FEB – O Serviço de Transmissões

Serviço de capital importância, por meio do qual os comandos enviam ordens e recebem informações, o Serviço de Transmissões da FEB funcionou de modo impecável e exaustivo.

A cargo de oficiais de Engenharia, de que faz parte, mas cujas tendências modernas são de completa autonomia:

  • Chefiado pelo Major Arnaldo Augusto da Mata,
  • Adjunto o Capitão Hervê Berlanez Pedrosa.

Seus principais auxiliares foram:

  • Capitão Afrânio Viçoso Jardim, chefe do Depósito de Material de Transmissões – gravemente ferido, a 4 de janeiro de 1945, sendo substituído pelo Tenente Carlos Pereira;
  • Tenente Pedro Abdala, chefe do Grupo de Tradutores;
  • Tenente Aristides Pereira de Morais, do Serviço de Rádio.

Nos corpos de tropa havia dez Oficiais de Comunicações, encarregados do serviço nas unidades.

O órgão principal de execução era a Companhia de Transmissões:

  • Capitão Mário da Silva Miranda – Comandante
  • Capitão Hélio Richard – Subcomandante.

Completada pelos Tenentes:

  • Marcelo Mena Barreto Falcão,
  • Rui de Andrade Costa,
  • Gernes da Silva Costa – também ferido no dia 4 de janeiro de 1945 -,
  • Hélio da Costa Nunes Pinto,
  • Antonio Carlos Sequeira,

Intimamente ligada à tropa, agindo em plena zona de combate, as Transmissões pagaram o tributo de 4 mortos:

  • Os operadores de rádio Sargentos Assad Féres e Geraldo Santana,
  • O soldado mensageiro Ulpiano Santos e
  • O soldado cozinheiro Miguel Francisco Dias

E tiveram 15 feridos, sendo 2 oficiais, 2 sargentos, 3 cabos e 8 soldados.

A organização do Serviço compreendia as seguintes seções:

  • Chefia,
  • Serviço de Rádio,
  • Grupo de Tradutores,
  • Serviço de Transmissão do Departamento de Pessoal,
  • “2688 Signal Detachment”,
  • Pelotão SIAM,
  • Depósito de Material de Transmissão
  • Companhia de Transmissões.

O “2688 Signal Detachment” e o Pelotão SIAM foram duas seções estadunidenses, do V Exército, postas à disposição da FEB, a primeira para facilitar a ligação da FEB com o V Exército e IV Corpo, e a segunda – Signal Information And Monitoring -, para controlar a segurança criptográfica, o sigilo das comunicações pelo rádio e prestar informações de ordem tática das unidades em linha aos Comandantes da Divisão e do Exército.

Em todos os setores de atividades bélicas, o convívio brasileiro com os estadunidenses foi cheio de ensinamentos, dando oportunidade aos brasileiros de conhecer os progressos a que atingiram a ciência e indústria dos Estados Unidos e a fabulosa riqueza de meios com que eles literalmente abafaram seus inimigos. Entretanto foi no setor das Transmissões que maiores proveitos houve, pela variedade e perfeição de instrumentos postos em mãos dos especialistas brasileiros.

A quantidade de recursos a disposição da FEB excedeu a todos os cálculos e, segundo a opinião do Major Arnaldo Mata, nenhuma outra Divisão teve tão extensa rede de comunicações.

Foram consumidos

  • 6.610.000 metros de cabos telefônicos
  • 1.117 telefones.
  • 4 centrais de 45 direções
  • 85 quadros de 12 e 6 ligações.
  • 11 tipos diferentes de aparelhos rádio-transmissor – desde os montados em caminhões, até os portáteis, de 29 kg, com alcance de 8 Km, em radiofonia.
  • Telégrafos com fio,
  • Criptógrafos e teletipos.
  • Aparelhos de controle remoto e frequencímetros

Para estender as 1000 léguas de fios – 6000 km -, nossos homens utilizaram desenroladeiras à mão ou montadas em caminhões e jipes. As linhas telefônicas ao longo das estradas eram de fácil construção, mas difíceis de serem conservadas. Eram frequentemente danificadas pelos caminhões, tanques e tratores, ou cortadas por pessoas ignorantes ou de má fé. As linhas que se afastavam das estradas davam mais trabalho para construir, porém, se conservavam com facilidade.

