CENAS EMOCIONANTES
Durante a tomada de Monte Castelo o movimento no hospital era intenso. Cena emocionante era a chegada de novos feridos. Os hospitalizados recebiam os companheiros nervosos e curiosos.
Choviam as perguntas: onde estavam vocês? Tomaram aquela posição? Perdemos muitos companheiros? Comovida, assistia àquelas cenas com tristeza, levando ao nosso soldado o meu atendimento. No meio daquela bagunça, notei que numa cama no fundo da enfermaria um doente estava sentado, tristonho. Parecia alheio àquele movimento. Dirigi-me para ele e indaguei: “Como está se sentindo? Precisa de alguma coisa? Saudade de casa, da família?” Ele, cabisbaixo, balançou a cabeça e falou: “É enfermeira, em cada coração uma saudade e em cada corpo uma bala.”
ENFERMARIA DOS NEURÓTICOS
Conta um companheiro do 7th Station Hospital que um soldado baixado com perturbações mentais foi encontrado a passear no interior da enfermaria, equilibrando um objeto na cabeça. O objeto era nada mais nada menos do que uma mina que ele desenterrara da praia adjacente ao hospital.
Outro fato: um soldado, auxiliar na enfermaria, sacudindo as calças de um doente mental, encontrou, nos bolsos da mesma, qualquer coisa pesada que fazia muito barulho em contato com o solo. Verificou, com surpresa, que eram duas granadas de mão com os pinos de segurança quase saídos. Grande foi o seu susto e dos que estavam presentes.
AMÂNCIO TOFANELLI
Soldado Amâncio Tofanelli, de Campinas, São Paulo. Quando servia como operador de metralhadora na linha de frente do Morro Sarassicha, seu batalhão, o 2º do 6º de Infantaria, recebeu ordens de contra-atacar. Cessado o contra-ataque foi encontrado caído sobre uma metralhadora, rodeado de alemães mortos. A turma de primeiros socorros e mais tarde os médicos verificaram que o soldado Tofanelli havia recebido nada menos de 82 ferimentos, da cabeça aos pés.
Um correspondente de guerra, que visitava o 7th Station Hospital, encontrou-o semi erguido, lendo o Cruzeiro do Sul, jornal da FEB, e divertindo-se com suas anedotas. Relatou a refrega em que recebeu os ferimentos com visível bom humor, citando repetidas vezes a palavra “tedesco”, nome do inimigo que os soldados da FEB adaptaram ao italiano “tedeschi”. Ao lhe ser perguntado o que queria mandar dizer aos seus, Tofanelli respondeu numa gargalhada: Diga-lhes que o “tedesco” quis me abraçar, mas não teve tempo.