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Os Mensageiros da FEB – Heróis Anônimos

De varias funções importantes no conjunto da Força Expediconária Brasileira, a de mensageiro é uma da qual deveríamos nos aprofundar e estudar cada qual veterano que a praticou, pois esses homens foram heróis anônimos, das mãos deles muito homens foram salvos e muitas batalhas foram ganhas, muitas vezes sem dar um tiro, contribuiu para que a FEB fosse vitoriosa.

O soldado que era designado para ser mensageiro tinha que ter abnegação da vida em prol da vida de milhares de pessoas, tinha que ter cautela, carinho com o serviço e principalmente heroicidade, porque esses passaram por situações horriveis, eles não dormiam, não tinha descanso, saiam em missões em campo aberto na madrugada, no frio, na chuva, debaixo de tiros de metralhadora e de granadas, passava por campos minados, e com ele carregava apenas seu fuzil para sua proteção e a fé em chegar vivo, mas o que seria um simples fuzil caso encontrasse com patrulha inimiga.

Os mensageiros da FEB tinham a trabalho de entregar mensagens do Estado Maior paras as companhias e unidades informando sobre ataques ou patrulhas, e muitos mensageiros morreram em missão, outros ficaram feridos, e outros mutilados por toda a vida, mas muitos terminaram a missão e voltaram para contar sua historia de vida.

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Segue abaixo um texto interessante do livro “Lenda Azul – A Atuação do 3° Batalhão do Regimento Sampaio na Campanha da Itália – escrito pelo General Walter de Menezes Paes” Pág.: 33-35 – Essa peque historia, é também muito envolvente e nela mostra a coragem do soldado brasileiro.

O INIMIGO ATACA À NOITE

Cerca das 17:00h, começam a cair alguns tiros de artilharia e morteiros em nossas posições, particularmente na região de cota 670 e nas casas da encosta S da elevação da Torre di Nerone. Alguns são fumígenos. Tinha-se a impressão de uma regulação.

As sombras da noite descem, rapidamente; os tiros são suspensos.

Os últimos companheiros do 6° RI já estão próximos aos veículos que os devem conduzir estrada abaixo quando, de repente, o ar vibra novamente com os silvos das granadas inimigas. E a terra treme sob violentíssimo bom­bardeio, que desaba de modo especial sobre a 8° Cia e bate, impiedosamente, o interior da posição. Em um abrir e fechar de olhos estão partidas todas as linhas telefónicas. Os aparelhos de rádio são postos no ar: interferência, estática. As ligações tornaram-se dificílimas.

Esse bombardeio, tão intenso e em cadência tão acelerada, ligado, ao que supúnhamos a uma regulação, poucos minutos antes, levou-nos a pensar que algo muito importante se iria desenrolar. Tínhamos que esperar uma investida do inimigo. E era preciso que o Batalhão estivesse pronto para recebê-la, absolutamente ajustado, coeso, solidário. Era a nossa prova de fogo. A nossa estreia. Esse acontecimento iria ter influência real sobre a Unidade, no resto da campanha. Precisávamos prevenir desanimos, fraquezas, pânico. Era imperioso que restabelecêssemos as ligações.

Nessa hora crítica, o Comando do Batalhão precisava mostrar-se presente, ampa­rar seus comandados, estender-lhes as mãos, mostrar-se firme, vigilante, in­dómito.

Vai começar o rosário de sacrifícios, a série de atos de destemer, de bra­vura dos anónimos auxiliares do Comando; partem as turmas de telefonistas para correr e emendar as linhas esfaceladas; lançam-se os mensageiros em busca dos primeiros informes.

O bombardeio continua terrível. Causa emoção a serena bravura daque­les heróis, cujas silhuetas aparecem, aqui e ali, agigantadas pelo esplendor das explosões.

As granadas chovem, também, em torno do Posto de Comando e já a nossa sentinela, soldado Franklin Marimbondo da Trindade, atingido por dois estilhaços na perna, está caído dentro da pequena sala, sendo socorrido.

Ò dantesco da cena é de difícil descrição. Ela precisa ser vivida, para ser bem sentida.

A terra treme as trevas s2o rasgadas, ininterruptamente, pêlos clarões das explosões; lama, pedras e galhos são lançados pêlos ares; o barulho dos arrebentamentos e os silvos das granadas são ensurdecedores.

E, cm meio a tudo isso, os homens se agitando, emocionados, no cumpri­mento de seus deveres.

O bombardeio é mais intenso lá para as bandas da 8° Companhia. Para lá é mandado um mensageiro, em busca de ligação. É um soldado moço, quase um adolescente.

Estudante, na vida civil, creio. Desde a véspera está no PC do Batalhão, como mensageiro. Dava a impressão de um rapaz edu­cado, habituado à tranquila vida de família. Fizera-se reservista num Tiro-de-Guerra e parece que sua primeira grande aventura eia a convocação para a FEB. Muito disciplinado, atendeu rapidamente, sem uma palavra além do “Pronto” da linguagem do quartel. De pé, fuzil à mão, recebeu a ordem. Devia dirigir-se ao PC de seu capitão.

