No dia 14 de abril de 1945, teve início, no solo italiano, a tão decantada Ofensiva da Primavera do IV Corpo do Exército Americano, ao qual estávamos subordinados. O IV Corpo tinha por missão desalojar os alemães que se encontravam instalado nas montanhas dos Apeninos, a fim de alcançar o Vale do Panaro. As defesas alemãs eram conhecidas pelo nome de Gengis Khan e era, praticamente, um dos últimos pontos fortes com que os germânicos poderiam fazer frente aos poderosos exércitos aliados na Itália.
MONTESE – PATRULHA DE COMBATE NA ANTEVÉSPERA DO ATAQUE
Como preâmbulo da conquista de Montese, vou descrever a atuação de uma patrulha de combate, na antevéspera do ataque. Acredito que essa ação foi preponderante para a vitória alcançada.
O 3° Pelotão da 2ª Companhia do 11° Regimento, comandado por mim, na época 2° Tenente, ocupava, desde 10 de março de 1945, a posição defensiva da região de Biccochi, Cota 930, quando às 5:00 horas do dia 12 de abril, recebeu ordem do seu Comandante de Companhia, Capitão Sidney Teixeira Álvares, por via telefônica, para organizar uma patrulha de reconhecimento que, sob o comando de um Sargento, teria por missão reconhecer a elevação de Montaurígula e, caso não encontrasse resistência, chegar até Montese.
O Comandante do Pelotão, ciente de que atacaria Montese em breve e de que o itinerário previsto para a patrulha coincidia, em linha geral, com o eixo de ataque programado para seus comandados, solicitou, por esse motivo, ao Comandante de Companhia autorização para sair com uma pequena patrulha de reconhecimento, coberta pela patrulha principal, com o fim de melhor estudar o terreno que iria palmilhar. O Capitão Sidney encaminhou o pedido ao Comandante do Batalhão, Major Manoel Rodrigues de Carvalho Lisboa, que aprovou, em princípio, aquela sugestão, mas achou de bom alvitre que fosse apenas uma patrulha, a de combate, sob meu comando. Em face da decisão adotada, a patrulha, fortemente armada, com 21 homens, sendo 3 especialistas em minas, partiu às 9:00 horas da sua posição de combate (Biccochi), alcançando Montaurígula sem alterações.
Galgou a patrulha esta elevação e progrediu na encosta sul, rumo geral leste-oeste. Após atingir a metade da elevação, que possuía a forma de uma colina alongada, encontrou um campo de minas terrestre. O esclarecedor ponta de patrulha já havia caminhado alguns passos dentro do campo, quando percebeu, por sorte e felicidade, as minas, pois algumas se achavam expostas. Naquele momento dramático, um soldado integrante da patrulha comentou: “Furtado não morre mais nesta guerra”, referindo-se ao companheiro José Leite Furtado, o esclarecedor ponta. Passou, então, a atuar a equipe de minas, a qual abriu uma brecha no campo de cerca de 40 metros de comprimento por 1 metro de largura, retirando 82 minas terrestres, do tipo Schuchmine – quebra-canela -, que funciona com a pressão de 4 quilos. A patrulha, após cerca de 2 horas de espera, transpôs o campo minado, prosseguindo na sua missão.
Ao aproximar-se da parte oeste da elevação, Cota 759, divisou uma casa grande com dois pavimentos e muitas janelas, a qual tinha ao seu lado duas outras bem menores, sendo que uma delas devia ser simples depósito ou palheiro. Procurou alcançá-las, com toda cautela. Ao abordá-las, o dispositivo da patrulha era o seguinte: um terço dos homens colocado acerca de 180 metros das casas, nas partes mais altas do terreno, dispondo de um excelente campo de visão e fogos, e a quase totalidade dos demais se encontrava numa estrada, que tinha o piso baixo, assemelhando-se a uma trincheira, que distava cerca de 130 metros das casas. O esclarecedor ponta, o Soldado Furtado, ao transpor uma cerca de arame farpado, próximo das casas, foi atingido mortalmente por uma rajada de metralhadora, que partiu da minúscula casa. A patrulha respondeu imediatamente aos fogos, fazendo calar a resistência inimiga, tendo, possivelmente, abatido um soldado alemão, que se aproximou de uma das janelas.
Tínhamos, naquele instante, superioridade de fogos e o terreno nos era favorável, pois ocupávamos as partes mais altas da elevação. O moral da tropa atacante era alto. Havia gana por parte de alguns soldados, o que levou o Comandante da patrulha a conter aqueles que se expuseram inutilmente, atirando do parapeito da estrada, quando podiam fazê-lo, com precisão e relativa segurança utilizando-se do leito da mesma. Num estudo da situação, o Comandante da patrulha concluiu que um ataque frontal seria desgastante, por isso resolveu assaltar as casas pelo flanco direito do inimigo.
O Comandante da tropa mantinha contato permanente com o Comandante da Companhia, por via telefônica, por meio do Comandante do 2° Pelotão, Tenente Ary Rauen. Quando realizava os reconhecimentos necessários, objetivando assaltar as posições inimigas, recebeu ordem do Capitão Sidney para desengajar, afastar-se das casas, para que o batalhão bombardeasse as resistências inimigas, com morteiro 81mm, com o propósito de facilitar a conquista do objetivo. Ponderou que não precisava de bombardeio e pediu para sustá-lo, porquanto se encontrava muito próximo do objetivo, dominando-o pelos fogos e ultimando os reconhecimentos indispensáveis, com a finalidade de assaltá-lo.
Naquele ínterim manobrava parte da patrulha para a esquerda, visando ao flanqueamento das três casas. O Sargento, que procedia aos reconhecimentos, informou ao Tenente que o terreno não era favorável, pois se encontrava minado. Quando o Comandante da patrulha ultimava o reconhecimento de outro flanco, recebeu ordem de retrair, porque a Artilharia Divisionária iria efetuar bombardeio na região e a patrulha já havia ultrapassado de muito o tempo programado. A patrulha, antes de por em execução a ordem recebida, cumpriu a missão de honra cristã, que foi a de recolher o corpo do Soldado Furtado, que se encontrava muito próximo das casas onde se encontrava o inimigo, o que foi realizado com certa dificuldade, mas sem problemas. A seguir, procedeu a retirada, em ordem, disciplinadamente. Quando se encontrava a uma distância apreciável das casas, cerca de 350 metros, passaram os alemães a dar “sinal de vida”, dando algumas rajadas de metralhadora as quais foram respondidas, mas tudo sem maiores conseqüências. O tempo gasto pela patrulha foi de 5 horas, ou seja, das 9:00 às 14:00 horas.
Resultados obtidos pela Patrulha
1° – Reconhecimento minucioso do terreno;
2° – Localização e levantamento parcial de um campo minado, situado no terreno que estava previsto para ser, e realmente foi, uma das principais bases de partida do Batalhão para o ataque a Montese;
3° – Localização de um importante posto avançado do inimigo.
Texto enviado por: IPORAN Nunes de Oliveira (Tenente, combateu com a FEB na Segunda Guerra Mundial, destacando-se em diversas patrulhas de combate e em 3 batalhas – Monte Castelo, Castelnuovo e Montese, com o 11º RI)
Continua… FEB – Conquista de Montese Vista por um Comandante de Pelotão de Ataque – Parte I