Suzan Travers: A Legionária Que Encarou o Inferno de Bir-Hakeim

26 de maio de 1942. No deserto escaldante da Líbia, um pequeno contingente de soldados resiste bravamente ao cerco nazista. São 5.000 homens da temida Legião Estrangeira Francesa, mas entre eles há uma única mulher: Suzan Travers. Não era apenas uma combatente. Era uma lenda viva. “Suzan, c’est un vrai mec!”, diziam os legionários, em um misto de admiração e respeito.

A batalha de Bir-Hakeim duraria até 11 de junho e entraria para a história como um dos confrontos mais ferozes da Segunda Guerra Mundial. Os franceses, liderados pelo general Kœnig, enfrentavam os ataques incessantes das forças de Rommel. Suzan estava lá, não apenas como espectadora, mas dirigindo veículos em meio ao fogo cruzado, transportando feridos e garantindo que os oficiais mantivessem a comunicação com suas tropas.

Nascida na Inglaterra em 1909, Suzan abandonou a vida privilegiada para se alistar na Legião Estrangeira. Sua jornada a levou pelos campos de batalha mais implacáveis: Finlândia, Noruega, Senegal, Sudão, Congo, Etiópia, Síria, Líbano, Egito, Itália e, finalmente, França. Não era uma mulher em busca de glória. Era uma combatente determinada a lutar contra a tirania nazista.

Sobre ela, o general Geoffrey afirmou: “Entre nós, ela era mais protegida pelos legionários do que uma jovem em um convento. Todos queriam impressioná-la. Mas ela se comportava como qualquer outro soldado. Ela era corajosa!”.

A coragem de Suzan se manifestou de maneira impressionante no cerco de Bir-Hakeim. Quando as defesas finalmente cederam e os alemães se aproximavam, ela assumiu o volante de um veículo blindado e, sob uma tempestade de balas e explosões, conseguiu romper as linhas inimigas. Levou consigo o próprio Kœnig, que mais tarde se tornaria ministro da Defesa da França.

Com o fim da guerra, Suzan encontrou o amor nos braços de um oficial da Legião Estrangeira que também lutou em Bir-Hakeim. Casaram-se, tiveram dois filhos e continuaram suas missões pelo mundo, incluindo o Vietnã. Mas a guerra nunca saiu de sua alma.

As honrarias foram inevitáveis. Condecorada repetidas vezes, a última e mais simbólica delas veio em 1996: a Croix de Chevalier da Legião de Honra. O próprio general Geoffrey fez questão de entregar-lhe a medalha pessoalmente. Mas uma ausência foi sentida. Kœnig, o homem a quem ela salvou, falecera em 1970 e não pôde testemunhar a homenagem.

Em dezembro de 2003, aos 94 anos, Suzan Travers partiu, em sua casa em Paris. Pouco antes, havia publicado suas memórias: Tomorrow to Be Brave: A Memoir of the Only Woman Ever to Serve in the French Foreign Legion. Sobre o motivo da publicação tardia, foi direta: “Só escrevi quando todos já tinham partido e eu fiquei sozinha com minhas medalhas”.

Suzan não foi apenas a única mulher a servir na Legião Estrangeira. Ela foi a prova viva de que coragem não tem gênero.

Algumas condecoreações:
Medalha Militar (1956)
Cruz de Guerra 1939-1945 (Outubro de 1942)
Cavaleiro da Legião de Honra (1996)
Oficial da Ordem de Nichan Iftikhar
Medalha colonial com fechos África, Itália e Libertação
Medalha comemorativa francesa da guerra de 1939-1945

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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