O Partisano que Enfrentou a Morte: A História de Slavoljub Kovic

Em meio à brutalidade imposta pela ocupação nazista nos Bálcãs durante a Segunda Guerra Mundial, algumas histórias emergem como testemunhos definitivos da resistência. Uma delas é a de Slavoljub “Slava” Kovic, um jovem partisano sérvio que, aos 16 anos, escolheu o silêncio e a lealdade à sua causa em vez da submissão ao terror nazista. Capturado em dezembro de 1941, Kovic foi brutalmente torturado, teve uma estrela de cinco pontas esculpida em sua testa e, em 10 de janeiro de 1942, foi executado ao lado de outros prisioneiros no campo de prisioneiros de Sabac.

Slavoljub Kovic nasceu em 21 de agosto de 1924, em Bogatić, um vilarejo humilde no interior do Reino da Iugoslávia. Criado em condições precárias, perdeu o pai ainda na infância e cresceu enfrentando privações. Com dificuldades financeiras, só conseguiu ingressar na escola com dois anos de atraso. Sua vida parecia destinada à dura rotina do campo, mas o avanço da guerra mudaria radicalmente seu destino.

Em abril de 1941, as forças do Eixo invadiram e desmembraram a Iugoslávia. A região da Sérvia ficou sob controle direto das tropas alemãs, e grupos de resistência começaram a se organizar para enfrentar a ocupação. No final daquele ano, Kovic se juntou ao Destacamento Partisano de Macva, liderado por combatentes fiéis ao movimento de resistência comandado por Josip Broz Tito. Sua função variava entre fabricar bombas caseiras, reparar armas e costurar uniformes para os guerrilheiros.

Com apenas alguns meses na luta, Kovic foi capturado por tropas alemãs na região de Milini, na montanha Cer, em dezembro de 1941. Levado para o campo de prisioneiros de Zabran, nos arredores de Sabac, ele passou por interrogatórios violentos. Os nazistas queriam informações sobre seus camaradas: nomes, esconderijos e movimentações dos guerrilheiros. Diante da recusa em colaborar, Kovic foi submetido a torturas brutais.

Na noite de 6 para 7 de janeiro de 1942, véspera do Natal ortodoxo, seus captores decidiram ir além da dor física. Com uma baioneta, um soldado alemão gravou uma estrela de cinco pontas em sua testa — símbolo do comunismo, a ideologia que os nazistas consideravam inimiga mortal. O gesto era um recado de terror, uma tentativa de desumanizá-lo. Mesmo assim, Kovic não cedeu. Um registro fotográfico desse momento cruel foi feito pelos soldados da SS, parte da documentação habitual das represálias contra os partisanos.

A execução de Kovic ocorreu em 10 de janeiro de 1942. Ele foi fuzilado junto com outros prisioneiros no campo de Sabac, um local que já havia sido palco de massacres perpetrados pelos nazistas contra civis sérvios e judeus. Um documento encontrado nos Arquivos Históricos de Belgrado, entre os registros da Polícia Especial, descreve o destino do jovem combatente: “Apenas admitiu que participava da luta contra os alemães. Não revelou quem lhe deu a arma e a munição. Não disse mais nada.”

Quase quatro décadas após sua morte, na década de 1980, a história de Slavoljub Kovic voltou a ganhar destaque na Iugoslávia. Uma campanha para reconhecê-lo como Herói do Povo foi impulsionada por jornais que redescobriram seu caso. O simbolismo de sua resistência se tornou ainda mais potente em um momento em que a memória da luta antifascista era celebrada como um pilar da identidade iugoslava.

Atualmente, o legado de Kovic permanece vivo em sua cidade natal. Em Bogatić, uma rua leva seu nome, assim como uma escola infantil. Um busto em sua homenagem se ergue como um lembrete da brutalidade da guerra e da coragem daqueles que resistiram. O rosto do jovem que encarou a morte sem trair seus companheiros continua sendo um símbolo da resistência antifascista na região dos Bálcãs.

A história de Slavoljub Kovic é um testemunho da intransigência de um adolescente diante do totalitarismo. Em um contexto onde a morte era a única certeza, ele optou por proteger seus ideais e seus companheiros, recusando-se a ceder ao medo. Seu sacrifício não foi em vão — sua memória continua a ecoar, um lembrete incômodo de que a liberdade, tantas vezes dada como garantida, foi conquistada às custas de inenarráveis sofrimentos.

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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