A Força Brasileira estava acampada nos arredores de Pisa, a 4 Km da cidade, no local destinado às caçadas da realeza italiana, San Rossore, oferecendo o conforto necessário para uma tropa em guerra.
Desde o amanhecer de 23 de outubro a chuva caía intermitentemente, porém, contrariando-a, a instrução prosseguia como também o recebimento e a distribuição de peças de uniforme próprio para o inverno e para a chuva. A despeito do mau tempo continuava incessante a faina diária, não diminuindo seu ritmo já normalizado na vida das classes armadas, principalmente na campanha.
O III Batalhão, sob o comando do Major Cândido Alves da Silva, fazia uma marcha de treinamento; o I Batalhão, sob o comando do Major Jaci Guimarães, executava tiros de toda espécie, bem assim as Companhias Regimentais, que exercitavam com seus obuses, com os seus mineiros, com os seus observadores, com os seus canhões antitanque; o II Batalhão, sob o comando do Major Orlando Gomes Ramagem, fazia uma marcha em sentido contrário ao III Batalhão. A chuva impiedosa colheu os batalhões em movimento e nas instruções diversas.
Pela primeira vez, no dia 26 de outubro, o Regimento apareceu fardado com o uniforme estadunidense, estando perfeitamente em condições de suportar a água abundante e o princípio do inverno que se aproximava. E assim a unidade se apresentou de “field-jack”, galochão e capacete de aço, todas não usadas até então, e agora semelhantemente fardado como os demais na Europa. A tropa da FEB uniformemente fardada e equipada tomou um aspecto garboso e marcial do soldado já veterano, que combatia no front.
O Regimento passou por uma transformação interessante nos seus hábitos e costumes. É importante falar de passagem na alimentação que recebeu, pois habituado a manter-se de substâncias em grande quantidade ou volume, alimentava-se naquele momento de alimentos rico em vitaminas, variados, lácteos, gordurosos, bastante açúcar, que não enchem o estômago, porém fortificam o organismo pelos princípios científicos de que são dosados; daí, a facilidade dos Estados Unidos poderem alimentar milhões de homens igualmente, fartamente, sadiamente e higienicamente.
Outro hábito adquirido pelos nossos soldados foi a higiene; em qualquer parte em que estava a tropa deveria encontrar-se o mesmo ambiente de uma casa de residência, porque o quartel, ou acampamento, era a casa dos soldados. Não se viam um fósforo, uma ponta de cigarro, um escarro, uma casca de fruta ou um pedaço de papel no chão, porque para qualquer desses casos, havia uma lata de lixo. Os banheiros de campanha eram os mais higiênicos possíveis e ali há tudo que se pode necessitar no momento e abundância de desinfetante.
As cozinhas de campanha eram tão limpas como se fossem de casa de família e uma não ficaria devendo à outra. Havia apenas uma marmita para oficiais e praças da tropa e existiam três depósitos próximos ao rancho: um para lavagem na água fervendo, outro na água com sabão e outro com água para última lavagem, ficando desse modo a marmita completamente higienizada, pois seca ao ar livre.
A tropa fardada com os seus novos uniformes e com a mudança de clima e de alimentação apresentava-se bem, com o moral elevado e se instruindo nos novos terrenos, apenas aguardava com serenidade sua entrada na linha de fogo.
As tropas da FEB permaneceram por 40 dias na área de estacionamento submetendo-se o Regimento a um programa de instrução que visava a instrução física, geral e técnica.
Devido à existência de minas em grande quantidade nos arredores, não era possível realizar exercícios táticos. Foram feitos Cursos de informação, de guerra química, de minas e de comandante de pelotão sob a direção de oficiais americanos, não só na própria cidade de Pisa, como em Caserta, próximo a Nápoles.
A instrução de tiro teve grande intensidade, bem como a dos especialistas e, mais ainda, um estágio de 3 a 4 dias na linha de frente, junto ao 6º RI para oficiais e sargentos. No dia 20 o Regimento marchou para Filletolle, 12 km ao Norte de Pisa, afim de fazer exercícios táticos durante uma semana.
No último dia do exercício, na manhã de 27, às 8 horas, já o III Batalhão deixava a área com destino à linha de frente. A 27 e 28 os I e II Batalhões ultimavam seu treinamento e foram transportados para Lustrola e Granaglione de onde, também, seriam transportados para a linha de frente.
No dia 23 de outubro teve lugar a visita do General Mark Clark às Forças Expedicionárias Brasileiras. O General Clark era o Comandante do V Exército Americano, do qual fazia parte o IV Corpo, ao qual pertenciam as tropas do Brasil. Todas as unidades estavam formadas e o General Clark, ao lado dos Generais Mascarenhas de Morais, Cordeiro e Falconière, passou revista, tendo aquele chefe militar declarado sua boa impressão dizendo que “a tropa estava com muito bom aspecto”. A chuva continuava a cair abundantemente.
No dia 29 o General Mascarenhas de Morais mandou rezar uma missa na Catedral de Pisa, em ação de graças por toda a Divisão. Foi interessante o ato, tendo o capelão chefe feito uma bela oração sob o tema: “a Cesar o que é de Cesar, é a Deus o que é de Deus”. Estiveram presentes à missa os Generais de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, Euclides Zenóbio da Costa, Oswaldo Cordeiro de Faria e Olímpio Falconière da Cunha e representantes de todas as unidades da 1ª DIE.