As enfermeiras, também tiveram os problemas com os uniformes. O primeiro deles foi ainda aqui no Brasil. Os uniformes que mandaram confeccionar para elas eram de tão má qualidade e tão malfeitos que não se concebe que tivessem sido feitos para uma representação feminina junto às tropas estrangeiras. As primeiras fardas que receberam eram de brim apelidado de “Zé Carioca”. O mesmo usado para confeccionarem os macacões dos mecânicos. O alfaiate escolhido foi um que é especialista em fardas para cozinheiros, chofer de praça. As saias-calças tinham tanta fazenda embolada no entre pernas que, por ocasião do desfile de despedida da FEB, até as que eram magras ficaram com as pernas feridas.
Durante os exercícios na Escola de Educação Física e no Colégio Militar era comum receberem a visita de oficiais generais que iam apreciar o que estavam fazendo aquelas malucas. Certa manhã, as enfermeiras se encontravam em um desses exercícios de ordem unida no Colégio Militar, quando o General Mascarenhas chegou acompanhado do então Ministro da Guerra, General Gaspar Dutra. Este, germanófilo conhecido, não era nada favorável a que a FEB partisse. Depois de as observarem bastante, o General Mascarenhas abordou a problema de nossos uniformes inadequados.
Mandaram chamar a enfermeira-chefe às suas presenças, para que o ministro pudesse analisar melhor o uniforme. General Mascarenhas ponderou: – Excelência, estas moças precisam de um uniforme melhor. Como irão se apresentar diante de suas colegas, digamos, no dia da vitória? Com este uniforme? Elas precisam de pelo menos uma farda de gabardine… O ministro olhou-a de cima a baixo, mandou que desse uma voltinha, e com cara de desprezo disse com o seu característico sotaque “chiado”: – “EXE JÁ ESTÁ BOM DEMAX”!… Furiosa, quando ameaçou uma resposta, a palavra lhe foi cortada pela rápida ordem do General Mascarenhas, que havia percebido a intenção:
– “Pode ir, D. Elza, pode ir”.
A enfermeira-chefe ficou furiosa, e com a resposta entalada em sua garganta durante 17 anos. Quando, certa manhã se viu frente a frente com o General Dutra ao sair de uma igreja, alguém, que estava por perto, a procurou para apresentar ao ex-presidente, dizendo:
– “Tenente, estávamos apreciando o seu garbo, a elegância de sua farda. Conhece aqui o General Dutra”? A enfermeira não teve outra alternativa senão prestar-lhe a regulamentar continência, e aquilo que estava contido em sua garganta há 17 anos transbordou.
“-Sim, senhor, conheço, e esta não é a primeira vez que me apresento diante de V. Exa. para mostrar farda. A última foi a 17 anos, no pátio do Colégio Militar. ESTA É A FARDA QUE O SENHOR NAQUELA ÉPOCA SE RECUSOU A NOS DAR” – e, voltando a prestar a continência, com uma tremenda batida de calcanhares deu meia-volta. Tratando logo de sair dali, antes que o General resolvesse mandar prendê-la.