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O perfil do homem que chegou para compor a FEB

O perfil dos homens que foram selecionados para compor a FEB era composto de todos os tipos raciais. Não havia neles nenhum preparo militar. Muitos eram analfabetos ou com baixa escolaridade.

A péssima seleção de pessoal fez com que fossem incorporados psicóticos e esquizofrênicos. Quando se mencionava fazer um exame psiquiátrico em qualquer elemento, esses se revoltavam, pois havia, e ainda há a crença de que é só para tratamento de loucos, e eles não se consideravam loucos.

O estado de saúde da maioria dos brasileiros da época era horrível. As condições de higiene bucal eram vergonhosas. homem febBocas banguelas e fétidas. Estes eram em tão grande número que não houve tempo de tratá-los aqui, e o tratamento dos melhores – que mesmo assim, não deixavam ser precários – foi feito durante a viagem e na Itália. Vale salientar que na Itália foram realizadas mais de 17000 extrações. Um índice de 50 extrações diárias, num período de 11 meses. Os oficiais do exército brasileiro tiveram dura tarefa para formar uma tropa combatente de um contingente como este.

Para contornar as deficiências dentárias, que eram em grande número, foram contratados serviços de profissionais civis em seus consultórios, na cidade, cujos resultados, pela urgência do tempo, foram imperfeitos.

A alimentação era satisfatória, tendo ótima aceitação um suculento mingau servido após o trabalho de educação física (corrida). Com a proximidade do embarque, houve a providência de maior consumo de verduras e ovos, visando melhor adequação alimentar futuramente. O ovo cozido agradava a todos. Quando algum praça dizia arrogantemente “não quero nem ovo” significava que estava muito contrariado ou doente, naquele dia. Era bom observá-lo…

tropasdafebO fardamento adotado e distribuído para o pessoal, de maneira, foi abundante, mas de qualidade inferior e imprópria. Seus criadores devem ter fixado a ideia de que a  FEB lutaria mesmo na África.

Quanto as medidas de prevenção sanitária, as vacinas ocupavam a posição de serem as mais desagradáveis, devido a grande variedade de fins a que se destinavam (5 ou 6 tipos). Mas os praças suavizavam o sacrifício ironizando: “de graça, até vacina é bom”.

Os sacos destinados à guardar os fardamentos e utensílios do pessoal, com as variedades “A” e “B” para as praças e mais o “C” para os oficiais, ganharam destaque no período de preparação, e, principalmente, no teatro de operações, quando serviram até para distinguir qualidades de combatentes. Nos preparativos para o embarque, as constantes arrumações de sacos, para serem vistoriados por oficiais, enchiam o “saco”‘ de todo mundo…

As expressões “não querer nem ovo”, “de graça, até vacina”, “enchendo o saco” ou “saco cheio”, hoje faladas em todo o país, originaram na correria da organização da FEB.

Naquele período final de preparação da tropa, existiu no Regimento um sumário curso de esgrima à baioneta para oficiais (tenentes). Os exercícios eram conduzidos por dois sargentos estadunidenses (monitores), os quais eram pouco convincentes, talvez por trabalharem com oficiais também desinteressados com a aprendizagem.

homemfeb2Os exercícios com arma (fuzil) eram antecedidos por um aquecimento muscular um tanto cansativo. Procuravam imprimir um caráter de violência e mesmo ferocidade na aplicação dos golpes de apontar, arrancar, bater, etc.
Os manuais (traduzidos) para aprendizagem dos diversos ramos de instrução foram distribuídos de maneira satisfatória. Um deles, o FM7-10 – Manual de Campanha da Infantaria – era uma preciosidade. Nele havia tudo que pudesse ocorrer com a Companhia de Fuzileiros em campanha, porém seus ensinamentos foram poucos observados…

Não há registros, pois naquele tempo não havia ainda esse tipo de pesquisa, mas com base na documentação existente, exceto o corpo de oficiais, as classes mais favorecidas, o que hoje denominamos de classes “A” e “B”, não integraram de forma expressiva a FEB.

Componentes da classe “A” eram de um número tão insignificante que não figurariam em nenhuma pesquisa; os da classe “D” formava um grupo super reduzido. A classe “C”, aquela que na época era chamada “povinho”, e hoje “povão”, foi a grande fornecedora da tropa. Predominando os de origem rural ou do pequeno comércio. Talvez essa composição social da formação da FEB explique muita coisa, e também o motivo pelo qual os intelectuais, sociólogos e escritores nunca terem estudado ou escrito sobre este fenômeno político-militar que foi a FEB.

A literatura sobre a FEB é, em sua grande maioria, memorialista, foi escrita por ex-integrantes. Inúmeros episódios políticos, após a FEB, já foram estudados, debatidos, mereceram monografias, livros e diversas interpretações, inclusive de autores estrangeiros. Sobre a FEB, sobre o soldado brasileiro que combateu no frio, na lama, pouquíssimo foi escrito.

Com a seleção feita a trancos e barrancos e o treinamento com um material mais moderno, emprestado pelos estadunidenses, a FEB foi considerada em condições de embarcar. Muitos preparativos, muita festa, muitas anedotas corriam, pois a aposta geral era de que a FEB não embarcaria. O Coronel Élber de Mello Henriques, afirmou em seu livro “A FEB 12 anos depois”, que o General Cordeiro lhe havia contado:

– Sabem por que a FEB não sai? Simplesmente por que:
O comandante é DE MORAIS, o Comandante da Infantaria é DA COSTA e o Comandante da Artilharia não é de briga, pois é CORDEIRO.

Mas apesar de todos os pesares, a FEB saiu…

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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