O percurso, embora muito curto, era ingrato, pois precisaria o soldado vencer as explosões. E, o que era pior, sobrepor-se ao instinto de conser­vação que nos prende a relativa segurança de um abrigo. Li em seus olhos a luta que lhe ia na alma: seu cérebro apontando-lhe o caminho do dever — seus pés, presos à vida. Repetiu maquinalmente a ordem e acrescentou, enfaticamente: “Eu vou sim, Sr. Capitão!”.

Emocionei-me. Meu coração se comprimia ao ver aquele jovem ter que enfrentar o inferno de fogo. Mas havia o dever. O meu, de ordenar; o dele, de executar! Tive ímpetos de realizar a missão do jovem soldado. Mas não me faltou força para cumprir o meu dever.

A mais uma repetição de “Eu vou, Sr. Capitão”, lembrei-me de ter visto, pela manhã, uma medalhinha no peito daquele rapaz. E, instintivamente, disse-lhe, com ar paternal, mão em seu ombro: “Você é católico, meu filho, vá e Deus o ajudará!”.

Ficou-me a impressão de que uma luz brilhou naqueles olhos arregala­dos. Um sorriso aflorou aos seus lábios ressequidos. E o rapaz moveu-se.

Começavam a se fazer ouvir as primeiras rajadas de armas automáticas, nossas e alemãs. Temi que o soldado já encontrasse, no caminho, alguma patrulha inimiga infiltrada em nossas posições. E avisei-lhe: “Arme sua baioneta!”

Não sei se o desejo de ir logo, se a semi-escuridão, se a emoção do ho­mem que se encontrara, ou se o autodomínio que chegara aos pés do sol­dado não havia, ainda, inteiramente atingido suas mãos. O fato é que, nervosas, elas não conseguiam ajustar o punho do sabre ao seu engate, no fuzil. Tomei-lhe a arma, contraí os músculos para que não me ocorresse o mesmo, armei a baioneta e devolvi-lhe o “Springfield”. Não me agradeceu. Ou melhor, não agradeceu com palavras; abriu um largo sorriso de confiança, já afas­tando o cobertor que, pendurado nos caixilhos, substituíra a porta arrebentada por uma granada. E lançou-se na escuridão…

Instantes depois voltara, risonho, sujo de lama no rosto, com os olhos chamejando: “Eu não lhe disse que ia, seu Capitão?”… E transmitiu-me a mensagem do Capitão Amadeu.

Respirei aliviado. Creio mesmo que o abracei. De contentamento, por vê-lo salvo. De alegria, pelo estímulo e pelo exemplo que nos dava aquele jovem soldado. Não lhe guardei o nome. Perdi-o em meio aos muitos que, modestamente, foram autores de episódios semelhantes. Mas não esqueci o fato, minha primeira emoção de combate!

Poderia ter omitido-o episódio, mas este depoimento ficaria incompleto se, de quando em vez, não o salpicasse com as nossas próprias emoções. Pois, para um infante, o combate é uma sequência de emoções_que precisam ser dominadas. É uma luta moral em que a razão deve dominar o coração.

Em 15 de junho de 1983, trinta e nove anos depois, em solenidade de posse da Diretoria da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expe­dicionária Brasileira, alguém, às minhas costas, pergunta-me:

– “Posso abraçá-lo, Capitão Walter?”

Ao virar-me, defrontei-me com um homem já grisalho, tez morena, quei­mada pelo sol, indicando trabalho no campo, ostentando rugas nos cantos dos olhos úmidos de lágrimas. Surpreso, lembrei-me vagamente das feições daquele homem, que confessou ter também pedido a alguém que me iden­tificasse. Somente então a mim se dirigira. E acrescentou:

– “Vou repetir uma frase sua, no tom em que o senhor a pronunciou; e o Senhor irá me identificar imediatamente.”

E acrescentou, com voz vibrante: “Mensageiro da 8°!” Respondi-lhe imediatamente, também com os olhos marejados:

– “Torre di Nerone! 22 de novembro de 1944! 17:30 ho­ras! Você, o mensageiro”.

Abraçamo-nos fraternalmente, sem podermos conter as lágrimas. Quanta emoção

Havia identificado o heróico soldado a quem me referia linhas acima. Chama-se Eurico Pereira.

Resgato aqui a dívida para com esse velho companheiro, por não ter registrado, na memória, o seu nome. E enfatizo, neste momento, não apenas a importância — para o Batalhão e para todos nós, que o integrávamos — daquela primeira noite de combate; mas também a fraternidade dos com­batentes e a coesão de nossa Unidade. E a alma do combatente brasileiro!

Fonte: O Brasil na Guerra – Kepler A. Borges

             Lenda Azul – A Atuação do 3° Batalhão do Regimento Sampaio na Campanha da Itália – General Walter de Menezes Paes

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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1 comentário

  1. Queria saber se vcs tever um mensageiro com.o nome de jose sampaio sa rocha isdo e muito.importante p.mim
    Mim ajuda
    Gostaria muito de acha o s parente do meu avo ele disse q era mensageiro aonde eu acho a lista dos nome

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