Foi um acontecimento tradicionalmente comemorado a passagem do Equador. Embora viajassem num transporte de guerra; nem por isso se deixou de render homenagem a Netuno, que veio batizar seus novos súditos.
A comemoração da passagem da linha do Equador estava marcada para as 14h30min., do dia 27 de setembro, quando foi anunciada pelos alto-falantes a presença a bordo de Sua Majestade o Rei Netuno, com toda sua corte. À frente do cortejo vinha o embaixador de Sua Majestade, abrindo alas e anunciando aos quatro ventos a chegada do Rei dos Mares, que não era outro senão o próprio Comandante Raul Reis, todo fantasiado.
O Capitão de Corveta de nossa Marinha, Paulo Antônio T. Bardy, fantasiado de pirata, com uma venda num dos olhos, era o embaixador. O Major Saldanha da Gama e o Capitão Amador Cisneiros, envoltos nas cortinas dos camarotes dos oficiais, usando cabeleiras feitas de cordas desfiadas, eram o advogado de defesa e o promotor da Corte.
O Major Médico Dr. R. Allison era o médico do Rei. O capelão de bordo era também o sacerdote de Sua Majestade.
Vários outros oficiais, marinheiros e soldados figuravam as demais personagens da grande Corte.
Após os cumprimentos do General Cordeiro de Faria e das altas autoridades, houve entretanto um “sururu” qualquer, o Rei Netuno “queimou-se” e fez várias prisões, levando todos para serem julgados. O julgamento foi amistoso, sendo os réus absolvidos. Vários neófitos foram batizados. Em homenagem ao fato, o Comandante do navio mandou distribuir 10 maços de cigarros a cada soldado.
A todos os oficiais foram entregues diplomas pelos quais adquiriam o direito de serem respeitados pelas baleias, serpentes dos mares, botos, tubarões, lagostas e caranguejos. Era um belo diploma, que todos guardaram carinhosamente, como recordação dessa histórica travessia.
O General Falconière, que viajava noutro transporte do comboio, telegrafou ao General Cordeiro de Faria nos seguintes termos: “Cumprimentando pela passagem do Equador, comunico situação e disciplina tropa ótima. Somente os artilheiros de bordo tiveram de ser amarrados em suas camas, com receio grande choques de encontro linha do Equador. General Falconière.”
O Comandante no dia 26 havia anunciado que daria um premio de U$100,00 ao soldado que primeiro avistasse a linha do Equador. Para mostrar o espírito jovial do estadunidense, devemos citar o boletim de bordo, documento oficial, assinado pelo Comandante e Imediato, que publicou o seguinte:
“Item 2 – Passagem do Equador – Avisamos a tropa em geral que amanhã o navio atravessará a linha do Equador. Devem ser tomadas precauções especiais, pois muitas vezes se sente um choque muito violento, podendo mesmo dar-se o caso da hélice embaraçar-se na referida linha, se a passagem não for feita com muito cuidado”.