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Relatos da Segunda Guerra – O Heroísmo Do Silêncio

Em ondas sucessivas, os alemães tentavam reconquistar a Cota 958 – La Serra, ponto altamente estratégico e indispensável ao seu plano de defesa. O batalhão Syzeno aguentava o fogo e rechaçava o inimigo, que depois de cada ataque recuava cada vez mais.

Num desses recuos, o pelotão do Tenente Chahon avançou muito em perseguição aos alemães, e quando seus homens descansavam, aguardando ordem de regressar, um sargento – não sabemos bem se era esse o seu posto – de nome Limoeiro pressentiu qualquer coisa no ar e olhou para o alto da ravina. Um alemão lançava uma granada de mão. Rápido, Limoeiro tentou apará-la com o capacete, mas a granada resvalou e foi acertar em cheio no rosto de um soldado, explodindo.

Estava escurecendo. Foi dado o alarme e os brasileiros viram-se praticamente cercados pelos alemães. Era impossível prestar socorro ao soldado ferido, sendo quase certo que todos ali seriam dizimados. Era necessário retrair o quanto antes.

Rastejando, os pracinhas subiram a ravina e examinaram a situação, que era crítica. Somente a noite os poderia salvar. A eles e ao companheiro ferido que estava desmaiado. Todo o grupo ficou em silêncio. Uma tensão enorme tomou conta dos homens. Os alemães andavam pelas redondezas, suas vozes eram ouvidas distintamente.

Súbito, o soldado ferido despertou e começou a gemer alto: “Estou cego, não aguento. Venham me buscar.” Os gemidos varavam a noite e cortavam o coração daqueles bravos. Mas, que fazer? Socorrê-lo agora era impossível, e os gemidos iriam atrair forçosamente os alemães, pondo em perigo a vida dos demais.

Então, um soldado aproximou-se de rastro do companheiro ferido e disse: “Velho, compreendemos e respeitamos a sua dor, mas pelo amor de Deus, não faça barulho. Os alemães estão por perto, e se formos localizados todos morreremos.” O pracinha ferido – o rosto deformado, sem dentes, com o nariz em tiras, completamente cego – nada respondeu. Enterrou a cabeça na terra e não mais gemeu a noite inteira.

O heroico pracinha, segundo as informações que obtivemos do Major Edmundo Santal de Albuquerque, é da Paraíba, mas ninguém sabe de que lugar.

Seu nome: Arnon Corrêa.
Identificação: G 298.671.

Pertencia à 6ª Companhia do II Batalhão do Regimento Sampaio e o seu comandante era o Capitão Wolfango Teixeira de Mendonça.

Eis a citação de combate publicada em 13.04.45 no Boletim n° 53 do General Mascarenhas de Morais:

“O Soldado Arnon, do pelotão do Tenente Chahon, lutara denodadamente pela captura e posse do ponto cotado 958 (La Serra), que devia ser mantido a todo custo.

Todos os sacrifícios seriam mínimos diante da importância da missão que exigia, da parte dos atacantes, fibra de combatentes. O bombardeio da artilharia e morteiros era incessante e violento e os alemães a disputariam com ímpeto invulgar. Assim, contra-atacaram quatro vezes, cercaram-na até, mas baldamente, porque a do inimigo se sobrepunha a vontade dos brasileiros.

Para que as posições não fossem reveladas, diziam-se aos companheiros: “Não gemas”. No curso de um dos contra-ataques, uma granada de mão feriu gravemente a cabeça, os olhos e a boca do Soldado Arnon. Este calou seu sofrimento, acudindo ao apelo dos camaradas, na certeza de que dessa maneira concorria antes para o cumprimento integral da missão do pelotão do que para a conservação da própria vida. Estoicamente suportou em silêncio a sua dor até o momento em que foi possível efetuar a sua evacuação.

É um magnífico exemplo do mais apurado espírito de sacrifício, abnegação, ânimo forte e estoicismo de combatente, tudo em benefício da honra de sua pátria.”

(a) Mascarenhas de Moraes, General Comandante.

(Paulo Vidal – Heróis Esquecidos – Edições GRD).

Fonte: O Brasil na Segunda Guerra Mundial – Roteiro Cronológico da FEB e as comunicações da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária na Itália 1944/45

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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4 comentários

  1. olá meu nome é Eduardo Correia, neto do soldado ARNON CORRÊA …. ele não é da Paraíba e sim de Paranaguá – Pr … Muito obrigado pelas palavras… eu infelismente não o conheci mais a sua vida é exemplo em nossa familia… Sua história é contada de geração em geração…eu não deixarei que esta linda história fique no esquecimento…

    • Eduardo muito obrigado, na verdade esse é um erro do proprio livro, do Paulo Vidal.
      Se tiver mais historias ou se tiver fotos de seu avô, entre em contato com a gente.

    • Olá Eduardo, tudo bem, eu sou filho do Sargento Ivo Limoeiro, que foi ferido várias vezes em Monte Castelo e que assumiu o comando do pelotão após o Tenente Chahon ser gravemente ferido.

  2. Eduardo muito legal, obrigado.
    Quanto aos livros, eu sou colecionador de livros sobre Segunda Guerra e sobre o Brasil na Guerra, me mande o que tem no eu e-mail ricardo@segundaguerra.org

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