A Igreja de Nossa Senhora de Nazareth: Um Farol de Vigilância na Segunda Guerra Mundial

Em plena Segunda Guerra Mundial, Saquarema, uma pacata cidade litorânea do Rio de Janeiro, viu sua Igreja de Nossa Senhora de Nazareth assumir um papel inesperado. Construída no século XVII e elevada a paróquia em 1755, a igrejinha histórica, situada no alto de um morro com vista privilegiada para o mar, deixou de ser apenas um espaço de devoção para se transformar em base estratégica do Exército Brasileiro. Era um tempo de tensão, com submarinos alemães rondando o Atlântico Sul, e o Brasil, após ataques a seus navios mercantes em 1942, já estava em guerra contra as potências do Eixo.

Tudo começou quando pescadores e moradores de Saquarema relataram luzes suspeitas aparecendo nas praias durante a noite. As autoridades locais, preocupadas com a possibilidade de ações inimigas, comunicaram o fato ao Tenente Frederico João Alonso José dos Sanches Renne, comandante do Departamento de Vigilância da Costa, sediado em Cabo Frio. Sem demora, o tenente enviou um grupo de 13 homens para patrulhar a costa saquaremense. A equipe, liderada pelo Sargento Antônio Alves da Cruz, conhecido como Sargento Cruz, era composta por um sargento, dois cabos e dez praças. Eles se instalaram nos fundos da Igreja de Nossa Senhora de Nazareth, aproveitando a posição elevada que permitia vigiar vastas áreas do mar e das praias da região.

Naquele contexto, o Brasil vivia sob a ameaça constante dos U-Boats alemães, submarinos que afundaram mais de 30 embarcações mercantes brasileiras em 1942, forçando o país a entrar no conflito. A missão do Sargento Cruz e seus homens era simples, mas crucial: observar o litoral, identificar movimentos suspeitos e proteger a soberania nacional. A escolha da igreja como base não foi aleatória. Seu ponto alto oferecia uma visão clara de praias como Itaúna e Vila, tornando-a ideal para o policiamento costeiro.

Igreja hoje.

Quase um ano depois, em 21 de janeiro de 1944, o comando do Destacamento de Vigilância da Costa passou às mãos do Tenente Paulo de Moraes Sarmento. Ao assumir, ele decidiu substituir os soldados que já estavam no local há meses, exaustos pela vigília prolongada. Mesmo com a troca, o grupo permaneceu na igreja, mantendo a missão de proteger Saquarema por mais algum tempo. Não há registros de combates diretos com forças inimigas na região, mas a presença militar ali simbolizava a resistência brasileira em tempos de guerra.

Para a história de Saquarema, esse episódio marcou a Igreja de Nossa Senhora de Nazareth como mais do que um marco religioso. Ela se tornou um alojamento para as tropas, um ponto de vigilância onde sentinelas como o Sargento Cruz e o Tenente Sarmento passaram noites observando o horizonte. A igrejinha, que já guardava a tradição da imagem de Nossa Senhora encontrada por pescadores no século XVII, agora carregava também o peso de ter sido parte da defesa nacional.

 

Hoje, em 26 de março de 2025, a Igreja de Nossa Senhora de Nazareth segue de pé, testemunha silenciosa de um passado de luta e vigilância. Os submarinos alemães foram derrotados, a guerra terminou, mas a memória daqueles 13 homens, com seus uniformes simples e olhos atentos ao mar, permanece viva na história da cidade. Saquarema, mesmo pequena, teve seu papel na proteção do Brasil, e a igreja no morro é a prova concreta disso, um símbolo de fé que, por um tempo, também foi um escudo contra o medo.

Sobre Ricardo Lavecchia

Trabalho como vendedor, mas tenho como hobby desenhar e pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial.

Veja também

Pedro Nouzinho: O Cowboy do Trampolim da Vitória

Era uma manhã quente em Parnamirim Field, Natal, quando Pedro David Nouzinho, um potiguar nascido …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *