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O Brasil Próximo da Guerra e os Problemas da Segurança Nacional

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Ataque a Pearl Harbor

O ataque japonês a Pearl Harbor precipitou a entrada dos Estados Unidos na guerra. Deste momento em diante, não tardaria a nossa vez. Tínhamos a certeza de que seria um lance angustioso. País de imigração, possuindo em todo o território nacional e principalmente no Sul grandes núcleos de colonização estrangeira, intimamente vinculados à terra e à vida dessas regiões, não seria fácil, sem grave comoção intestina, passar a um estado de beligerância ativa, mormente quando era público e notório que a ditadura que nos governava tinha pendores e simpatias pelos países do Eixo. E que, no Alto Comando do Exército, ainda predominava uma forte corrente de militares germanófilos, simpatizantes do poderio militar alemão.

É verdade que o governo brasileiro se guardara contra qualquer atividade nociva ao país, por parte dos núcleos coloniais italianos e germânicos do Sul. Medidas de vigilância e uma legislação especial foram implantadas com aquela finalidade, mas visando somente o campo político-social, embora com a colaboração do Exercito. Nada se fez, entretanto, no campo militar propriamente, nem mesmo na previsão de um desembarque na nossa costa, quer no Norte, quer no Sul do país.

As medidas de vigilância do litoral eram muito sumárias. Quem poderia impedir, por exemplo, no transcurso de determinadas fases da Guerra Mundial, que se tentasse abrir um novo front, com desembarques na costa de Santa Catarina? Qualquer que fosse o efetivo aí desembarcado, seria acrescido imediatamente de milhares de alemães e descontentes, entre os quais já se citavam verdadeiros líderes e gauleiters, nada impedindo que possuíssem até seu planejamento próprio, tal a excitação que dominava o mundo. A muitos passou despercebida, ou melhor, não foi dada maior significação, em plena guerra, à ocupação estadunidense no Nordeste do Brasil, com a instalação da Base-Aérea de Natal – Parnamirim – e do Comando do Atlântico Sul, em Recife, verdadeira e importante Base Naval, conexa com a de Natal. Em ambas, em dados momentos estacionavam mais de 20000 homens militares estadunidenses, dotados dos mais poderosos recursos.

Se os alemães tivessem operado desembarques no Sul do país, a título de proteção de suas “minorias” aí domiciliadas, teríamos a luta intestina a corroer a unidade nacional. E se outro fosse o desfecho da Segunda Guerra Mundial, a esta hora teríamos o território do Brasil amputado.

A Ditadura paternalista de Vargas, que já durava doze anos, nos deixava meio insensíveis e descontrolados. Os alemães e italianos possuíam submarinos transatlânticos, de 6000 toneladas, que vinham buscar cargas e matérias-primas em Buenos Aires e, talvez, mesmo, clandestinamente, em algum ponto de nossa costa. Por que não poderiam trazer pessoal militar, para uma infiltração sistemática, apoiada por navios-corsários?

Ainda está na memória de todos, com amargura, a lembrança do torpedeamento covarde de cinco cargueiros nacionais, entre os quais o Baependi, à vista da costa de Sergipe, tão próximo que houve quem se salvasse a nado. Naquele fundo do mar ainda repousam, hoje, os canhões, as bandeiras e o próprio comandante de um grupo de Artilharia, Tenente-Coronel Lauderico de Albuquerque Lima, tombado como qualquer mártir no campo de batalha, pela unidade nacional. Deslocava-se para Alagoas, com todos os riscos, que acabaram eliminando-o e à sua unidade, quando seguia para reforçar o sistema de defesa do litoral brasileiro. E tudo isso obedecia a um empirismo de estarrecer.

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Gen. Pedro Aurélio Góes Monteiro - em pé

O conselho de Segurança Nacional era submisso e inoperante. E o grande conselheiro militar, todo poderoso perante o Governo e de crédito ilimitado, era o Gen. Pedro Aurélio Góes Monteiro, homem dotado de brilhante inteligência, grande cultura geral, mas orientado por uma formação defeituosa, personalista extremado. Misturava política com militância e influía decisivamente no espírito e nos atos das mais altas autoridades civis e militares, depois de exercer completa catequese sobre a própria pessoa do Ditador-Presidente.

Essa verdadeira balbúrdia generalizada, tinha que, inevitavelmente, influir na evolução do processo militar, pela absoluta ausência do imperativo da lei, substituído pelo arbítrio do Ditador, cujo pensamento era sempre uma incógnita, embora isento de arrebatamentos. Faltava, em tudo, a essência da democracia: a representação do povo.

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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