Pierre Clostermann ou Pierre Henri Clostermann, nasceu em Curitiba no dia 28 de fevereiro de 1921, filho do diplomata Francês em serviço no Brasil e ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, Jacques Clostermann e de Madeleine Carlier.
Quando a batalha da França terminou com a derrota dos franceses, seu pai lhe enviou a seguinte mensagem: “Junte-se ao general de Gaulle ou não serás mais meu filho!”
Pierre Clostermann era piloto de Spitfire (Cospe fogo): avião de caça, monomotor, monoplano de asa baixa de um só lugar. Usado pela RAF (Royal Airforce da Inglaterra). “Recordar-me-ei, por toda a vida, do meu primeiro contato com o Spitfire; o que eu iria pilotar tinha a matrícula TO-S. Antes de colocar o paraquedas, detenho-me por um instante a contemplar o avião – as linhas nobres da fuselagem, o motor Rolls Royce finamente carenado; um autêntico puro-sangue…”
Pierre Clostermann é considerado o único brasileiro a participar do Dia D, tendo visto de perto os preparativos da invasão, quando foi chamado pelo Capitão Rankin, que foi convocado ao Quartel General das Forças Aéreas Expedicionárias Aliadas, em Uxbridge. Rankin o leva como seu ajudante de campo, pois, segundo ele, Clostermann, com seu uniforme francês causa boa impressão.
A experiência narrada pelo próprio Pierre Clostermann
“As casamatas subterrâneas em cimento armado, de Uxbridge, que abrigaram o Ground Central Control da caça britânica durante as horas cruciais da Batalha da Grã-Bretanha, transformaram-se em centro da aviação aliada para o desembarque na Normandia. É uma verdadeira Torre de Babel, onde se comprime uma multidão vestida de uniformes rosa e verde oliva, americanos, e cinzento azulado, da RAF. Jamais vi tantas estrelas e galões chegando até o cotovelo. O indivíduo mais simples que se encontre é, no mínimo, Air Commodore.
Os Marechais do Ar nem se contam! Aí estão Leight Mallory, Comandante Chefe da RAF, Quesada, o grande Chefe da caça americana, o General Arnold, C. in C. U.S.Army Air Forces, Doolittle, do reide sobre Tóquio, etc…Participar do segredo dos deuses não é nada divertido. Meus bolsos estão cheios de permissões de livre trânsito e durante o dia todo sou interpelado por centenas de M.P. que guardam as entradas e os corredores subterrâneos iluminados a neon.
Depois de passar quinze dias em semelhantes ocupações em Uxbridge, estou bastante contente de reunir-me, novamente, aos meus companheiros em Ford. Tendo assinado um compromisso de nada revelar, a quem quer que fosse, do que pudesse ter visto ou ouvido em Uxbridge, não posso responder as mil perguntas que me fazem. Comprometi-me, também, a não sobrevoar os territórios ocupados pelo inimigo até dez horas após o início do desembarque. A razão disso é fácil de compreender. De fato, se eu fosse abatido, e o inimigo suspeitasse, mesmo que remotamente, do valor das informações que eu poderia dar – os meus inquiridores não recuariam diante de nenhum processo para me fazer falar.
Não desejando exporem-se a esse risco e não acreditando na resistência humana a certos argumentos, os ingleses interditam a quem quer que conheça mesmo o mais insignificante pormenor dos planos Neptunne e Overlord a travessia da Mancha, expondo-se ao risco de ser feito prisioneiro.”
No dia 11 de junho de 1944 Pierre recebe a ordem de passar a noite na França pois a meteorologia prevê nevoeiro na costa sul da Inglaterra para o dia 12 o que imobilizara os caças. Na França, porém, fará bom tempo, e, se os Spitfires não patrulharem o “beach-head”, a Luftwaffe, evidentemente, sairá com toda a sua força e incomodará todo o mundo. Para impedir que essa eventualidade se efetive, seis esquadrões partirão esta noite, pousarão como puderem nos aeródromos de campanha recém terminados, aí passarão a noite e ficarão em alerta desde a madrugada. Cada piloto levará dois cobertores e uma lata de ração “K”.Estamos excitados, Jacques e eu, à ideia de sermos os primeiros pilotos franceses a pousar em França Decidimos vestir o uniforme de gala, e Jacques leva sua garrafa de conhaque para celebrar condignamente o acontecimento. Corrida em motocicleta até o acampamento. Levantamos voo às 19 horas e, após a patrulha habitual – nada a assinalar, como de costume, encontramo-nos acima de Bazenville. “-Hullo Yellow 3 and 4 -Hullo Blue 3, you pancake first. Good luck!”