O tronco de Porreta a Marano, para o Posto de Comando do 6º RI foi estendido pelo leito do Rio Reno, durante o inverno. Foi nessa construção que o Tenente Marcelo Mena Barreto Falcão apanhou graves geladuras nas mãos, que o fizeram baixar ao hospital.

Os cabos na maior parte não eram recolhidos, apesar dos esforços do Comando nesse sentido, sobretudo por falta de pessoal. Quando havia um deslocamento de PC, que liberava os cabos instalados, havia urgente necessidade de novas instalações, para manter a ligação com as unidades que avançavam. O pessoal era todo absorvido em acompanhar a tropa e os cabos iam ficando abandonados para trás.

Cada quilômetro de cabo custava 825 cruzeiros, donde se vê que só aí lá se foram 5 701 25 cruzeiros.

Os pombos-correios foram utilizados em pequena escala. O V Exército pôs ao serviço da Divisão Brasileira o “62nd. Pidgeon Loft” e muitos pombogramas foram enviados. Com o progresso da telefonia com e sem fio, esse processo de comunicação passou o segundo plano, embora haja tendência em conservar os pombos-correios, como recurso de emergência.

O Serviço de Rádio da Chefia de Transmissões estabeleceu o circuito Itália-Brasil, através da estação de ondas curtas JJQW, graças aos esforços do Capitão Hervê B. Pedroza. A princípio as comunicações se faziam com PUC, estação da Rádio Internacional, e mais tarde com PTA, Central Rádio do Exército. Assim é que durante a campanha o Quartel General da FEB na Itália estava em constante comunicação com o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro. Nos primeiros dias de maio de 1945, após a vitória, já em Alessandria, a JJQW iniciou as transmissões em radiofonia, falando diretamente com PTA. Criou-se então um serviço de ligações telefônicas entre PTA e as residências dos oficiais expedicionários, o que permitia conversarmos com pessoas de nossa família. O caminhão onde funcionava a JJQW se tornou a Meca dos expedicionários. As conversas radiofônicas principiavam às 21 horas – hora italiana – ou sejam 16 horas do Rio de Janeiro e às vezes se prolongavam por mais de duas horas.

Quando a Divisão se deslocou para Francolise, próximo de Nápoles, a JJQW se instalou numa pequena elevação, atrás do acampamento, para onde toda noite havia uma romaria. Foi organizada uma transmissão de mensagens ditas pelos próprios soldados, ao microfone, e ligações domiciliares para os oficiais. Nos primeiros dias houve cenas interessantes.

A ligação telefônica no Rio de Janeiro era feita de improviso e a pessoa que atendia já falava diretamente com o esposo, pai ou irmão, na Itália. A surpresa era tão grande que muitos desligavam o telefone, pensando se tratar de uma brincadeira. – Alo! Quem fala aqui é fulano. – Ah! Não é possível. Ele está na Itália. E pá! Punha o fone no gancho. Era preciso que o Major Masson obtivesse nova ligação e explicasse o que se estava passando. Muitos oficiais ficavam tão emocionados ao microfone, que não conseguiam entabular uma conversa. Gaguejavam uns lugares comuns, repetidas vezes e acabavam se despedindo. Também, não era possível dizer tudo que desejávamos nos curtos 3 minutos e ainda mais em público, pois todo mundo metia a cabeça para dentro do caminhão, para ouvir a conversa dos outros. As poucas palavras que diziam e sobretudo as que ouviam, tinha um sabor todo especial e cada qual voltava para a barraca, no meio da noite, por entre as oliveiras, olhando o céu estrelado e pensando nos entes queridos que estavam a milhares de quilômetros, e cujas vozes ouvira por alguns instantes, graças ao milagre da radiofonia.

O Major Mata e os Capitães Hervê e Richard, que dirigiam pessoalmente a JJQW, se viram alvos de 1000 pedidos e atenções. Todos queriam agradar aos donos daquele precioso caminhão, onde havia um microfone em ligação direta para Copacabana ou Tijuca. As Transmissões, que haviam sido de vital importância durante os combates, continuavam na paz a revelar seu inestimável valor na vida de uma tropa.

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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