Joseph Goebbels foi ministro da Propaganda do Partido Nazista, considerado por muitos historiadores como o maior propagandista político de todos os tempos. De fato sua propaganda foi uma das colunas que permitiram aos nazistas controlar a opinião publica e conduzir a Alemanha à segunda Guerra Mundial e mantê-la até o quanto foi possível.
Aqui iniciamos uma sequência de artigos que mostrarão fragmentos dos diários de Goebbels, desde sua juventude até 1945.
O DIÁRIO DE JOSEPH GOEBBELS
1924
“Nasci em 29 de outubro de 1897 em Rheydt, uma pequena cidade industrial perto de Düsseldorf no baixo Rhin. Meu pai, Fritz, era um funcionário que ganhava 150 marcos por mês. Em 1900 comprou uma casa, não muito bonita, um pouco mais acima de Dahlenstrasse, onde continuamos vivendo.”
Lembro-me de uma longa doença que tive: pneumonia. Tive muita febre e umas alucinações horríveis que me tornaram uma criança fraca e delicada. Além disso, lembro-me de um domingo quando nossa família fez um longo passeio até Geistenbeck. No dia seguinte, comecei a ter problemas com meu pé. Quê dor terrível! Apesar de meses de tratamento meu pé ficou paralisado toda a vida. Desde esse momento minha juventude me deu poucas alegrias.
Tive que cuidar de mim mesmo e não pude me juntar aos jogos das outras crianças. Converti-me em um ser solitário. Meus antigos amigos, não sentiam nenhum amor por mim.
De 1915 a 1918
Meu amor por Lena Krage meu primeiro beijo em Gartenstrasse Lena é teimosa e por isso há muita angústia. Começo a fazer um diário. Escrevo muitos poemas. Todos foram perdidos. Passo todo meu tempo com Lena num estado de felicidade juvenil.
Chegam 1917, um ano cheio de fome. De algum modo, o superamos. Despeço-me de Lena. Fechados dentro do Kaiser Park de noite, beijo seu peito pela primeira vez e, pela primeira vez, ela se entrega a mim.
Terminar meu doutorado em Heidelberg e logo acabar com tudo.
(Doutorado em 1921. Ambição literária. Falta de dinheiro. Goebbels trabalha em um banco em Colônia.)
Banco e Bolsa. Capital de indústria e de mercado. A necessidade faz que o pensamento não se disperse. Escrevo poemas de desespero. Judeus. Reflito sobre meus apuros financeiros. Iluminação espiritual.
Baviera. Hitler. Livros: Thomas Mann e “O Homem de Palha” de Heinrich Mann. “O Idiota”, de Dostoyevski.
Estou angustiado. A revolução está dentro de mim. Mas continuo pessimista a respeito de tudo. Detesto Colônia. O banco é uma perda de tempo. Meu salário é muito baixo e já não posso suportá-lo mais. Por isso, decido largar.
4 de julho de 1924
Necessitamos mão forte na Alemanha. Ponhamos fim a todos os experimentos e palavras vazias para começar a trabalhar seriamente. Expulsemos os judeus que se negam a se converter em verdadeiros alemães. Deem-lhes também uma boa surra. A Alemanha aguarda o indivíduo, o homem, como a terra aguarda a chuva no verão.
Só nossas reservas de força, entusiasmo e entrega total podem nos salvar agora. É possível que possamos nos salvar somente com um milagre?
17 de julho de 1924
Estou desanimado com tudo. Tudo o que tento sempre sai mal. Não tenho escapatória neste aperto. Estou esgotado. Além disso, ainda não encontrei um verdadeiro propósito na vida. Às vezes me dá medo me levantar nas manhãs. Não há nada por que se levantar.
Minha vida carece de sentido. Estou divagando. Sem rumo. Perdido no universo. A falta de dinheiro me agonia. Quê destino terrível! Por que preocupar-se e ler estes condenados jornais? Só faz com que se sinta mais estúpido. A política está me matando.
