COMPOSTA POR AMERICANOS E CANADENSES, FSSF GANHOU FAMA EM COMBATES NOTURNOS E DUROS INVERNOS
O trecho do diário de um oficial alemão capturado pelas forças estadunidenses dizia: Nunca conseguimos ouvir esses diabos negros se aproximarem. Os soldados alemães chamavam os homens da First Special Service Force (FSSF) de “Die Schwarzen Teufels” (Os Diabos Negros), por causa da graxa preta de sapato que passavam no rosto em operações noturnas. Outro fator psicológico eram as patrulhas, extremamente agressivas, realizadas por pequenos grupos, capazes de eliminar alemães de forma silenciosa, sem tiros, deixando um adesivo na testa dos mortos com os dizeres: O pior esta por vir”. Essas ações faziam que os alemães pensassem estar enfrentando uma divisão inteira, e não um regimento. O nível de intimidação era claro para os alemães, que logo chegaram a conclusão de que estavam enfrentando um tipo de formação de elite.
PREPARANDO O TERRENO
O cérebro da FSSF foi um cientista inglês de imaginação fértil e comportamento excêntrico chamado Geoffrey Pyke. Uma de suas idéias como funcionário do Comando de Operações Combinadas foi a criação de uma pequena unidade que operasse por trás das linhas inimigas em condições de inverno. Comandos capazes de serem leva dos por terra ou ar a países ocupados pelos nazistas, com o objetivo de realizar missões de sabotagem em locais estratégicos como usinas de petróleo e hidrelétricas.
A idéia de Pyke recebeu o sinal verde do almirante Louis Mountbatten, chefe d Comando de Operações Combinadas, e do primeiro-ministro Winston Churchill. Entretanto, em função da grande demanda de recursos do próprio Comando de Operações e da indústria britânica, ficou decidido que a proposta seria oferecida aos Estados Unidos. O general Georg C. Marshall, aceitou a sugestão e batizou a empreitada de projeto Plough (arar preparar o caminho, em português). Para comandar a nova unidade foi escolhido o tenente-coronel Robert T. Frederick, um jovem oficial da Divisão de Operações do Exercito americano. Em julho de 1942, o ministro da defesa do Canadá aprovou a participação de 697 soldados e oficiais no projeto. Frederick batizou esse incomum grupo de soldados de First Special Service Force (FSSF) e, em 20 de julho de 1942, a unidade foi oficialmente formada. O forte William Henry Harrison, em Helena, estado de Montana, foi escolhido como o local de treinamento, ideal por possuir planícies para as aulas de pára-quedismo e por ser próximo as montanhas para os cursos de inverno, alpinismo e esqui.
VOLUNTÁRIOS DURÕES
Em virtude da singularidade das missões da FSSF, o perfil ideal de seus membros eram indivíduos “durões”, capazes de lidar com as condições da guerra de inverno e
operações aerotransportadas. Um dos pôsteres de recrutamento americano dizia: “Americanos solteiros, com idade entre 21 e 35 anos, que completaram três anos ou mais de escola gramatical, que já trabalharam ou trabalham como lenhadores, guardas florestais, caçadores, garimpeiros ou exploradores”. Todos os recrutas – americanos e canadenses – então voluntários, e a única exigência dos canadenses era que o candidato tivesse experiência militar.
O treinamento era dividido em três partes. Na primeira fase, os homens qualificavam-se em pára-quedismo, armamentos, demolições e extenso treinamento físico. A segunda e terceira fase era composta de aulas de alpinismo, aclimatação a condições de inverno e táticas de combate.
O ápice da condição física era constantemente exigido em exercícios físicos diários. Longas marchas com mochilas (que a cada dia ficavam mais pesadas), culminando com uma marcha cronometrada de 96 quilômetros em terreno normal e 48 quilômetros em terreno montanhoso. Na época de inverno, instrutores noruegueses, especializados em esqui, davam um curso de seis semanas, com aulas complementares de alpinismo, navegação e sobrevivência.
