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FEB – Os Amores dos Pracinhas

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Não há dúvida que 25000 homens, exilados na Itália durante um ano, devem ter tido suas aventuras amorosas. As condições de guerra, que davam grandes facilidades, detentores que eram de coisas que faltavam em absoluto no meio civil, tais como cigarros, açúcar, café, chocolate, etc.; a posição de vencedores, a rapidez com que aprendiam a língua, a afinidade da raça latina, etc., eram fatores favoráveis às ligações de toda espécie.

As conquistas eram fáceis, naquele ambiente em que o adultério campeava e a liberdade de costumes era completa. Muitos maridos exemplares, que na vida comum, jamais tiveram uma oportunidade, viram-se de repente livres do “freio-hidráulico” de suas caras-metades, diante da grande “chance”, cheia de louras tentações.

À medida que íam conhecendo novas cidades, as preferências iam surgindo, estabelecendo grupos que mais admiravam as pisanas, as luquenses, as florentinas ou as pistoienses. Havia então os “Senhores de Pisa”, os “Senhores de Lucca”, os “Senhores de Pistóia” ou de Florença, como jocosamente eles próprios se apelidavam. Pode afirmar-se que houve os mais variados casos amorosos, desde o amor casto, bem intencionado, que acabou originando muitos casamentos; amizades puras e platônicas, que dariam bonitos romances à Delly; amores apaixonantes e dominadores, que obrigaram o deslocamento de muitas e belas “signorine”, cada vez que nossas tropas avançavam e finalmente fizeram surgir na área de Nápoles mulheres tipicamente toscanas e piemonteses. Elas acompanhavam os soldados, viajando em caminhões e jipes, como se fossem modernas vivandeiras motorizadas. Umas conseguiam permissão oficial para se utilizarem de veículos militares. A maior parte ia mesmo de contrabando. Uma viajou 900 Km, escondida na caixa do bombo, burlando toda a polícia de tráfego.

Entretanto, a bem da verdade e para tranqüilidade de muitos lares, se deve afirmar que houve honrosas exceções neste particular, entre oficiais e praças. Houve muitos e edificantes exemplos de fidelidade conjugal, que, verdadeiros heróis, souberam vencer a dura batalha da tentação.

Caso Interessante

Paz e Iole
Iole Tredici e João Pedro Paz - Na Itália

Houve até um caso curioso que se destacou, foi a história do pracinha João Pedro Paz. Após algum tempo da rendição alemã, os febianos permaneceram em território de guerra. João Pedro Paz e mais alguns colegas receberam folga para visitar a cidade de Pescia, onde participariam de um baile. Foi nesse baile que o pracinha conheceu uma italiana de 17 anos chamada Iole. Após algumas danças, João Pedro e Iole apaixonaram-se. O relacionamento transcontinental durou até 6 de junho de 1945, data em que as tropas brasileiras voltaram para o Brasil. O casal se despediu no cais do porto napolitano.

Na chegada ao Brasil, Paz participou de uma grande festa no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, onde estava presente o presidente Getúlio Vargas. Na festa, entre os pracinhas estava o cantor e ator Vicente Celestino, ouvindo as histórias dos soldados, entre elas a de Paz e sua jovem Iole. Nascia então uma das mais importantes canções de pós-guerra, “Minha Gioconda” – que já ganhou diversas regravações, inclusive uma com Agnaldo Rayol na novela Terra Nostra, da Rede Globo.

Ao chegar a Porto Alegre, Paz recebeu uma carta de Iole onde dizia que a italiana estava grávida. O pracinha procurou a embaixada da Itália para providenciar o casamento, que foi realizado no dia 1º de julho de 1946 via procurações. No dia 28 de outubro de 1946, um dia antes da data marcada, Iole desembarcou no cais do Guaíba com o filhinho de 3 meses de idade. Ela tomou um táxi e foi até a residência de um parente de seu marido. Paz, que estava trabalhando como lavador de pratos no Grande Hotel em Porto Alegre, foi surpreendido com a notícia da chegada de
Iole e, correndo, foi ao encontro de sua família.

Iole e Paz estão casados há 57 anos e têm uma filha, duas netas e duas bisnetas.

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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