27 de setembro de 1924
Minha reputação como orador e autor político e cultural está se espalhando por toda Renânia entre os partidários do nacional-socialismo. Esta tarde faço um discurso em Neuss. Nunca os preparo. O improviso não é tão difícil como imaginava. Mas a prática, digo a mim mesmo, faz a perfeição. Conseguirei mais prática nesta pequena reunião de partidários. Sinto-me satisfeito com minha missão.
Satisfaz-me este tipo de trabalho. Minha busca por o novo Reich e o novo homem. E só poderei encontrá-los através da fé.
A fé em nós mesmos nos guiará até a vitória final. Heil!
13 de abril de 1926
Cheguei a Munich esta tarde. O carro de Hitler estava ali. Conduzimos até o hotel. Quê grande recepção! Falei no histórico Bergerbreu, Kaufinkerstrasse, Frauenkirche, uma incrível arquitetura gótica. Fomos comer no Bratwurst. Salsichas e cerveja.
Viver em Munique. Burguesia com muito encanto. Uma cidade linda com o sol brilhando sobre nós.
Na minha volta ao hotel soube que Hitler me havia chamado. Queria nos dar as boas-vindas. Apresentou-se em 15 minutos. Alto, saudável e vigoroso. Gostei. Pôs-nos em evidência com sua amabilidade. Conhecemos-nos, nos fizemos perguntas. Deu-me respostas brilhantes. Eu o adoro.
O contrato social está cheio de novas perspectivas. O tem todo elaborado. Seu ideal, uma mistura de coletivismo e individualismo. A produção deve permanecer como um assunto entre particulares. As grandes corporações e as pequenas serão nacionalizadas. Falamos disto. Posso aceitar esta brilhante ideia como guia.
Inclino-me ante sua superioridade. Reconheço seu dom político.
16 de junho de 1926
Hitler continua sendo o mesmo querido camarada. Não se pode evitar querê-lo como pessoa. Ele tem uma mente estupenda. Como orador construiu uma maravilhosa harmonia de gestos, expressões faciais e palavras. É motivador por natureza. Com ele podemos conquistar o mundo.
Dá-lhe o mando e reduzirá a república corrupta ao alicerce.
30 de outubro de 1926 – Plauen
Uma carta de Hitler. Aceitaram meu trabalho em Berlim. Hurra! Estarei lá dentro de uma semana.
26 de abril de 1928
Capitular? Nunca! Ontem fiz um discurso em Friedenau. Uma audiência altamente burguesa.
Vi “Os Dez Dias que Comoveram o Mundo“, de Eisenstein. É muito artificial, e as melhores cenas defraudam. Alguns planos da multidão são muito bons. É assim que isso é uma revolução. Podemos aprender muito com esses bolchevistas, sobretudo o uso da propaganda. Mas o filme é demasiada e explicitamente propagandístico. Um pouco menos e teria sido mais efetivo.
17 de maio de 1928
Fomos ao campo com um destacamento das S. A. Dia da ascensão e um dia estupendo. Saímos da ponte Pickelsdorfer. Logo através de Spandau, Neuendorf, Tegel. Até ali tudo bem.
Mais tarde pegamos a Müllerstrasse para Werding. Um desfile magnífico. As ruas estavam cheias de comunistas gritando e assoviando. Nossa gente marchava para diante. Eram os verdadeiros heróis. Nunca vacilaram. Nunca fizeram a menor concessão. Com gente como esta, um dia destes conquistaremos o mundo.
- Goebbels é eleito para o Reichstag em 1928. O partido nazista ganha 12 cadeiras.
24 de maio de 1928
Nosso novo escritório está tomando forma.
Todos trabalhamos duro. Quando fico em casa eu trabalho. Só agora me dou conta de como estou cansado. Desejo o doce contato da mão de uma mulher.
16 de outubro de 1928
Quê significa o cristianismo hoje em dia? O nacional-socialismo é uma religião. A única coisa que precisamos é um líder carismático capaz de eliminar as práticas religiosas antigas e substituí-las por outras novas.