Entre 1943 e 1944, os homens da FSSF, agora apelidados de “para-esquiadores”, participaram de diversas campanhas no Pacifico e no Mediterrâneo. O batismo de fogo aconteceu em 9 de junho de 1943, na operação Cottage – a invasão da ilha de Kiska, em Aleutas, no Pacifico. O desembarque foi feito em conjunto com uma unidade anfíbia americana (ATF 9). Não houve resistência, pois as tropas japonesas tinham sido evacuadas três dias antes. A operação foi considerada um “treinamento de luxo” para os regimentos da FSSF.
O segundo capítulo ocorreu na Itália, onde houve diversas campanhas. No dia 18 de novembro de 1943, agora sob o comando do general Mark Clark, a FSSF desembarcou em Nápoles. O comandante alemão na Itália, Marechal-de-Campo Albert Kesselring, conduzia uma brilhante campanha de atraso na península, mantendo suas posições em sucessivas linhas de defesa nas cadeias montanhosas da Itália. Suas posições-chave no inverno de 1943/44 ficavam ao longo da Linha Gustav (também conhecida como Linha de Inverno). Os alemães mantinham posições estratégicas no alto dos montes La Difensa, Camino e La Remetania O ataque aliado coordenado a Linha de Inverno levou o nome de operação Raincoat, e a FSSF recebeu a missão de atacar e tomar sua mais forte posição, o monte La Difensa, um gigante de 950 metros de altura.
Essa e considerada uma das missões mais relevantes da FSSF, por sua importância estratégica e pelo uso total de suas capacidades. O 2º Regimento da FSSF formaria a força de assalto primaria, com o 1º regimento na reserva. O ataque seria feito pela retaguarda do monte, com os batalhões escalando um rochedo escarpado de 60 metros, onde os alemães haviam relaxado as defesas por acreditarem ser uma via intransponível. No dia 1° de dezembro, a FSSF chegou a base do monte, onde a 363 Divisão de infantaria americana estava entrincheirada. Na noite seguinte, o 2º Regimento estava preparado para a ação.
MISSÃO IMPOSSIVEL
Um batalhão, somente com armamento leve, iniciou a escalada na escuridão da noite, seguido por diversos carregamentos de 40 quilos por homem, com armas pesadas e equipamentos. O monte La Difensa foi tomado em duas horas de combate noturno, e os alemães tiveram de recuar, deixando para trás 80 soldados mortos. A reação da artilharia alemã foi violenta e prolongada, direcionada tanto ao 2º Regimento, no pico, como para o 1° Regimento, na base do monte. Um forte combate também acontecia no monte Camino. O 3° Regimento e o batalhão de serviço e suporte começaram a receber fogo enquanto escalavam o penhasco, com água, comida e munição para levar suprimentos ao entrincheirado 2º Regimento. O transporte de feridos entre a base e o pico era uma viagem de ida e volta de l 2 horas. O 1° e o 2º regimentos, por fim, se uniram no pico e, no dia 5 de dezembro, tomaram o monte La Remetania. Na tarde seguinte, os britânicos conseguiram tirar os alemães do monte Camino. A batalha resultou em 511 baixas das quais l 16 em conseqüência de exaustão – resultado do clima frio e úmido, da falta de suprimentos e do difícil terreno. O ataque ao monte La Difensa rompeu a Linha de Inverno e será lembrado para sempre por ambos os lados, como a “missão impossível” que a FSSF cumpriu.
Ate o dia 17 de janeiro de 1944, o FSSF tomou outros dois montes – Sammucro e Majo -, continuando a campanha italiana com os desembarques em Anzio (operação Shingle). As operações em território Italiano culminaram com a liberação de Roma em 4 de junho de 1944. A força também encabeçou os desembarques no sul da França em agosto, na operação Dragoon.
No final de 1944, o governo canadense estava preocupado com a falta de pessoal. O lº Exército canadense sofreu grandes baixas no avanço em direção ao coração do Terceiro Reich. A guerra estava mudando de rumo, e o Exercito canadense precisava de homens no campo de batalha O Alto-Comando não acreditava mais no uso eficaz da FSSF conforme seu propósito original. Por isso, em 23 de novembro de 1944, a FSSF foi desativada.
FONTE: POR DANILO CEZAR CABRAL
REVISTA GRANDES GUERRAS – EDIÇÃO 26 – DEZEMBRO 2008
MAPAS DE OPERAÇÕES DA FSSF
Kiska | Winter Line | Cabeça de Praia – Anzio |
Roma | Sul da França |
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