89 anos na época, ele voltou a cidade natal, tinha 22 anos, e seu antigo emprego o ajustou novamente. Ele se aposentou neste emprego e somente em 1986 recebeu uma aposentadoria do então governo, pelos serviços prestados ao país.
Tem muita história suja e triste, até mesmo com os oficiais do maior escalão da FEB e FAB.
Gostaria de deixar aqui uma reflexão: o Presidente do Brasil era Getúlio Vargas, (um fascista reprimido), tem momentos que é preciso analisar os fatos históricos com olhos de lince, este senhor não foi tudo aquilo que se fala até hoje!
Abraços a todos.
Um país que sempre esquece seus verdadeiros heróis.
Infelizmente isso não aconteceu só no Brasil, os regimes totalitários nunca querem que seus soldados recebam as glórias pelas suas vitórias, a glória é do regime. Isso foi o que o governo Vargas fez com os pracinhas e o que Stalin fez com muitos de seus comandantes mais Famosos ( Jukov é um exemplo).
O Soldado que luta por sua pátria deve receber todo o cuidado do estado, a nação precisa conservar a memória de quem da a vida por ela.
Matéria interessantíssima, contudo, senti falta das fontes. De onde foram extraídas tais informações? Relatos orais?
Agradeço a atenção!
Francamente, isto deixa os brasileiros sensíveis, com vergonha dos nossos dirigentes. Meu pai combateu na guerra da Espanha, infelizmente ao lado do ditador Franco, que
segundo ele não gostava e, preferiria que o outro lado ganhasse. Mas, até hoje os seus patrícios o respeitam como herói de guerra. Tem 93 anos e conta as aventuras da guerra com uma nitidez, como se estivesse vendo um filme atual. Agora vejam bem’
lutou do lado errado, mas tem os benefícios do país, inclusive aposentadoria, que não é contestada por ninguém. As diversas pátrias, União Soviética, Rússia, ou como queiram denominar, Inglaterra, Estados Unidos, França e outros países que participaram da guerra, respeitaram e respeitam os seus heróis, concedendo-lhes as devidas honrarias. Afinal, as novas geraçãoes sempre terão espelho em que se mirar
e orgulharem-se do seu passado. Enquanto isto, aquí no Brasil os expedicionários foram relegados ao ostra. É uma vergonha…