O U-199 foi o primeiro submarino de 1200 toneladas afundado na Segunda Guerra Mundial de onde foi possível resgatar sobreviventes. Este fato ajudou os americanos a estabelecer novas regras de ataque ao tipo de submarino IXD 2, da qual o U-199 fazia parte e que representava grande perigo a marinha mercante aliada durante a guerra.
Construído no estaleiro Deschimag na cidade alemã de Bremem, o U-199 foi um dos primeiros submarinos tipo IXD 2 a entrar em ação. Com oitenta e oito metros de comprimento, pintado de cinza escuro, esta máquina de guerra era armada com metralhadoras anti-aéreas e um canhão de proa. Possuía quatro tubos de torpedos na proa e dois na popa. Na sua torre de comando, o U-199 apresentava sua insígnia de identificação: o desenho de um navio viking.
O capitão era Hans Werner Kraus que na época tinha 28 anos. Antes de comandar o U-199, ele havia servido no U-47 e no U-83. Pouco tempo antes de receber o comando do último u-boat que iria comandar, ele foi agraciado com a “Ritterkreuz” que era na época uma das maiores condecorações nazistas. Junto à Kraus, outros sessenta pessoas faziam parte da tripulação do submarino.
Em 27 de Novembro de 1942 o U-199 foi comissionado. A ocasião foi marcada por uma informal reunião da qual participou quase todos os membros da tripulação. Após deixar a Europa, o U-199 cruzou a linha do Equador em dez de Junho de 1943. Alguns dias depois, já navegando em águas brasileiras, recebeu suas primeiras ordens. Sua área de patrulha se localizava entre o Rio de Janeiro e alguns pontos a norte do Rio da Prata.
A tática utilizada por Kraus nos seus primeiros dias de patrulha foi de permanecer submerso durante o dia, somente observando a superfície pelo periscópio e só durante a noite o u-boat ficava exposto na superfície.
Nesta primeira área operacional, poucos alvos foram vistos. Insatisfeito, o comandante Kraus se aproximou mais e mais da costa Sudeste a procura de alvos.
Primeiro Ataque
Alguns dias depois de chegar a sua nova área operacional, o U-199 avistou seu primeiro contato visual e iniciou os procedimentos para o ataque. Ao atingir uma certa distância do alvo, Kraus atirou 3 torpedos sendo que só um atingiu o navio. Mas, os danos causados por este torpedo não causaram o naufrágio do navio que navegou a toda força em direção ao Rio de Janeiro para tentar se salvar. Enquanto tentava fugir, este navio atirou contra o U-199, forçando-o a submergir para evitar danos. O navio brasileiro “Bury” informou as autoridades que havia sido atacado por um submarino alemão mas que havia conseguido fugir. Com medo de ser descoberto por ter feito um ataque infrutífero, o U-199 deixou a área.
Segundo Ataque
Em vinte e dois de Julho, enquanto patrulhava a superfície, uma sombra foi avistada e identificada pela tripulação como sendo um barco a vela ou algo similar. Kraus decidiu afundar a embarcação utilizando as armas de 37mm enquanto o canhão de 105mm era preparado. As balas de 37mm não acertaram o alvo então foram disparados sete tiros de 105mm. Os dois últimos acertaram em cheio a embarcação e a afundou. Existe uma informação que o barco pesqueiro “Shangri-lá” tenha sido afundado pelo U-199. Talvez este relato apresentado pelos prisioneiros confirme esta informação. O submarino procurou por sobreviventes mas nenhum foi encontrado.
De volta a sua primeira área operacional, de onde não havia avistado nenhum alvo, o comandante Kraus requisitou autorização para se aproximar mais ainda do litoral para poder efetuar ataques. A autorização foi concedida e chegando ao local, descobriu que vários outros u-boats estavam patrulhando a mesma área.
Terceiro Ataque
Um outro alvo foi avistado em vinte e cinco de Julho. O navio estava sozinho e se dirigia a Santos. Mais uma vez, Kraus disparou três torpedos e nenhum deles atingiu o alvo. Quando ficou a uma distância segura do navio, o U-199 iniciou uma rápida navegação pela superfície para se colocar em uma posição perfeita para o próximo ataque. Como um bom caçador, o comandante submergiu o submarino e pelo periscópio aguardava pacientemente a chegada de sua vítima.
Ao atingir a distância ideal, dois torpedos foram disparados. Um deles atingiu em cheio a meia nau do navio que partiu-se em dois e afundou. Pelo periscópio Kraus observou alguns sobreviventes entrarem em botes salva vidas. O navio torpedeado era o cargueiro britânico “Henzada” que afundou totalmente em vinte minutos.
Ao tentar se aproximar do local onde o “Henzada” afundara, uma enorme explosão foi escutada no submarino. Durante o interrogatório, os tripulantes afirmam que havia sido uma carga de profundidade lançada por um avião. Cauteloso, o U-199 se retirou da área em total silêncio.
A queda de um avião inimigo
Na noite anterior ao afundamento do U-199, enquanto fazia uma patrulha por volta das vinte e uma horas, o som de um avião se aproximando foi percebido pelo vigia.
Após ter sido avisado, o comandante Kraus se dirigiu a torre do submarino, ordenou força total avante e mudança total de curso. Os operadores das metralhadoras anti-aéreas se posicionaram e prepararam as armas.
Neste momento, o avião começou a lançar dispositivos de iluminação para facilitar a localização do submarino. Pouco tempo antes do U-199 abrir fogo contra seu agressor, um fato estranho ocorreu: Simultâneo a uma forte explosão, o avião caiu no mar. A posição era 24º S 44º W.
Para a tripulação do submarino, a possível causa da queda do avião poderia ter sido a explosão de uma das cargas de profundidade ainda dentro do avião. Nenhum sobrevivente ou destroços foram encontrados. Segundo registros, este avião parece ter pertencido a U.S Army.
Após este ataque, o U-199 avistou um outro contato de superfície mas o mesmo conseguiu escapar.
O Naufrágio do U-199
Na manhã de trinta e um de Julho o U-199 iniciava mais uma patrulha. Um avião foi avistado há algumas milhas de distância. Da torre de comando saiu a ordem imediata de força total avante e mudança de rota.
As ordens haviam sido mal interpretadas e para os tripulantes dentro do submarino, o objetivo era iniciar uma submersão urgente e alguns dos tanques de água que controlam a flutuabilidade começaram a ser enchidos. Isto fez com que a fuga pela superfície fosse prejudicada.
Ao ter o avião na alça de mira, o U-199 abriu fogo com todas as suas armas. O avião respondeu ao fogo, acertando várias vezes a torre de comando do submarino com tiros de metralhadora e acertou o deck inferior com cargas de profundidade. Uma série de manobras evasivas foi iniciada. O avião atacava ferozmente o submarino causando danos seguidos. Fumaça começava a sair da torre de comando.
Kraus percebeu que se continuasse na superfície, ele acabaria se tornando vítima de outros aviões. A única salvação para o U-199 era submergir e estacionar no fundo do mar enquanto reparos eram realizados. Foi iniciada uma varredura que detectou a profundidade no local como sendo 135m. Era muito fundo e uma ordem para levar o submarino para mais próximo do litoral para encontrar áreas mais rasas foi dada.
O ataque do avião não cessava e neste momento, uma avião catalina brasileiro chegou ao local e iniciou o bombardeio. Após duas séries de ataques com cargas de profundidade, o “Arará” (que era o nome do avião brasileiro), atingiu mortalmente o U-199.
O capitão deu ordem de “abandonar navio”, onde apenas doze tripulantes se salvaram incluindo o capitão. O último sinal recebido do U-199 informava a posição 23º 50´ S 43º W.
Os sobreviventes foram resgatados pelo navio americano USS Barnegat e foram encaminhados ao Estados Unidos para interrogatório. Uma grande comemoração tomou conta dos brasileiros após o afundamento do U-199. O “Arará” e sua tripulação foram considerados heróis de guerra.
Hans Werner Kraus morreu em 1990.
Estes dados fazem parte do relatório da U.S Navy feito após o interrogatório dos prisioneiros.
Texto escrito por Rodrigo Coluccini, criador e proprietário da Revista Deco Stop, foi um dos responsáveis pela divulgação em larga escala das informações sobre naufrágios no litoral brasileiro, fato antes restrito a poucos. É co-autor do manual de naufrágios da certificadora PDIC. Seu trabalho é citado em vários livros atuais sobre história maritima brasileira confirmando a importância de seu trabalho.
Atualmente é proprietário da Editora do Mar, empresa responsável pela produção de publicações relacionadas ao mar e mergulho.
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É impressionante a sequencia de fotos, até os impactos dos tiros ao redor do U-199 podem ser vistos.
Este submarino era um dos mais modernos da Marinha Alemã, designado para o ataque aos navios no litoral do Brasil e seu comandante, Hans Werner Kraus, era um oficial condecorado.
A atuação do U-Boats alemães na costa brasileira pode ser encontrada na historiografia alemã em diversas publicações, entre as quais:
-Busch, Rainer & Röll, Hans-Joachim (2003). Der U-Boot-Krieg 1939-1945 – Die Ritterkreuzträger der U-Boot-Waffe von September 1939 bis Mai 1945 (in German). Hamburg, Berlin, Bonn Germany: Verlag E.S. Mittler & Sohn.
-Fellgiebel, Walther-Peer (2000). Die Träger des Ritterkreuzes des Eisernen Kreuzes 1939-1945. Friedburg, Germany: Podzun-Pallas.
-Kurowski, Franz (1995). Knight’s Cross Holders of the U-Boat Service. Schiffer Publishing Ltd.
-Range, Clemens (1974). Die Ritterkreuzträger der Kriegsmarine. Stuttgart, Germany: Motorbuch Verlag.
-Scherzer, Veit (2007). Die Ritterkreuzträger Die Inhaber des Ritterkreuzes des Eisernen Kreuzes 1939 von Heer, Luftwaffe, Kriegsmarine, Waffen-SS, Volkssturm sowie mit Deutschland verbündeter Streitkräfte nach den Unterlagen des Bundesarchives (in German). Jena, Germany: Scherzers Miltaer-Verlag.
E ainda se encontra gente aqui no Brasil que atribui esses afundamentos aos norte-americanos…
Olá, sou filho de Vitoriano Lopes, sobrevivente de um navio da MM, em aguas Americanas na segunda guerra, como meu pai ficou um pouco pertubado, e foi mora no inteerior da bahia, nunca procurou seus direitos, queria inf. como identificar o navio de MM, que ele estava embarcado, desde ja agradeço a quem poder ajudar. abs