Carecemos de tradições e rituais. Em um dia não muito longe o nacional-socialismo será a religião de todos os alemães. Meu partido é minha igreja e eu creio que sirvo melhor ao senhor se faço sua vontade e liberto a gente oprimida dos grilhões da escravidão. Esse é meu evangelho.
26 de outubro de 1928
Não tenho amigos nem esposa. Parece que estou passando por uma grande crise espiritual. Contudo continuo tendo os mesmos velhos problemas com meu pé que me causa um incômodo e uma dor constante. E agora estão os boatos de que sou homossexual. Os agitadores estão tentando dissolver nosso movimento. E eu estou constantemente metido em pleitos menores.
É como para fazer chorar.
5 de abril de 1929
Ainda temos muitos incultos no partido. A política elaborada em Munique é às vezes intolerável. Não tenho intenção de me conformar com compromissos sem sentido. Sou fiel às minhas crenças mesmo que me custe o posto. Às vezes tenho dúvidas sobre Hitler. Por que não diz o que pensa?
Os oportunistas querem colher a safra antes que esteja pronta. Tem havido confusões graves nas S. A. Quando vejo que tudo aquilo pelo que nos sacrificamos tanto periga a perder-se, me dá vontade de gritar em voz alta.
Há dez anos um punhado de nacional-socialista radicais uniram-se ao redor de seu novo líder me Berlim. Sob seu comando começou a luta pela capital comunista do Reich. Finalmente, a velha guarda superou tenazmente o terror do governo de colisão e a inferioridade humana bolchevista.
1 de agosto de 1929
Começou a convenção do partido. As S.A. já estão na rua desfilando e cantando.
Últimas notícias. Supõe-se que hei de renunciar a meu posto em Berlim e transferir-me para Munique como novo chefe de propaganda. Querem me tirar do verdadeiro poder e trocá-lo por uma falsa autoridade. Assim é esse seu jogo.
Perguntarei ao chefe durante o almoço. Não creio que esteja pensando algo pelo meu estilo. Se estiver, penso em renunciar. Não penso em perder tempo escravizando-me pelo partido. Mas não tem sentido perder tempo com problemas.
Lá fora as tropas das S. A. estão desfilando e cantando. Faz um tempo lindo.
16 de março de 1930
Em Munique perdi a fé em tudo, inclusive no chefe. Já não creio em nenhuma palavra do que dizem. Por alguma razão, que não importa agora, Hitler me faltou com a palavra cinco vezes.
Isso dói. E eu tirei minhas próprias conclusões.
Hitler está se escondendo. Nunca toma nenhuma decisão. Já não nos guia, mas deixa as coisas como estão. Eu era o mais leal de todos. Mas que ninguém espere que me sente para ver como Strasser aumenta seu poder em Berlim.
12 de setembro de 1930
A vitória eleitoral está assegurada. Temos uns 250.000 votos em Berlim. Cheguei em casa esgotado. Só dormi uma hora. Fiz sete discursos em uma tarde. Creio que foi um recorde. Mas tenho os nervos destroçados. Estou muito preocupado. Comporto-me como se houvesse algo que ainda necessitássemos fazer. Nossa propaganda eleitoral foi um êxito.
15 de setembro de 1930
Tremo de emoção. Os resultados das primeiras apurações. É fantástico! Júbilo por todas as partes. Um êxito incrível. É esmagador! Os partidos burgueses foram barrados. No momento temos 103 cadeiras. Multiplicou-se por dez. Nunca imaginei.
Este entusiasmo me lembra 1914, quando estourou a guerra. As coisas vão esquentar nos próximos meses. Os comunistas saíram-se bem. Mas nós somos o segundo partido mais numeroso. Agora temos que aguentar até o final. Sem descanso. Sem fraquejar.
Continua…
Fonte: Documentário “O Experimento de Goebbels”
Ola!
Gostaria que vocês disponibilizassem a referencia bibliográfica do livro!
Obrigada desde de já!
Olá, Diomara,
o artigo é uma transcrição do Documentário “O Experimento de Goebbels”