Utah Beach. Um dos primeiros estadunidenses que pisa a terra francesa, exatamente às 06h39min, é o Brigadeiro Theodore Roosevelt Jr, fiel à tradição de bravura dos Roosevelt de Oyster Bay, homônimos e rivais de Roosevelt de Hyde park e do “New Deal”. Adiante, em cima, atrás dele, os foguetes lançados pelo LCR fazem um barulho infernal. Roosevelt, que havia estudado o terreno, não o reconhece. Compreende que uma corrente afastou os barcos para o sul, até a aldeia de Madeilene, onde termina o caminho de Sainte-Marie-du-Mont. Lá estava um blockhaus armado com uma peça de guerra e uma velha torre de proteção de tanque, constituindo o ponto de apoio n° 5. Os defensores, que pertencem à 3a Companhia do 919o RI, foram enterrados pelo bombardeio. Os estadunidenses os desenterram. O oficial alemão, Tenente Janke, deixa-se fotografar ao lado deles, diante da fortaleza.
Nessa praia, atingida por equívoco, porém facilmente conquistada, o desembarque se organiza admiravelmente. Alguns barcos, entre os quais um LCT, naufraga de encontro às minas, mas as equipes especiais, Underwater Demolition Teams, destroem rapidamente os obstáculos e desfazem as armadilhas. A ressaca é um débil marulhar; os homens entram na água alegremente; mais atrapalhados pela rápida maré montante do que por alguns obuses vindos das baterias de Saint-Marcouf. As ondas de assalto se sucedem. As extremidades de vanguarda da 4a DI dos EUA se lançam para os caminhos de Audouville, de Sainte-Marie e de Pouppeville, procurando ligação com os pára-quedistas de Taylor.
Diante de Omaha Beach o mar continua violento. Rolos de espuma correm sobre a areia. Os barcos de desembarque respeitaram o horário, mas a ressaca os maltrata e a espessa fumaça que cobre a costa torna difícil pilotar. À esquerda, 32 tanques anfíbios são lançados a 5.000 metros da praia, mas seus flutuadores são feitos para águas tranqüilas, e todos, salvo dois, submergem juntamente com sua equipagem. À direita, 28 outros DD deveriam ser lançados à água nas mesmas condições: avaliando com exatidão o estado do mar, o Tenente-Comandante Rockwall encalha seu LCT, em vez de fazer nadar seus pesados patos. Os carros saem da água atirando. Mas a reposta que recebem é áspera. Obuses de 88 mm os estripam, perfurando também os LCT enquanto eles flutuam novamente.
O canhão não é único a falar. Rajadas de armas automáticas varrem a longa esplanada, descoberto pela maré. Os homens que desembarcam dos LCVP tombam nas ondas, ou, se conseguem sair da água, tentam refugiar-se na areia. Os mais felizes alcançam o dique que limita a praia. Mas a areia está sob a mira do fogo. Os metralhadores e os artilheiros alemães atiram “sobre um tapete de homens”. O oficial que comanda a ponta de La Percée telefona a seu coronel informando que vê a costa atravancada de tanques, viaturas, barcos em chamas, cobertos de mortos e feridos.
Em março, Rommel havia passado pelo local. Sua cólera causou um efeito mágico. Se faltou material para as minas, em compensação todos os engenhos de que ele foi propagador estão acumulados na areia: uma barreira composta de elementos C ou “grades belgas”, várias filas de “cavalos de frisa”, várias faixas de “tetraedos” e de “ouriços”. As fotografias aéreas revelaram esses trabalhos – cujo efeito se pensou destruir com o desembarque em maré baixa -, mas, em virtude da orientação dos desvãos de proteção dos canhões, não revelam as armas de proteção dos flancos, aninhadas nas escarpas. Principalmente nenhum órgão de informação teve conhecimento da mais grave conseqüência resultante da inspeção de Rommel. Sustentando, como sempre, que as tropas de reserva não serviam para nada, empurrou para a primeira linha a 352a DI. Os estadunidenses supunham cair sobre um setor mantido por um velho regimento da 719a Divisão de posição; caem sobre uma divisão de primeira ordem, cuidadosamente entrincheirada.