O Narrativa Prossegue…
É, de fato, uma grande gentileza! Sutherland ordena que o capitão, Jacques e eu sejamos os primeiros a pousar em terra francesa. Ambos em formação cerrada pousamos logo após o capitão, em meio a impenetrável nuvem de pó. Meu Deus! Que poeira! Branca e fina como farinha, levantada pelo vento das hélices, infiltra-se por toda parte, toda a atmosfera, sufoca-nos, penetra-nos nas orelhas e nos olhos. Enterramo-nos nela até os tornozelos.
Num raio de quinhentos metros em torno da pista de pouso a verdura desapareceu, a vegetação está recoberta de uma espessa camada que a mais ligeira brisa levanta. Dois Commandos, dos quais não consigo distinguir senão os olhos, pois os rostos estão cobertos de poeira e de suor, metralhadoras em bandoleira, auxiliam-me a saltar do avião e dizem-me, sorrindo, após haverem reconhecido meu uniforme:
-Well, Frenchie, you are welcome to your blasted country!
Jacques aproxima-se, correndo, envolto num turbilhão de poeira, lenço no rosto, e apertamo-nos a mão, comovidos. Após quatro anos de ausência, pisamos o solo da França! Participou de inúmeras batalhas e na sua ultima missão pilotando o seu Spitfire obteve 3 vitórias e avariou outros 2 aviões em 40 minutos.
A Saga do Brasileiro na RAF continua…
Certo dia o Chefe do Serviço do Pessoal sublinhou com um traço vermelho a ficha do aspirante Pierre Clostermann do Esquadrão 602, acrescentando a margem: “Awarded Distinguished Flying Cross – operational rest from 7/ 7/1944”. Sentado na cama de campanha, costuro melancolicamente a fita da D.F.C, no uniforme, contemplando a desordem dos meus pertences que, mais uma vez, terei de empacotar.
Os dias passam-se, exasperantes, enquanto aguardo um barco. Estou aqui, sentado na grama, e os combates sucedem-se aos combates! O meu Spitfire LO-D, pilotado agora por Jacques, levanta voo em meio a uma nuvem de poeira dourada. Compreendo agora o verdadeiro sentido da amizade.
Pierre passou a trabalhar no estado maior, mas durante uma visita ao Pete Wyckheam, o grande chefe das designações do “Fighter Command”, este prometeu apoio ao desejo de Pierre de seguir rapidamente para Esquadra de caça 122 que foi equipada com caças tempests mkv.
Alguns dias depois, o Quartel General do Ar das Forças Francesas na Grã-Bretanha recebia do Ministério do Ar, britânico, a seguinte nota:
A RAF atendendo solicitação urgente do Marechal do Ar H. J. Broadhurst, D.S.O D.F.C., teria grande satisfação em ver o 2º Ten. Pierre Clostermann, D.F.C., destacado para o seu serviço, logo que haja expirado seu tempo regulamentar de repouso. Os notáveis resultados obtidos por esse piloto no decurso de suas operações anteriores indicam no para um posto de comandante de esquadrilha ou de grupo na esquadra A sua escolha.
Rogamos comunicar-nos se concordam com o regresso desse piloto as operações ativas na RAF nas condições acima. A essa nota cortês, o Ministério do Ar, em Paris, opôs sua recusa. Alguns dias mais tarde encontrou o General Vallin expos-lhe o desejo do seu regresso.
Muito gentilmente deu-lhe o seu acordo em princípio, objetando-lhe, porém, estar o seu nome incluído na lista dos pilotos que o General De Gaulle queria, a todo custo, conservar e impedir de voltar a atividade. “Esquadra 122 já iniciara os preparativos da partida. Foi então que o Coronel Coustey, Comandante das Forças Aéreas Francesas na Grã-Bretanha, veio em meu socorro.
