Pedro Nouzinho: O Cowboy do Trampolim da Vitória

Era uma manhã quente em Parnamirim Field, Natal, quando Pedro David Nouzinho, um potiguar nascido em 15 de maio de 1900, em Santana dos Matos, acelerava seu caminhão-tanque pelas pistas de uma das bases mais estratégicas da Segunda Guerra Mundial. Com o ronco do motor GMC CCKW 353 C2-D1 ecoando ao fundo, ele cruzava o asfalto carregando o combustível que fazia os aviões aliados decolarem rumo ao Atlântico Sul e à África. Não era apenas um motorista. Pedro, com suas camisas quadriculadas e o chapéu que lembrava os velhos caubóis do cinema, tornou-se um personagem vivo no coração do esforço de guerra, apelidado carinhosamente de “Cowboy” pelos soldados americanos que dividiam o chão empoeirado daquela base apelidada de “Trampolim da Vitória”.

Contratado inicialmente pela Panair e mais tarde pelo Exército dos Estados Unidos, ele era o homem que garantia o pulsar das operações aéreas em um ponto crucial do Hemisfério Sul. Parnamirim Field não era apenas um pedaço de terra em Natal; era o eixo que conectava os Aliados às batalhas contra os submarinos nazistas que espreitavam as rotas marítimas. Nos tanques de seu caminhão, Pedro carregava o sangue vital de caças e bombardeiros que cruzavam os céus para proteger o mundo livre. Entre os militares, sua figura singular se destacava, não só pelo jeito de se vestir, mas pela determinação silenciosa com que enfrentava o calor, a poeira e os riscos de um trabalho essencial.

Mas a guerra, como se sabe, não perdoa nem os heróis anônimos. Em um dia que começou como tantos outros, enquanto manobrava o caminhão para abastecer uma aeronave na pista de decolagem, o destino lançou um golpe inesperado. Uma hélice, acionada de forma súbita e imprevisível em um avião com motores supostamente desligados, rasgou o ar e atingiu a cabine do veículo. O impacto foi brutal. Pedro ficou gravemente ferido, o corpo marcado por um acidente que poderia ter sido fatal. Contra todas as probabilidades, ele sobreviveu, mas as sequelas o afastaram das pistas por um tempo, deixando um vazio na rotina da base que ele ajudava a sustentar.

A família de Pedro, hoje, guarda sua memória como um tesouro. Eduardo Souto, seu bisneto, fala do avô com um brilho nos olhos, recontando histórias que ecoam orgulho e reverência. Para eles, Pedro não foi apenas um motorista; foi um elo na corrente que ajudou os Aliados a vencerem a guerra. Mesmo sem uniforme, sem medalhas ou holofotes, seu papel como civil em Parnamirim Field foi tão vital quanto o dos pilotos que cruzavam o céu. Até sua morte, em 2 de dezembro de 1970, ele carregou as marcas daquele tempo intenso, um testemunho vivo de uma era em que o Brasil, mesmo à margem dos grandes campos de batalha, fez sua parte na luta pela liberdade.

A trajetória de Pedro David Nouzinho é um fio quase invisível na imensa tapeçaria da Segunda Guerra Mundial, mas essencial para entendê-la. Em Natal, onde o “Trampolim da Vitória” lançou aviões ao combate, ele foi mais que um rosto entre tantos. Foi o “Cowboy” que, com coragem e simplicidade, ajudou a escrever um capítulo discreto, porém grandioso, da história brasileira. Sua vida, resgatada pela voz de familiares como Eduardo, Aldamira e Eldanira, permanece como um lembrete de que, muitas vezes, os verdadeiros heróis não estão nos livros, mas nas estradas empoeiradas que pavimentam a vitória. Esse relato pode servir de inspiração para que outras famílias resgatem e contem as histórias de seus veteranos, preservando memórias que, como a de Pedro, merecem ecoar além do silêncio do tempo.

Fonte: Eduardo Souto, Bisteto do sr. Pedro, Sra. Aldamira David Souto Avô de Eduardo e filha do Sr. Pedro e Sra. Eldanira Correia Souto, tia de Eduardo e neta do Sr. Perdro

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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