Crônica da Segunda Guerra – O Engano

1º de Janeiro de 1945

Aconteceu que saiu uma patrulha com dois sargentos, nove soldados e um partigiani. A certa altura ela se dividiu em dois grupos. O Sargento Jose Rodrigues que comandava um deles viu umas onde supunha que tivesse alemães. Deixou três homens esperando atrás de um barranco e avançou cautelosamente com um soldado Erico. Os dois homens andavam certa distância um do outro – Os dois metidos em seus capotes brancos, com capuzes brancos.

O sargento ia andando com todo cuidado quando viu um soldado a alguns metros de distancia. Teve a impressão de que o soldado ia lhe dizer alguma coisa, e, levando um dedo à boca, e franzindo a sobrancelha, fez um gesto para que ele não dissesse nada, ficasse em silêncio, para não despertar a atenção do inimigo que devia estar dentro da casa e acrescentou baixinho:

– Ya, ya.

No mesmo instante quase, voltando-se, esse soldado viu Erico, e apontou para ele o fuzil. Não teve tempo, porém de puxar o gatilho: o sargento derrubou-o com uma rajada de metralhadora de mão.

O caso não foi difícil de explicar. Como os alemães também andam encapotados e encapuzados de branco, o engano foi mútuo. Assim como o sargento pensou que fosse brasileiro, o soldado alemão pensou que o sargento Ribeiro fosse alemão – mesmo porque ele é um homem de tipo sanguíneo, e claro. No instante, porém, em que viu o praça Erico – moreno e franzino -, o alemão viu que era inimigo e apontou o fuzil. Mas, nesse segundo, o seu “ya, ya” já havia revelado sua nacionalidade ao sargento.

Foi, de resto uma patrulha feliz: o sargento matou mais um alemão que ia lhe lançando uma granada e o soldado Erico acertou uma granada no peito de outro alemão que ia saindo da casa com u fuzil na mão. A casa foi atacada com rajadas de metralhadora e três granadas lança-rojão – duas das quais bateram na parede sem produzir efeito, e a outra arrebentou a porta. O sargento Pedro Rubin e o soldado Jose Xavier, do outro grupo em que se dividira a patrulha, derrubaram um alemão com rajadas de metralhadora. O homem caiu não se sabe morto ou ferido – e depois disso nossa patrulha se retirou.

O soldado Erico, depois de sair na patrulha notou que sua metralhadora estava engasgada – de fato falhou – mas assim mesmo quis continuar, levando apenas granadas de mão, e assim matou um tedesco, Erico foi ferido na perna, mas recusou-se a ser carregado pelos companheiros, voltando a posição andando, seu ferimento não teve gravidade.

Participaram dessa patrulha:

  • Jose Rodrigues de Oliveira Ribeiro – Sargento
  • Erico Domingos Porto – Soldado
  • Jose Marcelino Vieira Pedro
  • Jose Mendes Benedito Canuto dos Reis
  • João Alves de Lima
  • Sebastião Cassiandro
  • Cecilio Souza Ferraz Filho
  • Jose pinto de Freitas

Historia tirada do livro “Crônicas da Guerra na Itália de Rubem Braga”

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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3 comentários

  1. JOÃO FRANCISCO DA SILVA

    os relatos sobre a segunda guerra me foram bastante relevantes e informativos e me deram conta de que pre parar nossos jovens para o caso de um confronto armado contra amado país.

  2. Cecílio de Sousa Ferraz

    Meu pai, um dos integrantes dessa patrulha, está com 88 anos e bem lúcido e ativo.
    Temos muito orgulho dele!

  3. José Vacir Côgo

    A crônica acima cita o nome do Sgt Pedro Rubim. Esse homem era daqui de Jacutinga-MG. Conheço um casal de filhos dele. Sou amigo de um genro dele. Um de seus netos, exatamente o Neto, trabalha na Prefeitura onde eu também trabalho. Tenho uma casa na Rua Pedro Rubim, Vale das Primavera. Ele já morreu.

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