Como bom chefe, vendo meu estado moral, assumiu a responsabilidade de autorizar o meu regresso a RAF, rogando-me, com o senso de humor que o caracteriza, de não me deixar matar, a fim de poupar-lhe dissabores. Procurando evitar uma eventual contra-ordem emanada de Paris, despedi-me rapidamente do senhor e senhora Hermann – dois franceses residentes em Londres há quarenta anos – que me receberam e trataram com extraordinária dedicação e generosidade.”
Com o seu Tempest que tinha o nome de” Grand Charles” Pierre atacou bases inimigas e atacou bases de lançamentos de foguetes que estavam direcionados para a Inglaterra, também combateu os caças Messershimith 262 (primeiro modelo de caça com motores a jato da história). Em uma de suas missões correu grande risco de vida durante um pouso, pois seu avião estava muito avariado e Pierre avia sido ferido na perna por isso não podia saltar e usar seu paraquedas, o risco de morrer durante o pouso era muito grande, todos os dias pilotos morriam tentando pousar seus Tempests onde muitas vezes morriam carbonizados presos ao “cockpit”.
Ele executa todas as manobras e toma todas as medidas possíveis para pousar da melhor forma, ele lança fora a capota do cockpit e solta os cintos que o prendem ao avião e alinha seu avião em direção a pista, ambulâncias, bombeiros e seus amigos estão a sua espera apreensivos.
“Sinto na garganta uma bola que me sufoca… Cuidado! Não deixar cair o aparelho! As balizas desfilam, mais um pouco, eis a primeira das oito balizas vermelhas que indicam o fim da pista. É agora! Baixo o nariz do aparelho para levantar a cauda, e, com um golpe de Aileron, deliberadamente, percuto a asa contra o solo para amortecer o choque – talvez assim evite a capotagem! Meu pobre Tempest, apesar das sete toneladas, é esmagado como palha em gigantesco torno! um primeiro choque, espantoso! O aparelho ressalta, projetando-me contra as paredes da cabina, o hood voa longe. As asas espatifam-se numa prodigiosa cabriola… as chapas se rasgam. Cruzo os braços diante do rosto… Um rangido atroz, estrondo do Juízo Final. Um estremecimento de tamanha violência que as correias do equipamento de segurança partem-se.
Projetado para frente, meu rosto esmaga-se contra o colimador – um grande clarão vermelho… queixo fraturado… gosto de sangue… pedaços de dentes enchem-me a boca… Silêncio alucinante, um sopro abrasador salta-me ao rosto: é o primeiro obus que explode em meio às chamas. A lâmina de uma faca entalha-me os ombros, corta as correias do pára-quedas, dedos desajeitados agarram-se às minhas mangas rasgadas, ao meu pescoço.
– My leg, look out!
O calor queima-me os pulmões. Mãos que me magoam arrancam-me do cockpit espatifado. O ruído dos extintores de espuma, o roncar da bomba, gritos… Arrastam-me para a grama úmida e enrolam-me num cobertor. Milhares de estrelas vermelhas, verdes, deslumbrantes, ferem-me os olhos através das pálpebras fechadas. O ar está gelado e enjoa-me. Cheiro de álcool – dor aguda no braço… Nada mais. Quatro horas depois da injeção de morfina, desperto, a cabeça pesada, vazia, dolorida… Tento falar, mas tenho os lábios paralisados, todo o rosto, salvo um olho, está enfaixado.
Pierre Clostermann participou de 432 missões onde destruiu 33 aviões alemães e danificou outros 12, além de 29 aparelhos atingidos no solo.
É Considerado o maior Ás Francês e um dos grandes ases da Segunda Guerra Mundial.
Pierre Clostermann Recebeu as seguintes condecorações:
- Grande-Croix do francês d’Honneur de Légion, o Rank o mais elevado da ordem
- Compagnon de la Libération Médaille Militaire
- Croix de Guerre 1939-45 com 19 palmes
- Croix de la Valeur Militaire com 2 citações
- Cruz livre do serviço do voluntário do francês
- Medalha francesa da resistência
- Estrela para ferido
- Ordem de distinto serviço
- Distinta cruz de vôo com barra
- Cruz de serviço distinto (EUA)
- Estrela de prata
- Medalha de ar
Pierre Clostermann morreu em 22 de março de 2006 (85 anos) na cidade de Montesquieu-des-Albères, Pirineus Orientais, França.
Por: Paulo Soares