riopo001

FEB – A Corrida para o Vale do Rio Pó

riopo001O inimigo retirava-se apressadamente das posições que antes defendera com tanto vigor. As informações colhidas indicavam que, apesar de sua decantada disciplina, já havia muita desorganização nas fileiras alemãs. O objetivo aparente era atravessar o rio Pó para fincarem pé ao longo do rio Ádige, menor do que o rio Pó, porém bem mais situado para defender o Passo de Brenner, nos Alpes austríacos e, passagem para a Baviera, onde se julgava que Hitler organizaria, para continuar a guerra, o ‘reduto nacional’. Essa tentativa de resistência desesperada foi motivo de muita preocupação, e uma das razões pelas quais os aliados na Itália se empenhavam para evitar que as tropas alemãs fossem reforçar aquele ‘reduto nacional’.

O 4º Corpo determinou que os brasileiros avançassem para perseguir os alemães e, ao mesmo tempo, cobrissem o flanco esquerdo do 4º Corpo contra uma possível  intervenção dos fortes elementos inimigos ainda combatendo na Ligúria. No início, a 1ª DIE teve como vizinho, à direita, a 1ª Divisão Blindada e depois a 34ª Divisão de Infantaria, a qual seguiria paralelamente com a divisão brasileira até Parma. O eixo do avanço da 1ª DIE era batizado pelas importantes cidades da região Emília (Parma, Fidenza, Piacenza), mas ainda havia muito terreno para percorrer até a ocupação destas áreas.

A 1ª DIE recebeu ordem para iniciar a perseguição do inimigo no dia 23 de abril. Para deslocar a sua divisão com maior rapidez, o General Mascarenhas, no mesmo dia, tomou uma decisão que se tornou histórica. Ao perceber que o deslocamento a pé era muito moroso, além de esgotar fisicamente o soldado, ele resolveu utilizar todos os recursos de locomoção disponíveis da Divisão, inclusive as viaturas da artilharia, que estava praticamente sem missão devido ao recuo dos alemães. O General Mascarenhas convocou com urgência em seu QG avançado em C. Grotti, seu Estado maior e os Generais Zenóbio e Cordeiro de Farias. Expôs sua idéia e teve a compreensão de todos os presentes, inclusive do comandante da artilharia, general Cordeiro, que não só entendeu o alcance da proposta como se prontificou imediatamente a colaborar, organizando os comboios.

riopo002Assim, em poucas horas, os soldados estavam encarapitados em caminhões GMC 21/1, pertencentes à artilharia, e em todos os outros tipos de viaturas disponíveis da Divisão, para dar combate ao inimigo nas planícies do Pó.

Na tarde de 26 de abril choca-se o Esquadrão de Reconhecimento, em Collecchio, com forças inimigas, cujo valor era superior às suas possibilidades, e, ao anoitecer, um batalhão do 11º RI, em colaboração com o Esquadrão e uma companhia do 6º RI, toma contacto com a tropa alemã, que se defende tenazmente. Pela madrugada de 27, recrudesce a luta que se prolonga por algumas horas. Dominada a agressividade dos contrários, a tropa brasileira, sem perda de tempo, completou a conquista da localidade e iniciou a devida limpeza. A vitória de Collecchio barrou o acesso inimigo à cidade de Parma e proporcionou esplêndidas condições de partida a uma operação convergente sobre Fornovo. Valeu ainda às tropas da FEB a glória de aprisionar 588 alemães e capturar grande quantidade de material bélico, de intendência, de transmissões e cerca de 100 cavalos.

Com o interrogatório dos prisioneiros capturados em Collecchio, foi identificada a 148ª DI Alemã, procedente do setor costeiro de La Spezia e em rota batida para o Norte do rio Pó. Tendo em vista os resultados do combate de Collecchio e a presença de numerosas tropas inimigas no vale do rio Taro, o general comandante da 1ª DIE não só articulara a metade de seus meios na bacia taresa, destinados a uma ação ofensiva sobre Fornovo, mas também adotara disposições que impedissem o retraimento daquelas forças contrárias pelas regiões convizinhas à referida bacia.

Executando a ação principal da manobra divisionária, o 6º RI agiu em particular a cavaleiro do eixo Collecchio – Neviano – de Rossi-Fornovo, com a missão de capturar as tropas nazi-fascistas assinaladas na área de Felegara – Gaiano -Neviano de Rossi – Fornovo. Para isso, o comandante do 6º RI passara a dispor, afora a totalidade dos seus meios orgânicos, de duas Companhias de Artilharia, uma Companhia de Engenharia do 9º BE e Companhia ‘A’  do 760º Batalhão de Tanques, estadunidense.

riopo003Travou-se o combate na jornada de 28 de abril, sob a forma de um enérgico engajamento, convergente sobre a histórica localidade de Fornovo di Taro, conduzido e impulsionado pelo comandante do 6º RI. Em cobertura do flanco Oeste – direito – do 6º RI, lançou-se o Esquadrão de Reconhecimento, brasileiro, pela margem ocidental do rio Taro, a cavaleiro da estrada Medesano/ Felegara/ Fornovo, investindo sobre o inimigo. À noite, o inimigo, já contraíra o seu dispositivo, adentrando-se na área de Fornovo. A tropa brasileira, apesar do escuro da noite, decidiu-se a segui-lo de perto, aumentando a pressão. Horas depois, na madrugada de 29 de abril, tinha começo o espetacular episódio da rendição incondicional da 148ª DI Alemã e dos remanescentes da 90ª Divisão Blindada e Divisão Bersaglieri Itália.

A 1ª DIE realizou um singular feito de armas, que foi o cerco e aprisionamento de uma Divisão inimiga com a totalidade de seus meios de vida e de combate. Nesse famoso episódio da Campanha da Itália a FEB capturou:

· 14.779 prisioneiros, entre os quais figuravam 2 generais e mais de 800 oficiais.

Apreenderam também:

· 80 canhões,

· 1000 viaturas automóveis,

· 200 veículos de tração animal,

· 4000 cavalos,

· Grande quantidade de armas automáticas,

· Fuzis e outros equipamentos vitais.

As baixas brasileiras foram de 5 mortos e 50 feridos.

Na noite de 28 de abril, enquanto se travava o combate de Fornovo, elementos avançados da Divisão Brasileira ocupavam a planura que envolve a cidade de Placencia e, no dia seguinte, transpunham o Pó para estabelecer uma cabeça de ponte no Norte desse rio.

No dia 2 de maio, um batalhão do 11º RI, reforçado por outros elementos, ocupou a importante cidade de Turim. Nesse mesmo dia o Esquadrão de Reconhecimento, reforçado por forte patrulha do I/11º RI, alcançou a localidade de Susa, 32 Km distante da fronteira ítalo-francesa, fazendo ligação com a 27ª Divisão do Exército Francês. Era essa a situação da Divisão Brasileira, quando na noite de 2 de maio todos os Exércitos inimigos, situados no território italiano, terminaram a sua capitulação.

riopo004Ao cabo de 19 gloriosas jornadas, a Ofensiva da Primavera encerrou triunfalmente a árdua Campanha da Itália, no decurso da qual os chefes militares aliados deram exuberantes provas de sua capacidade profissional e de seu valor moral. Neste brilhante panorama de triunfos, o desempenho da Divisão Brasileira, particularmente nas missões que lhe couberam no decorrer da Ofensiva Primavera, foi considerado magnífico pelos chefes militares estadunidenses. Nesses 19 dias de ofensiva, a FEB fez pouco mais de 19000 prisioneiros e as baixas foram calculadas em 47 mortos, 10 extraviados e 616 feridos, inclusive acidentados.

Mas a melhor consagração da divisão brasileira está, no que escreveu o Major alemão Rudolf Bohmler, veterano da luta na Itália, abrindo um parêntese no livro que trata das operações em torno de Monte Cassino:

Esse avanço corajoso, colhendo o comando alemão inteiramente de surpresa, contribuiu para o rápido aniquilamento das forças ítalo-alemãs de Ligúria, e efetivamente, para a rendição  incondicional do Grupo de Exército C Alemão. Em outras palavras: o avanço rápido da divisão brasileira, por obra do general Mascarenhas, foi uma brilhante ação estratégica.

E o General Mascarenhas de Moraes afirmou:

Ajunto, desvanecido, que os espetaculares triunfos obtidos na última semana de abril, evidentemente resultaram do valor e agressividade da infantaria brasileira; mas não há negar que decorreram fundamentalmente da enorme velocidade de nossos infantes, conduzidos, em longos percursos, pelo serviço de transporte a cargo da artilharia. Supervisionando e realizando o transporte de nossos infantes ao longo do Vale do Pó, a poderosa arma de Mallet, na pessoa do general Cordeiro de Farias, conjugou esforços com a valorosa arma de Sampaio, a infantaria, na obtenção das esplêndidas vitórias que culminaram no cerco e rendição de mais de 15000 alemães.

riopo005

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

Veja também

livro1.jpg

Manoel Dantas Loiola – De Cangaceiro a Soldado da Borracha

Manoel Dantas Loiola, uma história intrigante! Muitos foram os brasileiros lutando pelo esforço de guerra …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese