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A Formação da Força Expedicionária Brasileira – FEB

20/04/1944 - Primeira reunião do Estado Maior da FEB, Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Maj. Osmar Dutra, Ten.Cel. Senna Campos, Ten.Cel. Thales Ribeiro da Costa, Ten.Cel. Humberto de Alencar Castelo Branco, Ten.Cel. Amaury Kruel, Cel. Lima Brayner.

O pequeno Estado-Maior de uma Divisão é estritamente operacional. O Ministro da Guerra sentiu o acúmulo de problemas e decidiu sabiamente a constituição de um novo órgão, o Estado-Maior da FEB no interior, para um conjunto de atividades sobre organização e aparelhamento, visando a possível constituição de um corpo de exército de três Divisões.

Se a FEB tivesse chegado a possuir a envergadura que lhe pretendiam dar, o seu Estado-Maior, no interior, estaria habilitado a se converter no próprio Estado-Maior do Corpo de Exército. Enquanto isso, procurava o órgão divisionário se firmar na sua missão, para dar unidade espiritual à Grande Unidade, cuja característica era a heterogeneidade.

Somente a 18 de outubro de 1943 foi expedido o Documento Reservado contendo as primeiras prescrições para a transformação das unidades constitutivas da Nova Divisão tipo estadunidense, que passaríamos a chamar tipo FEB.

A recomendação mais absurda era a que a transformação das unidades estivesse terminada em 15 de novembro, isto é, em menos de um mês. Nem varinha de condão o conseguiria. O Estado-Maior do coronel Floriano de Lima, com um mês de vida exclusivamente no papel, praticamente ainda não existia. Não se reunira, nem tomara pé na situação.

Comando da FEB na preparação da partida: Da esquerda para a direita: Gen. Zenóbio da Costa, Gen. Mascarenhas de Moraes, Cel. Floriano Brayner e Gen. Cordeiro de Farias.

A Grande Unidade nascente ainda não podia contar com a assistência do chamado espírito divisionário que emana, justamente, do Estado-Maior da Divisão, oficina de trabalho intelectual que fecunda e desenvolve as idéias. Tudo estava desajustado. Não tinham a vivência em comum, em tempo de paz.

Difícil seria o entendimento. A estrutura das unidades das armas sofrera profundas modificações, principalmente na Infantaria e na Engenharia. Aquela, passando a dispor de uma potência de fogo excepcional; esta, com o nome de Engenharia de Combate, passando a ter um aparelhamento inteiramente desconhecido dos nossos oficiais e soldados. Em todas as armas, o armamento se modificara completamente, visando a alcançar o máximo de potência de fogo.

A maioria das armas era completamente desconhecida no Brasil. E se não as possuíamos, muito menos as respectivas munições, isso significava dizer que seu emprego e utilização tão cedo não produziriam reflexos duradouros que pudessem caracterizar uma tropa instruída para a guerra.

Também a estrutura dos órgãos do Comando sofreu radical transformação, não somente na descentralização dos problemas do Comando, como na forma de transmitir as decisões e ordens, pela multiplicação dos meios de comunicação, em que a fonia passou a predominar.

O aperfeiçoamento crescente desses meios e a riqueza da gama com que se apresentavam, era reforçada por uma organização perfeita de “manutenção”, essa palavra mágica que surgiu, em todo o esplendor, nessa última guerra, e que constituiu, sem sombra de dúvida, um dos fatores decisivos da vitória.

A Divisão Expedicionária surgiria de um amálgama de unidades colhidas na formação normal das Divisões Brasileiras, para sofrer imediatamente a impregnação das unidades que combatiam nos diversos fronts. Era a reação do campo de batalha, que se esperava. Assinala-se bem essa circunstancia para que se possa compreender o sobre-humano esforço do Estado-Maior Divisionário para dar vida à 1ª Divisão da FEB.

Era nesse ambiente instável, de balbúrdia e entrechoque de idéias, que se iniciava, propriamente, a ação de comando do General Mascarenhas de Moraes. A ele, pois, todo o mérito do desmedido esforço de procurar tirar desse ambiente caótico, uma Divisão, à qual não se podia impor, da noite para o dia, por Decreto, unidade espiritual, equilíbrio psicológico e capacidade combativa.

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Plano de Combate da FEB

A artilharia foi a arma menos surpreendida, por isso que, com o início da guerra, os alemães que nos vendiam o material Krupp C 26 e C 28 suspenderam a entrega das baterias encomendadas. Voltamos as vistas imediatamente para o material estadunidense de 105 e 155 m/m.

A Engenharia de Combate tomou uma feição inteiramente nova. O Batalhão Divisionário passava a ser, ao mesmo tempo, uma poderosa oficina de trabalho de todas as especialidades de arma, e ainda devia estar em condições de prover a própria segurança dos canteiros de trabalho, em qualquer ponto da zona de combate.

Desapareciam as Companhias de Sapadores, Pontoneiros, Mineiros, etc. E os novos meios, ricos, eficientes e altamente objetivos, deram nova mentalidade à unidade, tornando mais complexa a sua instrução.

Os órgãos dos serviços, particularmente Saúde, Intendência, Comunicação e Material Bélico, apresentavam feição inteiramente nova. Viviam exclusivamente para a guerra, na imensa complexidade do apoio logístico. E todo esse panorama dificilmente poderia sair do campo das dificuldades, ou melhor, das possibilidades, devido aos estacionamentos das unidades:

  • 6º Regimento de Infantaria – em Caçapava (2ª Região Militar – São Paulo)
  • 11º Regimento de Infantaria – em São João Del Rei (4ª Região Militar – Minas)
  • 1º Grupo de Obuses – em Duque de Caxias – Quitaúna (2ª Região Militar – São Paulo)
  • 9º Batalhão de Eng. de Combate em Aquidauana (9ª Região Militar)

O Quartel-General da 1ª Divisão, ainda em organização, não podia desincumbir-se das tarefas que lhe seriam normais. E os trabalhos a cargo dos órgãos regionais eram executados com extrema morosidade. O que mais preocupava era o inevitável choque que, a cada momento, se verificava como decorrência da atribuição dada ao Comandante da 1ª Divisão Expedicionária, com a responsabilidade administrativa e disciplinar, que era privativa dos Comandantes das Regiões Militares a que pertenciam às unidades expedicionárias. Os dois Comandos colidiam inevitavelmente. Em meio a essa compreensível instabilidade, o Gen. Mascarenhas teve ordem de partir para visitar o Teatro de Operações do Mediterrâneo:

“O General Comandante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária partirá para o Teatro de Operações, da Itália, afim de estabelecer uma primeira ligação de Comando, observar o campo de batalha e tomar contato com os problemas que o deveriam empolgar no transcurso da campanha”.

– Era essa a Diretriz Geral. Há, em toda essa redação, uma grande força de expressão. A participação ativa do Brasil na guerra era, até aquele momento, acima de tudo, uma manifestação política de expressão continental e de alto fundo psicológico para a causa das Nações Unidas, já o dissemos.

Continua… A Formação da Força Expedicionária Brasileira – FEB – Parte 2

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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