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Relatos da Segunda Guerra – De onde vem os tiros?

Esse texto foi tirado de um livro da coleção “História Oral do Exército na Segunda Guerra”, mas também tive o prazer de ouvir relato oralmente do próprio veterano Major Samuel. O Major  me contou aos pés da metralhadora Browming .30, refrigerada a água, idêntica a que usou na Itália, que hoje esta no museu na Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Seção de São Paulo.

Major Samuel junto a metralhadora Browming .30, idêntica a que ele manejou na Itália durante a Segunda Guerra Mundial (28.10.2011)

 

Não se tinha ideia da distância porque era montanhoso demais, e assim fomos avançando até que numa tarde, acompanhando o Pelotão de Fuzileiros, de repente estávamos recebendo tiros de metralhadora. Alguns até pensaram que eram brasileiros, que saíram pelo lado e apareceram na nossa frente e foi aquela confusão. Uns diziam que era o alemão, outros diziam que não era, mas eles continuaram atirando com a metralhadora, dando aquele tiro luminoso, um traçante, diferente do nosso.

A nossa munição traçante era vermelha na sua trajetória e aquela era meio prateada e esverdeada, bem diferente da nossa; aquilo começou a chamar a atenção e atingir o pessoal, que se dispersou rapidamente. Eu estava com uma metralhadora que caiu num lugar e o reparo caiu em outro; a segunda peça atrás tinha que deitar e não conseguia fazer o tiro.

De ouvido não dava, então chegou a um ponto em que eu estava separado, olhando as balas atingirem o pessoal, cortando tudo em que pegavam. Até que recebemos aquela rajada que estremeceu o chão, espirrou o barro e pegou a quase um metro de minhas pernas. E lá naquele local tivemos que permanecer, mas eu consegui que um soldado do Pelotão, que portava fuzil-metralhadora, atirasse para o morro de onde estava partindo o fogo inimigo.

Browming .30 – Museu da FEB, na Associação dos Ex-combatentes do Brasil – seção de São Paulo (28.10.2011)

 

Eu não via as pessoas, não via o inimigo, mas sabia de onde vinha o fogo, até que um soldado da 8a Companhia, se não me engano, o soldado Maurino, que estava com o fuzil, conseguiu atirar para lá. O meu pessoal, agora já bem posicionado, fazia o tiro ajustado. Estava escurecendo e passaram a atirar granadas de fuzil. Eu ouvia aquelas explosões e não sabia de onde vinham.

Ouvíamos as explosões e, quando escureceu, tomamos posição no morro em frente e lá ficamos. O Tenente, que estava no comando, organizou o pessoal já abrigado. Mas, à noite, o que fazíamos era vigiar; quem aparecesse ali, vindo do lado oposto, era inimigo. Ficamos ali, passamos a noite sem atirar e com muito medo de sermos feitos prisioneiros, porque falavam que eles pegavam e torturavam os prisioneiros. Eu tinha muito receio de ser aprisionado e ficava sempre preparado para atirar no escuro, mesmo sem ver.

Passamos a noite e aí aconteceu uma coisa alarmante: não poderíamos ficar reunidos, nem perto um do outro, porque uma granada poderia cair e atingir a todos. Aí ficava-se longe e o pessoal falava baixinho, mas pouco a pouco todo mundo estava reunido de novo em torno dos chefes, ou seja, havia uma tendência de se reunir em torno do comandante, que não sabia muito mais do que nós.

Era a primeira vez, não tínhamos experiência e depois do amanhecer, já no dia seguinte, recebemos ordem para nos deslocarmos para outro lugar. O Comandante desse Pelotão era o Tenente Gerson Machado Pires e foi sob o comando dele que tive o meu batismo de fogo. Nesse lugar, ainda foi ferido um soldado meu, João Ramalho, que teve uma costela quebrada com um estilhaço e foi mandado para a retaguarda a fim de ser socorrido.

 

Fonte: História Oral do Exército na Segunda Guerra – Tomo 7  – E do próprio Veterano.

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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