A Força Aérea Brasileira, quando de sua organização, ofereceu maiores vantagens, quer pecuniárias, quer militares, para as enfermeiras, de forma que incorporaram seis enfermeiras oriundas da Escola Ana Néri. Foram elas: Isaura Barbosa Lima (chefe de grupo), Ocimara Ribeiro, Regina Cerdeira Bordalo, Judith Areas, que foi das enfermeiras a primeira a falecer (1954), Maria Diva Campos e Antonieta de Holanda Martins, ambas falecidas em 1970.
Essas moças não foram treinadas aqui no Brasil, não passaram por toda aquela tortura de treinamento físico a que as demais foram submetidas, nem tiveram aulas de francês, para trabalharem com os estadunidenses. Foram enviadas para os Estados Unidos e treinadas nos hospitais estadunidenses, adaptando-se às técnicas e ao material que iriam utilizar durante o serviço de guerra. Acompanharam todo o tempo a sua tropa, inclusive seguiram para o teatro de operações no navio Colombe como os demais oficiais, chegando ao porto de Livorno no dia 6 de outubro e indo servir primeiro no 154th Station Hospital em Civitavecchia, e posteriormente no 12th General Hospital em Tirrena-Livorno, onde permaneceram até o final da guerra.
O grupo de enfermeiras do Exército era completamente heterogêneo, quer no que se refere à parte técnica, como às condições sócio-econômicas, o que dificultava o comando. Por falta de adaptação, algumas tiveram que retornar ao Brasil.
Das 67 que foram à Itália, apenas 54 ficaram em serviço, sendo que umas, já com ordem de retornar, conseguiram ir protelando até voltarem com o grupo que retomou de navio escoltando a espiã Margarida Richermann, uma espiã brasileira que operava na rádio alemã insuflando nossos soldados à deserção.
As primeiras voluntárias do Brasil sofreram difamações e pechas horríveis. Até a mulher de um militar de alta patente do Exército tachou-nos de “prostitutas que queriam ir para a guerra para fazer a vida“.
A guerra dessas enfermeiras, na realidade, começou aqui mesmo. Mas uma coisa é fato, podem não ter sido as melhores enfermeiras do mundo, mas o melhor testemunho de sua situação e de sua eficiência pode ser dado por aqueles que estiveram sob seus cuidados em hospitais de campanha: os brasileiros que delas receberam não só um alívio para suas dores, como o carinho e o apoio, jamais negado, de uma palavra amiga e bondosa, na ocasião certa.
A Falta de Assistentes Sociais
O Exército estadunidense contava com um grupo de moças que aliviava grandemente o trabalho das enfermeiras: eram as assistentes sociais, voluntárias da Cruz Vermelha.
A elas cabia a função de dar todo apoio moral aos pacientes, escrevendo cartas para os que não podiam, lendo para os cegos, cortando-lhes as unhas, organizando shows nas enfermarias, enfim, cuidando do espírito, enquanto as enfermeiras cuidavam dos corpos.
Entretanto, as brasileiras, além de serem em número muito reduzido, não contavam com essa ajuda. Somente no 45th General Hospital, em Nápoles, havia uma excelente voluntária. A consulesa Clarice – Lispector – Gurgel Valente. Em suas horas de folga dos misteres do Consulado, ia ajudar a dar assistência moral aos pacientes.
A Falta de um Posto Hierárquico
Por terem saído do Brasil sem posto hierárquico regular, as enfermeiras passaram por inúmeras situações difíceis. Alguns choques houve com as enfermeiras estadunidenses, principalmente com chefes, que procuravam dar ordens.
Várias vezes a enfermeira-chefe das brasileiras teve que fazer sentir que ali elas tinham as mesmas funções, embora a questão de postos fosse diferente. Eram também de tropa diferente e não subordinadas a elas.
Certa feita, quando estava no 7th Station Hospital, a enfermeira-chefe estadunidense, que era a Major, transferiu umas enfermeiras brasileiras de enfermaria e deu-lhes uma série de ordens, sem que a enfermeira-chefe brasileira fosse consultada, nem comunicada. Quando esta recebeu o boletim com as tais ordens, perdeu a paciência e foi a ela de dedo em riste e a fez sentir que não admitia que intromissão na administração do pessoal brasileiro, que ela era Major e a brasileira Segundo-Tenente, mas as funções eram iguais. Uma era enfermeira-chefe das estadunidenses, e a outra chefa das brasileiras. Demonstrando que a tropa brasileira era soberana e não composta de empregados dos estadunidenses. Tudo isto foi dito a Major, em presença do Coronel Comandante do Hospital. Dito em claro e perfeito inglês.
O Coronel ficou passado e pediu milhões de desculpas, alegando que deveria ter sido um mal entendido, pois até pouco tempo as enfermeiras brasileiras não tinham chefes e obedeciam às ordens diretas da Major.
Houve algumas dificuldades com algumas enfermeiras brasileiras, que não se adaptaram ao serviço ou às condições de vida em campanha e outras por terem tido problemas de saúde, não agüentando os rigores da vida em barracas, sem conforto, e tiveram que retornar ao Brasil.
Permaneceram apenas 54 em serviço nos quatro hospitais onde trabalhavam os brasileiros. Os hospitais de campanha não atendiam somente aos estadunidenses e brasileiros; o socorro era prestado a todos, inclusive a civis e prisioneiros.
Olá! Gostei muito do texto. O COREN-RS está montando um acervo sobre a história da enfermagem e temos vários documentos da enfª Isaura barbosa Lima. VAmos expô-los para que todos conheçam a sua maravilhosa trajetória, no entanto, não temos muitas informações sobre sua vida pessoal, biografia, motivações. O senhor sabe nos informar algo mais a respeito dessa grande mulher? Muito obrigada!
Excelente site. Vc saberia dizer em quais hospitais as enfermeiras brasileiras serviram e como os soldados brasileiros feridos eram conduzidos aos hospitaias? Estou escervendo um romance e essas informações seriam muito úteis. Grato.
Renato sinceramente eu sei mas são muitos, o que voc~e pode fazer é entrar no site http://www.anvfeb.com.br e dar uma olhada que eles tem muita coisa sobre o assunto.
Eu estou montando um artigo para breve sobre esse assunto também.