Hoje pesquisando nas revistas “O Expedicionário”, eu encontrei um artigo que tem nada mais, nada menos que um dia a mais que eu de idade, e achei bacana colocar alguns detalhes desse artigo para os amigos leitores.
Esse artigo foi escrito pelo Dr. Flávio Villaca Guimarães (In memória) 1º Ten. R/2 – Ex combatente. Na época faziam 37 anos da volta de nossos heróis da Itália, e muitos já estava na faixa dos 60 anos de idade, alguns veteranos ainda tinham em memoria os feitos de heroísmo na guerra, mas muitos ainda não tinham muita coragem para reabrir os diários e relembrar de seus feitos e de seus companheiros.
Dr. Flávio tem a coragem de reviver suas histórias e seus feitos de guerra, e começa o artigo da seguinte maneira:
“…Neste manha sombria de 21 de janeiro de 1982, semelhante àquelas de novembro a fevereiro do 1944/45 quando, noauge da guerra e também do horripilante inverno europeu, tudo era ainda incerteza, folheando nosso despretensioso Diário de Guerra, nos veio a mente os nebulosos dias que passamos “embutidos” no PO. da semidestruída Torre de Nerone, localizada numa colina nua, diariamente castigado pelos morteiros alemães provenientes do Soprassasso.
A temperatura caia sensivelmente, atingindo naqueles dias, 18° centígrados negativos.
Havíamos saído de um país de clima tropical, mas nem por isso nos intimidamos com a rudeza do inverno europeu.
Naquele período hibernal, intensificaram-se, principalmente, durante a calada da noite, as atividades das patrulhas, de parte a parte. Mesmo enfrentando a neve, o gelo, chuvas e tempestades, jamais esmorecemos diante de todas as intempéries, desincumbindo nos galhardamente de nossas árduas missões.
Entre dezembro de 1944 e fevereiro de 1945 nossas tropas capturaram 23 prisioneiros, alguns dos quais foram apresentados ao Major Oest, Comandante do II/ 6º RI., o qual tinha seu PC. localizado nas proximidadesde Costa de Afríco. Entre aqueles prisioneiros havia um tenente “SS”. Era diferente dos demais companheiros, pois notava-se nele um ar de superioridade e ume empáfia, sem par.
No nosso Btl. apenas o soldado Avelino Morchese, motorista do Comandante, natural de S. Catarina, descendente de alemães, era o único que falava e entendia um pouco a língua dos tedescos.
Por solicitação do Major Oest, o Avelino tentou falar com oTen. SS., sendo infrutíferas as tentativas de conseguir do mesmo algumas palavras. Continuava impassível ante as perguntas que lhe eram feitas. Pelo visto, cumpria à risca as ordens emanadas pelo seu “Fuhrer”…”
São inúmeras as histórias e relatos que os soldados teriam registrado em seus diários, mas seriam maiores se não fossem os muitos imprevistos obtidos nos mais de 200 dias de efetiva atividade nos campos de batalha da Itália.
Na época, alguns soldados carregavam nos bolsos retalhos de papel contendo apontamentos referentes ao dia, mês e hora de seus deslocamentos. Guardavam os com todo o cuidado para que, um dia, se Deus assim o permitisse, pudessem compor, tão ambicionado diário, observando a ordem cronológica dos acontecimentos.
Mas muitos imprevistos aconteciam com os soldados e um deles, leremos abaixo com as palavras do Dr. Flávio.
“…ao descermosdaTorre para irmos ao PC suprir-nos de municio e mantimentos para uma semana, pelo menos, escorregamos num lamaçal e rolamos morro abaixo, até estatelarmos numa gélida poça d’água. Foi o suficiente pare nos molharmos todoe, assim, vermos inutilizados todos os papéis com as anotações que havíamos feito. Mesmo assim, procuramos relembrar de alguma coisa, mas muito pouco veio á nossa mente, pois enormes eram nossas preocupações do dia-a-dia com o feroz e experiente inimigo…”
Esses são alguns pequenos retalhos de memórias de um de nossos heróis…
Fonte: Revista O Expedicionário – Sem número – Por mais terra que eu percorra…
Que lindo!
Emocionei-me com as palavras do meu querido Tio Flavio!
Obrigada por postar isso.
Abracos,
Mary