A rendição italiana em setembro de 1943 representou um marco na guerra no Mediterrâneo. A Alemanha, que já enfrentava pressão crescente dos Aliados, viu na frota italiana uma oportunidade estratégica. Em poucos dias, diversas embarcações da Regia Marina foram incorporadas à Kriegsmarine, reforçando a presença naval alemã na região e prolongando a resistência no sul da Europa. No entanto, apesar da aquisição de dezenas de navios, a Alemanha não conseguiu evitar a superioridade aliada nos mares.
No dia 9 de setembro de 1943, a Kriegsmarine contabilizava um efetivo significativo no Mediterrâneo. Entre as unidades estavam 3 barcos torpedeiros, 17 submarinos, 18 lanchas torpedeiras, 24 caçadores de submarinos auxiliares, 35 varredores de minas e 4 navios minadores. A partir da rendição italiana, esse contingente cresceu com a incorporação de vários navios capturados nos portos de Gênova, La Spezia, Trieste, Piraeus e Fiume.
O Domínio da Kriegsmarine no Egeu
Nos portos gregos, a Kriegsmarine confiscou importantes unidades italianas. No porto de Piraeus, os contratorpedeiros Francesco Crispi e Turbine passaram ao serviço alemão, acompanhados das corvetas Castelfidardo, Solferino e San Martino. Essas embarcações foram fundamentais na repressão às tropas britânicas no Dodecaneso, onde os alemães lutavam para manter o controle após a invasão aliada. No entanto, até outubro de 1944, todas essas unidades foram destruídas ou afundadas durante a retirada alemã da Grécia.
Navios no Adriático: O Coração Logístico Alemão
Nos portos de Trieste e Fiume, a Alemanha capturou embarcações italianas ainda em construção. Muitos dos torpedeiros da classe Ariete foram concluídos sob comando alemão e rebatizados: Stella Polare (TA36), Gladio (TA37), Spada (TA38), Daga (TA39), Pugnale (TA40), Lancia (TA41) e Alabarda (TA42). Também foram incorporados dois destróieres, Antonio Pigafetta e Sebenico (capturado dos iugoslavos pela Itália antes de cair nas mãos alemãs), além de seis torpedeiros veteranos da Primeira Guerra Mundial.

Com esses reforços, a Kriegsmarine conseguiu manter as linhas de suprimento na região. O Adriático era vital para o transporte de petróleo, metais e tropas entre a Itália e os Bálãs. No entanto, a resistência dos partisans iugoslavos se intensificou, forçando os alemães a usarem essas embarcações também em patrulhas e repressão de guerrilheiros. Mesmo com essas tentativas, os ataques aliados por ar e mar acabaram destruindo a maioria dos navios capturados.
O Mediterrâneo Ocidental e os Planos de Defesa
Nos portos ocidentais, como Gênova e La Spezia, os alemães apreenderam mais torpedeiros da classe Ariete e um destróier: o Premuda, antigo Dubrovnik da Marinha Iugoslava. Essas embarcações receberam modificações, incluindo a instalação de radares alemães. Ademais, a Kriegsmarine obteve mais de 20 corvetas da classe Gabbiano, das quais pelo menos 9 foram operacionalizadas e utilizadas até o fim da guerra.
Apesar do esforço de reorganização da frota capturada, os alemães não conseguiram impedir a supremacia aliada. As tentativas de manter o controle sobre portos e litorais fracassaram diante das ofensivas navais dos Aliados, particularmente nas operações de desembarque em Anzio e no sul da França, em 1944.
Impacto da Frota Capturada na Guerra
A aquisição das embarcações italianas representou um reforço momentâneo para a Kriegsmarine, permitindo manobras de patrulha e defesa contra incursões britânicas e americanas. A campanha no Dodecaneso, por exemplo, foi um dos últimos sucessos navais da Alemanha no Mediterrâneo, conseguindo impedir um avanço britânico significativo. No entanto, mesmo com esses navios, a Kriegsmarine nunca conseguiu alterar a balança de poder naval na região.

Com o avanço das tropas aliadas e a progressiva destruição dessas embarcações, a Kriegsmarine foi obrigada a reduzir suas operações no Mediterrâneo. A falta de suprimentos, a escassez de tripulação treinada e a constante pressão aliada transformaram a frota capturada em um ativo de curta duração. Até abril de 1945, praticamente todas as embarcações estavam afundadas ou fora de combate.
O colapso da presença naval alemã no Mediterrâneo foi um reflexo da própria deterioração da máquina de guerra do Eixo. Apesar dos esforços em utilizar os recursos da antiga aliada, a Alemanha não conseguiu impedir a queda do front sul da Europa.