O Tenente-General George S. Patton Jr. era o cão de briga do comando aliado. Durante toda a campanha do oeste europeu ele conduziu o 3º Exército por uma jornada de vitórias.
Os comandantes alemães conheciam sua tenacidade, sabiam que ele empregava de forma muito eficiente seus recursos e conseguia tirar o máximo de desempenho dos soldados sob seu comando. Eles reconheciam que se Patton reunisse os recursos de que necessitava alcançaria o sucesso e os derrotaria.
Suas habilidades o tornaram um gigante em batalha e o inimigo mais temido pelos nazistas.
Hitler vai à luta
Em dezembro de 1944 os exércitos aliados já haviam libertado grande parte da Europa Ocidental, fazendo as tropas alemãs retroceder para a Alemanha. O General Eisenhower neste momento já vislumbra a vitória e o fim da guerra. Mas Hitler se nega a aceitar a derrota. Meses antes ele havia planejado junto com seu Estado-Maior um ataque de grandes proporções pelo flanco noroeste através da floresta das Ardenas. Seu principal objetivo: isolar as forças aliadas de sua base de suprimentos e capturar o porto de Antuérpia. Um plano ousado, pois além do mau tempo, Antuérpia estava a pelo menos 200 km do ponto de partida.
Seu plano consistia em lançar um ataque surpresa sobre as tropas aliadas na Bélgica em fins de novembro, porém diversos atrasos causaram o adiamento da operação para 16 de dezembro de 1944. Quatro exércitos foram organizados para essa grande ofensiva, o 7º, o 5º Panzer, o 6º Panzer SS e o 15º. Um total de 48 divisões seriam empregadas nos estágios iniciais da batalha.
Na madrugada de sábado 16 de dezembro, as tropas alemãs se lançam sobre a região, que estavam sendo guarnecidas por tropas desfalcadas do 8º Corpo do exército sob comando do Major General Middleton. O impacto foi tão avassalador que em pouco tempo as tropas aliadas começaram a perder suas posições. A 28ª Divisão de Infantaria sofreu milhares de baixas. Colocando forte pressão os alemães já no primeiro dia conseguiram abrir uma brecha de 22 km na linha de frente aliada.
Em seu QG Eisenhower prepara planos de contingência para barrar o avanço alemão. Ele decide enviar reforços para as cidades estratégicas de Bastogne, St Vith e Malmedy. Mas para que os reforços cheguem a tempo é preciso que as tropas de linha de frente retardem o avanço alemão. Duas eram as alternativas; minar trechos da estrada, ou criar bloqueios estratégicos na rota de ataque inimiga. Ike optou pelas duas alternativas. Tais medidas foram de grande valor, pois retiveram os nazistas permitindo que os reforços chegassem a seu destino.
Mas apesar da brava resistência, as unidades alemãs em menos de 48 horas derrotaram os diversos postos de contenção, matando ou aprisionando os soldados estadunidenses. A 1ª Panzer SS utilizou gado para limpar os trechos minados da estrada.
Em 18 de Dezembro as tropas alemãs haviam destruído os principais pontos de resistência. Por todo o campo de batalha havia grupos de soldados americanos que se encontravam desgarrados de seus companheiros e de suas unidades. Sob o comando do general Norman Cota os remanescentes da 28ª Divisão de Infantaria deslocaram-se apressadamente para a retaguarda, abrindo caminho para o avanço das unidades alemãs.
Bastogne
Na noite de 18 de Dezembro a 101ª Divisão Aerotransportada chega em Bastogne. Rapidamente o general McAuliffe adota medidas defensivas. A cidade é um importante pólo rodo-ferroviário. Se os alemães a ocuparem terão acesso a 7 rodovias e 2 estradas de ferro, podendo assim despejar tropas por diversas áreas, teriam acesso inclusive aos
centros de comunicações, logísticos e de comando aliado, causando um desastre de grandes proporções.
Por esta razão era necessário defender a cidade a qualquer custo. Dezoito mil combatentes das divisões 101, 10ª blindada e remanescentes da 28ª Divisão de Infantaria são posicionados no dispositivo defensivo da cidade. São construídas fortificações e trincheiras para reforçar a linha
No dia 19 de Dezembro houve o primeiro embate entre americanos e alemães nas mediações de Bastogne. O grupo de combate Task Force Rose (CCB 10ª Blindada) entra em luta com o batalhão de reconhecimento da 2ª Divisão Panzer as margens do Clef. Durante 2 horas e meia se travou uma luta intensa. Os americanos conseguiram destruir 5 tanques e causar pelo menos 80 baixas ao inimigo. Mas as defesas se tornaram insustentáveis, pois os alemães conseguiram romper o flanco. A situação crítica fez com que o coronel Crossman comandante do destacamento solicitasse permissão para retrair em busca de uma posição mais defensável.
As tropas sitiadas em Bastogne encontravam-se numa situação muito precária, pois além de estarem em desvantagem numérica (4 atacantes para cada defensor) eles careciam de munição, alimentos, suprimentos médicos, cobertores e combustível. Ou seja, faltava lhes tudo. A coragem era a maior arma para resistir ao assédio inimigo.
Durante uma semana os soldados estadunidenses resistiram aos diversos ataques alemães. O comandante do 5º exército alemão enviou uma proposta de rendição honrosa aos defensores, que foi respondida (NUTS) desdenhosamente por McAuliffe.
A situação piorou muito as vésperas do Natal. O céu se abriu e foi à vez da Luftwaffe atacar a cidade belga. Mas na manhã de Natal, os C-47 lançaram mantimentos, remédios e munição aos combatentes. Patton enviou a seguinte mensagem aos sitiados. “Aos combatentes de Bastogne, Feliz Natal estou a caminho. Mantenham os hunos fora!”
4ª Divisão Blindada a caminho de Bastogne
O general Patton colocou seu plano em ação para o avanço. Ele ordenou a 4ª Divisão Blindada que assumisse a testa do deslocamento. Estrategicamente o movimento foi ousado. Pois os alemães com certeza iriam procurar deter o avanço do 3º Exército, empregando armas e táticas para conter seus Shermans. Os tanques M4 Shermans eram essenciais para o plano de Patton, ele os usava como sua cavalaria. Mas os nazistas tinham armas que eram capazes de aniquilar suas colunas blindadas.
A estrada para Bastogne era longa e muito sinuosa, com muitos obstáculos e margeada pela floresta. Além disso, a neve alta, o vento e a chuva também serviriam de obstáculos para o avanço.
Os alemães espalharam tropas da 5ª Divisão Paraquedista por diversos pontos da rodovia. Essa força de contenção deveria barrar qualquer iniciativa aliada. Mas em todos os casos, as armadilhas e emboscadas alemãs foram sendo vencidas uma a uma.
O 1º Pelotão da Companhia Bravo comandado pelo tenente Howard C. Peake fazia a vanguarda do 35º Batalhão de Tanques. Após atravessar uma colina sofreu um ataque lateral por tropas do 15º Regimento Fallschirmjager (Paraquedista), que munidos de Panzerfaust destruíram 2 de seus Shermans. Reagindo ao ataque Peake ordenou aos tripulantes de seu tanque e do nº 4 que disparassem contra as posições inimigas.
Depois de 20 minutos de fogo intenso ele conseguiu vencer uma força de aproximadamente 100 alemães, que estavam ali acantonados.
Na tarde do dia 22 de Dezembro, a coluna do Comando de Combate A (CCA) sofreu um sério bombardeio pela artilharia inimiga, que se encontrava em uma posição elevada a leste da estrada. Sob o comando do Major Willian B. Jenkins, o 51º Batalhão de Infantaria Blindado e 1 Regimento da 80ª Divisão atacou a posição forte dos alemães. Uma luta feroz se travou naquele trecho da estrada, pois a posição estava reforçada por 1 batalhão de paraquedistas alemães. Os nazistas estavam dispostos a defender a posição a qualquer custo. A infantaria americana, mesmo apoiada pelos fogos dos tanques Shermans, levou mais de 15 horas para capturar o posto do inimigo. Os soldados do 51º batalhão, apesar da quantidade de baixas conseguiram vencer a luta.
Com o consequente retraimento das tropas inimigas para o leste. O Comando de Combate A prosseguiu sua marcha para Bastogne. Os alemães começaram a dinamitar trechos da estrada, bem como derrubar dezenas de arvores para obstruir o caminho. As unidades de engenharia foram deslocadas para fazer a limpeza da região. Porém a cada curva o inimigo se mostrava presente e disposto a fazer os atacantes pagarem muito caro por cada quilometro percorrido.
O tempo continuava muito ruim e ao anoitecer daquela noite o chefe de Estado-Maior do 3º Exército sugeriu que a coluna estacionasse, pois estava se tornando impossível manter a marcha. Patton protestou, disse que o atraso favorecia somente os alemães. Que Bastogne estava por um fio e que homens valorosos estava morrendo na cidade. Nesta noite o general proferiu sua famosa oração para o tempo.
Na manhã de 24 de Dezembro, após vencer os diversos obstáculos, a vanguarda do CCB observou que a estrada fazia uma bifurcação, formando três novas rotas de progressão. Justamente neste ponto os alemães haviam posicionado 3 tanques Tigres do 506º Batalhão Panzer SS (Abteilung 506) e um batalhão de panzergranadeiros SS. Dessa forma os nazistas haviam bloqueado o acesso sul de Bastogne.
Sob o comando do Tenente-Coronel Perkings 12 tanques M4 e 3 M10 com tropas do 318º Regimento de Infantaria atacam a posição alemã. Os tigres abriram fogo destruindo 3 Shermans em seqüência. A luta renhida entre alemães e americanos durou por pelo menos 2 horas. Apesar de perderem a posição os alemães causaram sérias baixas ao grupo atacante. A capacidade operacional do 35º Batalhão de tanques ficou
comprometida. Ele vinha liderando o avanço deste o Sarre, até aquele ponto já havia perdido 23 tanques, sendo que foi preciso substituí-lo pelo 37º Batalhão do Tenente-Coronel Craigton Abrams. Essas três estradas tornaram-se de grande importância ao avanço, pois assim poder- se-ia atacar os alemães por 3 eixos diferentes.
O general Gaffey (comandante da 4ª Divisão) decidiu enviar o CCA pela estrada da direita, seguindo a rota para Arlon e o CCB à esquerda, que levaria ao sudeste da cidade. Essa situação se mostrou afortunada. Sem ter prévio conhecimento do que acontecia, os dois Comandos de Combate acabaram cercando forças inimigas que se concentravam para lançar mais um ataque a Bastogne.
O Ataque de Abrams
Depois de analisar a situação, Patton chegou à conclusão de que o ponto mais adequado para romper o cerco se encontrava na localidade de Arlon. Formou-se uma força de choque composta pelos 37º Batalhão de Tanques e o 53º Batalhão de Infantaria Blindado.
A situação obrigava as forças blindadas do 37º Batalhão a empreenderem profunda penetração em território dominado pelo inimigo. No entanto, bastaria um campo minado, ou emprego de fogos antitanque, em um ponto de estrangulamento da via de acesso para que a operação estivesse comprometida.
Abrams sabia que a adversidade e a surpresa são companheiras do combate. Logo que começou o avanço avistou na estrada o primeiro tanque inimigo. Ordenou que o atirador abrisse fogo, o tiro dado, a curta distância, pôs em chamas o blindado alemão. Após percorrer poucas centenas de metros, escutou uma explosão e verificou que perdera o tanque que progredia a sua direita. Soldados panzergranadeiros haviam destruído o tanque com panzerfaust. Imediatamente a metralhadora do tanque abriu fogo ferindo mortalmente os 4 soldados alemães. Ao galgar uma elevação, avistou na estrada três Tanques Tigres que sem exitar abriram fogo contra os Shermans de Abrams.
A luta se tornou muito feroz, apesar de estarem em menor número os Tigres levaram vantagem destruindo 5 carros do 37º Batalhão. Aquele cenário caótico do combate exigiu que Abrams pensasse rápido e ousasse. Ele avançou com 8 carros sobre os blindados alemães. Com uma manobra arojada os tanques americanos abriram fogo. O Carro de Comando de Abrams disparou 4 vezes contra um dos Tigres em pouco mais de 1 minuto . Fazendo explodir o tanque alemão. Aquela massa de fogo em movimento mudou drasticamente a situação destruindo os inimigos restantes. Tiro rápido, ousadia, manobra arrojada e flexibilidade permitiram a vitória.