Uma funesta prudência estadunidense, aliás, favoreceu a defesa. O temor dos ataques retardou de 2 a 3 segundos o lançamento das bombas jogadas pelos Liberator. A maior parte caiu a 3 ou 4 km no interior das terras. Por outro lado, o apoio naval fornecido pelos couraçados Texas e Arkansas, o cruzador inglês Glasgow, os cruzadores franceses Montcalm e Georges-Leygues foi muito rápido para produzir resultado efetivo de neutralização. As defesas costeiras ficaram de um modo geral, intactas, e seus ocupantes, ilesos.
Na ponta do Hoc um erro de identificação retarda o assalto. Os LCVP e os DUKW, que transportam o batalhão dos Rangers, dirigem-se para a ponta da Percée, mas o Coronel Rudder, cujo nome significa “leme”, percebeu o engano e retificou-o. Os Rangers escalam as escarpas debaixo da fuzilaria. Chegando ao cume o que encontram, em lugar de bateria, são troncos de árvores. Os alemães haviam retirado os seis 155 mm, ao terminar a construção das casamatas. Aliás, quatro foram descobertos pouco depois, debaixo das redes de camuflagem, perto de Vierville, em Grandcamp, e foram destruídos.
No fim da manhã, a situação de Omaha Beach é alarmante. Depois dos DD, os caminhões anfíbios DUKW foram liquidados juntamente com a artilharia que traziam. A praia está atulhada de material destruído. A maré alta afoga os feridos. As unidades de assalto continuam a chegar, os homens desembarcam com água até o pescoço, terminando por imobilizarem-se contra o dique. Os únicos estadunidenses que conseguiram sair de Omaha Beach são o Coronel Canham, comandante do 116o RI, o Brigadeiro-General Cota, segundo-comandante da 1a DI, e alguns soldados que conseguiram carregar. Com ajuda de uma investida violenta abriram uma brecha na rede de arame farpado que obstruía a entrada do caminho escavado de Saint-Laurent. Acima deles, o mato queima com uma fumaça acre. Plantado no flanco arenoso do pequeno barranco, os dois chefes esperam o momento propício. Os obuses dos destróieres, que se aproveitam da maré alta para se aproximarem a 1 km, passam rente às suas cabeças e vão devastar os ninhos de resistência alemã.
Também entre os britânicos, o mar fez estragos. Engoliu perto de 50 velhos tanques Centaur, equipados com obuses de 95 mm para fornecer às unidades de assalto o apoio móvel da artilharia. Mas a ressaca é muito menos violenta em Sword, Juno e Gold do que em Omaha, e os soldados da 716a DI, não valem os da 352a. O desembarque britânico se desenvolve não sem perdas, mas pelo menos sem crise grave.
No fim da manhã, na zona Gold, o ponto de apoio do Hamel mantém-se firme, mas a 50a Divisão se estende para Arromanches e Ver-su-Mer. Na zona Juno, o ponto de apoio de Courseulles também oferece resistência, mas os canadenses o contornam e se elevam sobre as colinas. Na zona Sword, o ponto de apoio de Le Brèche caiu, e o Comando n° 4, abrangendo duas seções francesas do Comando n° 10, ataca Ouistreham. Enfim, a 6a Airbone, reforçada por um desembarque de planadores, organiza-se no entroncamento de Ranville-Bénouville.
No lado alemão, Jodl telefonou a Rundstedt, vetando suas pretensões: as duas divisões que o Feldmarschall pensou poder acionar diretamente só poderiam ser deslocadas com a autorização do Fuhrer – que está dormindo. Rundstedt resigna-se, sem mesmo pedir que acordem o dorminhoco. Resignação sarcástica – diz Speidel: “O cabo boêmio quer comandar seus exércitos; que os comande. O generalfeldmarschall Gerd von Rundstedt lava as mãos”.
Rommel está a caminho. Informado da ofensiva às 6h30, renunciou à sua audiência com Hitler e corre para retomar seu comando. Aliás, não está absolutamente convencido de que se trate do verdadeiro plano, e sim de uma diversão feita para atrair as reservas alemãs à baixa Normandia. É em torno da embocadura do Somme, diz ele, que o inimigo dará o grande golpe.