Em abril de 1945, uma pequena cidade italiana chamada Montese tornou-se o epicentro de uma batalha que marcou para sempre a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Para os combatentes brasileiros, a conquista desse território não era apenas uma missão; era o enfrentamento de um inimigo entrincheirado em sua última linha de resistência. O sacrifício e a coragem demonstrados nesses dias de fogo deixaram um legado de dor e bravura, selando o nome de Montese na história da participação brasileira na guerra.
Uma batalha marcada pelo desafio implacável
No amanhecer do dia 14 de abril, os soldados do 11º Regimento de Infantaria – conhecido como Regimento Tiradentes – partiram para a ofensiva. Sob o comando do Coronel Sérgio Gomes Pereira, o III Batalhão avançou pelas encostas de Montese. O relato do Coronel é direto: “Foi o combate mais duro que vivi.” À medida que avançavam sob o fogo intenso de metralhadoras e morteiros, o cenário tornava-se cada vez mais hostil. O barulho ensurdecedor e o cheiro de pólvora misturavam-se ao medo e à determinação dos homens.
A resistência alemã, fortemente armada e bem posicionada, tornava cada metro uma conquista sangrenta. Em meio a explosões e disparos incessantes, muitos tombaram. Entre as perdas, os sargentos Orlando Randi e Euclides são lembrados por sua bravura. “Eram homens valorosos que não voltariam mais,” lamentou o Coronel Sérgio, destacando a dureza de avançar enquanto enfrentavam baixas significativas em suas fileiras.
Nos dias que se seguiram, os soldados brasileiros enfrentaram uma escalada de dificuldades. Os inimigos, entrincheirados nas colinas, dificultavam o progresso a cada instante. Contudo, mesmo diante de um inimigo implacável, os brasileiros mantinham o foco, conscientes de que Montese era um objetivo estratégico crucial para abrir caminho à vitória final.
A vitória coberta de perdas profundas
Após quatro dias de combate, no dia 18 de abril, Montese foi finalmente conquistada. Os soldados encontraram a cidade vazia, com os alemães em retirada. Mas essa vitória veio com um gosto amargo. “Conquistamos Montese, mas a sensação era mais de alívio do que de triunfo,” relatou um combatente da linha de frente. A cidade estava em ruínas, e as perdas humanas pesavam sobre cada sobrevivente.
Os números falam por si: mais de 400 brasileiros foram mortos ou feridos durante o confronto. Cada casa destruída e cada rua tomada simbolizavam não apenas a força da ofensiva, mas também o preço cobrado em vidas e na saúde mental dos soldados. Para aqueles que voltaram, Montese tornou-se uma lembrança constante – um território físico que carregava o peso das memórias de camaradas caídos e da brutalidade da guerra.
A batalha em Montese consolidou a FEB como uma força determinada e resiliente, capaz de superar condições extremas e um inimigo bem preparado. No entanto, o impacto emocional ficou evidente em cada relato. A coragem que levou à conquista da cidade também deixou cicatrizes profundas em uma geração que ousou enfrentar o impossível, pagando com sangue o preço da liberdade.
Fonte: HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL