A 2ª Guerra Mundial Teve um Pé em Itanhaém-SP

Para quem gosta de curiosidades sobre a Segunda Guerra Mundial e a participação do Brasil, esse artigo traz uma história surpreendente. Itanhaém, uma cidade tranquila no litoral sul de São Paulo, famosa por suas praias e natureza exuberante, esconde um episódio que conecta o conflito global a um morro, um rio e uma pedra. É uma narrativa real, cheia de tensão, coragem e mistério, que mostra como a guerra, mesmo tão distante, deixou marcas em solo brasileiro.

Tudo aconteceu em 1940, quando o mundo já sentia os efeitos devastadores do avanço nazista na Europa. Enquanto o Brasil ainda decidia seu papel no conflito, algo estranho chamou a atenção em Itanhaém. O Morro Sapucaitava, no bairro Praia dos Sonhos, às margens do Rio Itanhaém, virou cenário de um evento que intrigou os moradores. “Uma embarcação descia o rio carregada de tambores de óleo diesel, não de bananas como parecia”, contam testemunhas da época, em relatos preservados pela memória local. Logo em seguida, das águas escuras, emergiu o submarino alemão U-513, sob o comando de Friedrich Guggenberger. Segundo os moradores, o submarino recolheu o combustível e sumiu no mar, como um fantasma de aço deslizando pelas ondas.

Uma parte do mapa de Itanhaem onde mostra o rio onde supostamente teve um abastecimento di submarino alemão e o morro do Sapucaitava

O que estava por trás disso? Uma operação secreta? Um plano para abastecer forças inimigas na costa brasileira? Ninguém sabe ao certo, mas o Exército Brasileiro não quis arriscar. Rapidamente, 120 soldados foram enviados ao Morro Sapucaitava. Durante um ano e quatro meses, esses homens, muitos deles nascidos na região, subiram o morro com uma tarefa clara: vigiar o horizonte e proteger o litoral. No topo, entre a vegetação cerrada da Mata Atlântica, uma pedra se destacou como ponto de observação. “Eles ficavam lá, dia e noite, com binóculos, espiando o mar”, diz um relato registrado no site da Prefeitura de Itanhaém. Assim nasceu o nome Pedra do Espia, um marco que até hoje guarda ecos daquele tempo.

A presença do U-513 não era apenas um boato local. Semanas depois, esse mesmo submarino mostrou seu poder destrutivo. Em 17 de julho de 1943, ele torpedeou o navio brasileiro Tutóia, que transportava café entre Paranaguá e Santos, próximo à Ilhabela, em São Paulo. Dos 37 tripulantes a bordo, sete não sobreviveram. “O navio afundou rápido, e o mar levou tudo”, descreveu um sobrevivente em documentos da época. O ataque foi um choque, uma prova de que a guerra estava mais perto do Brasil do que muitos imaginavam. Em 1942, o país já havia cortado relações com o Eixo e, pouco depois, entrou oficialmente no conflito ao lado dos Aliados.

O destino do U-513, apelidado de “Lobo Solitário”, também se cruzou com o litoral brasileiro. Em 28 de julho de 1944, quase um ano após o ataque ao Tutóia, o submarino foi destruído por aviões americanos no litoral de Santa Catarina. Dos 56 tripulantes, apenas sete escaparam com vida. O naufrágio encerrou a trajetória de um inimigo que, por um momento, trouxe a Segunda Guerra Mundial para as águas de Itanhaém.

Embora o encontro no Rio Itanhaém não tenha provas documentais sólidas – alguns especialistas veem os relatos como histórias orais mais do que fatos confirmados –, o impacto na região foi inegável. O Morro Sapucaitava, tombado pelo Condephaat em 15 de março de 1962, virou símbolo de um período de alerta e resistência. Hoje, é um ponto de trilhas ecológicas, com vistas para a Ilha das Cabras e o encontro do rio com o mar. A Mata Atlântica, repleta de jequitibás e bromélias, e a fauna, com sabiás e gaivotas, convivem com a memória de um passado tenso.

A Prefeitura de Itanhaém mantém parte dessa história em seus arquivos, enquanto o ataque ao Tutóia está registrado em relatórios navais, com detalhes como as sete vidas perdidas e a carga de café que nunca chegou ao destino. Esses eventos revelam como a Segunda Guerra Mundial tocou o Brasil de forma concreta, alcançando até uma cidade pacata como Itanhaém. Os soldados no morro, os tripulantes do Tutóia e as famílias que esperaram em vão por notícias são prova disso.

A Pedra do Espia ainda está lá, firme entre os morros e o mar, como um convite para lembrar. Itanhaém, conhecida por seus 27 quilômetros de praias e pelos rios Preto e Branco, carrega essa história com discrição, mas ela merece ser conhecida. A Segunda Guerra Mundial teve, sim, um pé no Brasil – e esse pé pisou firme no litoral paulista.

Sobre Ricardo Lavecchia

Trabalho como vendedor, mas tenho como hobby desenhar e pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial.

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