Os Alemães Tentam Conter Abrams
Cientes do avanço americano pelo eixo sudeste. O comando da Divisão Panzer Lehr envia um grupo de combate para impedir o acesso a Bastogne. O capitão Hans Lunker comandava o grupo de Panthers e panzergranadeiros que fora designado para conter o avanço da 4ª Divisão Blindada no caminho Arlon/Bastogne. Dispondo seus tanques em linha, Lunker pensou em criar uma barreira de aço e fogo para impedir o acesso à cidade belga. Quando a vanguarda do 37º avistou os tanques inimigos começou a disparar desesperadamente. Os Panteras responderam ao fogo americano, em pouco tempo a luta se torna geral. Tiros certeiros dos Panthers destroem 4 Shermans e 3 Meia Lagarta M2. Em menos de 1 hora a força tarefa nazista havia causado diversas baixas
aos atacantes.
Mas Abrams beneficiando-se de seu tirocínio optou por uma manobra conhecida como Fogo em Linhas Exteriores (dois ou mais grupamentos de forças de forma convergente atuam sobre o inimigo) assim o 37º Batalhão de Tanques e o 53º Batalhão de Infantaria Blindado inverteram a situação limitaram o campo de maneabilidade dos tanques alemães, os colocando em uma posição desfavorável.
O Grupo de Shermans abriu fogo. A reação dos germânicos foi imediata; três tiros rápidos e três tanques estadunidenses irromperam em chamas, mas naquele momento, o veículo de comando foi atingido e Lunker ferido. Ele abandonou o carro e subiu em um outro. Era a segunda viatura que perdera naquele combate. Pouco tempo depois, percebeu que esse segundo tanque tinha poucos tiros. Naquele instante, ele tinha duas alternativas: abandonar a luta, por insuficiência de meios ou reestruturar as forças que tinha e manter-se em combate. O capitão alemão sabia que não podia ceder aquela via aos aliados. Optou pela segunda linha de ação.
Após uma análise rápida, decidiu que a única saída seria um contra-ataque de desorganização, a fim de atrasar a coluna americana Manobrou seus tanques (5 veículos) em cunha e abriu fogo. Lunker sabia que era impossível deter os tanques americanos, porém ele tinha esperança que essa reação permitisse destruir uma considerável parcela do poder de combate inimigo. A luta durou por aproximadamente 2 horas. Quando os veículos alemães não tinham mais o que disparar seus tripulantes saltaram dos carros e combateram de trás dos tanques, com fuzis e granadas de mão. Lunker e o cabo Speidel foram os últimos a serem abatidos.
Agora a 4ª Divisão se encontrava a 9 Km de Bastogne. Porém seu valor combativo havia diminuído muito. O comando da divisão após equacionar seus recursos resolveu formar uma força de assalto composta pela Companhia C do 37º Batalhão Blindado e a Companhia C do 53º Batalhão de Infantaria Blindado. Apoiados por fogos de Artilharia as duas companhias sob comando de Abrams avançaram às 3 horas da manhã de 26
de Dezembro.
Mais uma vez a obstinada resistência alemã causou diversas baixas aos atacantes. Os tanques alemães destruíram 4 Meia Lagartas do 53º Batalhão. Uma luta feroz se travou a cada quilometro de avanço, o objetivo foi alcançado a custa de muito sangue americano. Às 17 horas, após uma barragem de artilharia a Força de Assalto derrotou as ultimas tropas alemãs fazendo aproximadamente 400 prisioneiros e alcançou uma das principais estradas pavimentadas no subúrbio de Bastogne. Pouco tempo depois o pelotão de Shermans do tenente Boggess encontra com os engenheiros do 326º Batalhão da Divisão 101ª Airborne. Por volta de 18:30 Abrams informa Patton. “Cerco quebrado, missão cumprida”.