Ada Rogato: A Pioneira dos Céus e Seu Papel na Segunda Guerra Mundial

Ada Rogato nasceu em 22 de dezembro de 1910, no bairro do Cambuci, em São Paulo. Filha de imigrantes italianos, cresceu em meio às dificuldades impostas pelo período entre guerras. Desde cedo, manifestou interesse pela aviação, algo incomum para mulheres da época. Contra a vontade do pai, mas com determinação inabalável, tornou-se a terceira mulher brevetada no Brasil e a primeira piloto de planador da América do Sul.

A década de 1940 encontrou Ada já consolidada como aviadora. Com um histórico de saltos de paraquedas e participação em shows aéreos, ela conquistou reconhecimento em um ambiente predominantemente masculino. Seu espírito pioneiro, no entanto, foi além do espetáculo: quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, ela viu ali uma oportunidade de servir ao país.

Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra às potências do Eixo após uma série de ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros. Com a mobilização nacional, a Força Aérea Brasileira (FAB) passou a patrulhar o litoral, uma tarefa vital para a segurança do país. Enquanto os pilotos militares adentravam o mar territorial, aviadores civis foram convocados para patrulhar a zona costeira. Ada Rogato não hesitou e foi uma das primeiras voluntárias. Em março daquele ano, já estava inscrita na Base Aérea de São Paulo, com a ficha de voluntária nº 183.

Suas missões envolviam voos de reconhecimento ao longo do litoral brasileiro, com decolagens a partir da Base Aérea de Santos. O blecaute imposto à cidade portuária visava dificultar a ação de submarinos inimigos, mas também tornava os voos noturnos ainda mais arriscados. A patrulha cobria a faixa litorânea de Paranaguá (PR) a Ubatuba (SP), garantindo a segurança dos comboios navais. Ao longo da guerra, Ada realizou 213 missões de patrulhamento, uma marca impressionante para qualquer aviador, ainda mais para uma mulher em um ambiente dominado por homens.

A contribuição de Ada Rogato para o esforço de guerra, no entanto, não se limitou ao patrulhamento aéreo. Em novembro de 1942, ela foi convocada pelo Ministério da Aeronáutica para participar do curso de monitores de paraquedismo, tornando-se instrutora na Escola Técnica de Aviação (ETAv). Era um feito notável: uma mulher brasileira, atuando como instrutora de paraquedismo em um período em que poucas tinham acesso ao setor aeronáutico. O curso foi realizado na antiga Hospedaria dos Imigrantes, na Mooca, São Paulo, antes da transferência da escola para Guaratinguetá em 1949.

O fim do conflito, em maio de 1945, não significou o término das atividades de Ada na aviação. Pelo contrário, foi apenas o início de uma nova fase de desafios. Nos anos seguintes, ela se tornaria a primeira mulher piloto agrícola do Brasil, pulverizando lavouras de café para combater a praga da broca. Também realizaria feitos inéditos na aviação mundial, como cruzar os Andes em um monomotor de baixa potência e alcançar o Círculo Polar Ártico sozinha, a bordo de um Cessna 140-A.

Ada Rogato faleceu em 15 de novembro de 1986, deixando um legado inigualável para a aviação brasileira. Sua participação na Segunda Guerra Mundial, embora menos conhecida, foi crucial para a defesa do litoral brasileiro e abriu caminho para outras mulheres no campo da aviação. Um verdadeiro símbolo de coragem e pioneirismo, que merece ser lembrado como uma das grandes personagens da história do Brasil.

 

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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