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FEB – Desembarque em Livorno

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Os LCI

Após ter vencido o oceano e ali estavam os integrantes da FEB, prontos para saltar em terra e subir pela península acima, até onde os alemães estivessem, para lhes combaterem.

Os componentes do segundo e terceiro escalões desembarcaram em Nápoles no dia 6 de outubro e no dia seguinte seguiram em barcaças tipo LCI para o porto de Livorno, onde chegaram no dia 11 de outubro.

Todos caminhavam pelos conveses, admirando Nápoles. Então, aquele era o tal Vesúvio? Ora vejam só! O Vesúvio! Todos sabiam que o Vesúvio fica em Nápoles e se estavam em Nápoles, nada mais natural do que avistar o Vesúvio. Mas ninguém se cansava de olhar para o célebre vulcão, que aliás estava farto de ser admirado pelos turistas do mundo inteiro. Alguns nem acreditavam que aquele morro fosse mesmo o Vesúvio. Uma coisa ficou logo estabelecida: não se comparava a beleza da Guanabara com a de Nápoles e só mesmo o natural exagero do italiano poderia ter criado a frase “veddere Napole e poi morire”. Os pracinhas viram Nápoles e nenhum deles se julgou satisfeito, a ponto de desejar morrer, nem mesmo sabendo que ia para os campos de batalha.

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O Vesúvio

Iríam passar diretamente dos navios transportes para as barcaças de invasão e prosseguir a viagem para Livorno. Ficaram três dias presos a bordo, vendo Nápoles por um binóculo.

Raros foram os que puderam ir à terra. Havia grande carestia de vida. Um quilo de carne custava 80 cruzeiros e um par de calçado 1000 cruzeiros. Não se encontrava leite nem manteiga e a escassez de outros alimentos e roupas era grande. A tripulação estadunidense teve permissão para descer, em excursões turísticas.

No dia 9 começaram a se alinhar, uma ao lado da outra, entre os dois transportes, as barcaças de invasão LCI – Landing Craft Infantary -, as mesmas que tomaram parte na invasão do sul da França, meses antes. Para ela os soldados mudaram com toda a bagagem, acrescida de mais 25 quilos da cama rolo e da barraca.

O transporte da tropa iniciou às 13h00min., e terminou à 1h00min., do dia seguinte. Na manhã do dia 10 de outubro, zarpou o comboio de 56 barcaças, em bela formação de três filas, transportando os 10000 brasileiros do 2º escalão, através do mar Tirreno, em direção a Livorno, que os ingleses chamam de Leghorn.

Enquanto que no navio de transporte não houve muitos casos de enjôo, nas barcaças a realidade foi de amargar. Houve alguns soldados que quase morreram de tanto enjoar e não arredaram a cabeça do travesseiro. No entanto a viagem era maravilhosa para quem conseguisse controlar o estômago. Vinham margeando a costa italiana e avistando as ilhas de Ischia, Pongani, de Elba, o Castelo Volturno, as vilas de Fogliano, Nettuno, Ardea, Piombino, San Vicenzo, Cecina, Vada, Castiglioncello.

A manhã de 11 de outubro foi uma bonita manhã de sol, com o céu azul, que havia sucedido a um temporal, inclusive uma tromba d’água, desabou a frente das barcaças, sem as atingi-las. O mar entretanto ficou encapelado e balançava os navios, em todos os sentidos, de lado, de popa à proa, de todo jeito.

Além do balanço, havia para agredir os estômagos dos soldados a bóia de bordo – ração C – meat and vegetable – fria. Somente latas de suco de tomate e de laranja é que serviram de consolo. Para alguns foi esta a fase pior da guerra e, mais tarde, quando alguém falava em LCI, muitos sentiam arrepios na espinha e um frio no estomago.

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A caminho de Livorno

Afinal, ao meio dia, Livorno foi avistada e à tarde estavam todos atracados. Uma pequena parte da tropa ainda desembarcou neste mesmo dia, mas o grosso do pessoal pernoitou a bordo, descendo no dia 12 de manhã. Estava assim terminada a travessia marítima.

Saltaram em solo italiano, a poucos quilômetros do “front”, para iniciar a segunda etapa. Foram se juntar ao primeiro “Combat Team”, completar o efetivo da Divisão Expedicionária, ocupar o setor que lhes fossem designados e desempenhar as missões que os coubessem. O dia estava chuvoso e o desembarque se fez na lama.

Uma grande fila de caminhões estadunidenses, dirigidos por negros, os quais faziam parte das Companhias de Caminhões – Truck Company -, órgãos de Exército, se achava à espera.

Arcados sob o peso da bagagem lá foram enchendo sucessivamente os “G.M.C.”, que seguiam em comboio, pela estrada Livorno-Pisa, em demanda da Área de Estacionamento nº 3 – Staging Area number 3.

A estrada Livorno – Pisa era um dos trechos mais movimentados, pois Livorno era, depois de Nápoles, o principal porto de desembarque de material bélico. Dali os suprimentos se espalhavam por todo o teatro de operações, em milhares de viaturas. Em Livorno estavam localizados grandes depósitos de víveres, munições e toda espécie de material bélico. Apesar de esse porto distar apenas 80 Km de Spezzia, que era uma base aérea e naval ainda em poder dos alemães, os estadunidenses não tiveram dúvida em se instalarem à vontade, dada sua absoluta superioridade aérea.

Não obstante isso a proteção antiaérea da cidade era completa. Inúmeros balões cativos formavam uma grande rede protetora da zona portuária. Baterias antiaéreas se espalhavam por todo lado. Numerosos depósitos de bombas de fumaça se localizavam nos pontos estratégicos, prontas para lançar uma cortina de fumaça que esconderia os alvos em poucos minutos.

Mas, a principal proteção contra os ataques aéreos estava no campo de aviação de Pisa. Centenas de aviões de caça ali repousavam, aguardando o primeiro sinal para voarem em perseguição a algum avião inimigo que se aventurasse por aquelas bandas. Sob os escombros dos hangares destruídos do aeroporto de Pisa, os aviadores estadunidenses se instalaram e organizaram uma poderosa base aérea. Ali estavam também os valentes representantes da FAB, os destemidos aviadores brasileiros, que tanto valor e heroísmo demonstraram.

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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1 comentário

  1. Sr.
    Meu pai, médico do exército brasileiro, estava nesse transporte entre Napolis e Livorno. Lembro dele me contanto os dias passados em barcaças e todos enjoados e vomitando.
    Gostaria de saber mais informações da presença deles em Livorno. Como facilitar a minha busca?. Gostaria de ver o nome dele em alguma relação de militares.
    A propósito, ele voltou com vida.
    Att
    Carlos Farah

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