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O Dia D – 13ª a 18ª hora: 12h – 18h

Ao meio-dia, Churchill assoma à tribuna na Câmara dos Comuns. Exaspera a curiosidade de todos falando durante 20 minutos da tomada de Roma, que já não interessa a ninguém, depois descreve em termos grandiosos o desembarque que se está efetuando. “Até agora – diz – tudo se vem passando de acordo com os planos”.

Em Obersalzberg, Hitler acorda. Não foi registrada sua primeira reação à notícia do desembarque. O grande comunicado será feito no Castelo Klessheim, distante uma hora de carro, na reunião em honra do novo chefe do governo húngaro, o General Astojai, convidado oficial. O programa não foi alterado. Diante do mapa da Normandia, Hitler graceja em dialeto austríaco: “Miam Miam! Eles vêm cair na boca do Grande Lobo! Bem bom!”. Todo mundo cai na gargalhada. Em seguida Hitler louva Jodl pelo seu “veto” matinal: tal como ele, não acredita que se trate da verdadeira invasão.

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Casa de Adolf Hitler em Obersalzberg - Também conhecida como a Toca do Lobo

No Cotentin, a luta prossegue em câmara lenta. Chamado de Périers para limpar a região de Carentan com seu batalhão de pára-quedistas, o Major Barão Von der Heydte sobe ao campanário de Saint-Come-su-Mont, na entrada de Sainte-Mère-Église. O mar está coberto de navios até o infinito e centenas de pequenos barcos descarregam tropas e material.

“No entanto, não tive a impressão de que uma grande batalha estava em curso. O sol brilhava. Fora alguns tiros de fuzil, tudo estava calmo. O vaivém das embarcações fazia pensar num domingo de verão no lago Wannsee…”

Utah Beach e os caminhos que levam a ela estão engarrafados. O 8o RI experimenta passar pelo pântano: atola-se e desiste. Às 12h15min, está feita a junção com o 501o de pára-quedistas que acaba de conquistar Poupperville, apesar de uma resistência dura. Às 12h00min, a junção faz-se em Audouville-la-Hubert, com o 502o. Os pântanos costeiros são atravessados e a 101a Airbone cumpriu sua missão.

No interior, a 82a luta. A conquista de Sainte-Mère-Eglise cortou a grande estrada de Cherburgo e dá aos estadunidenses o controle da região alta situada entre os pântanos costeiros e os baixios de Merderet. A ação concêntrica ordenada pelo General Dollmann tem por fim retomar a cidadezinha. O 1058o Regimento da 709a DI ataca vindo do norte: está parado no povoado de Neuville-au-Plain. Um ataque vindo do sul é também repelido. Em compensação, o 1057o RI retoma a passagem de Chef-du-Pont e de La Fière. Muitos pára-quedistas caem prisioneiros a oeste do Merderet. Outros se reagrupam em torno da aldeia de Amfreville e sobre a elevação semeada de fazendas que a inundação desapruma, em frente a Chef-du-Pont.

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Sainte-Mère-Église - Vista aérea, 6 de Junho de 1944

No setor de Omaha, o Tenente-General Dietrich Kraiss, que comanda a 352a DI comunica que susteve a invasão na própria praia. Essa convicção se reflete no comunicado de 13 horas do 84o AK; “Em Vierville o desembarque pode ser considerado repelido…” Mas Kraiss está inquieto a respeito da sua direita, ameaçada pela progressão inglesa. Dirige para o leste o 915o RI, sob o comando do Coronel Meyer, dando-lhe ordem de contornar Bayeux e contra-atacar entre Bazenville e Crépon. Diante de Omaha Beach não resta qualquer reserva.

Ora, os estadunidenses vencem a depressão em que se encontram. Por mais vivo que seja, falta ao fogo alemão densidade, continuidade, estando a praia ocupada, afinal de contas, apenas por um batalhão reforçado do 914o RI. Alguns oficiais enérgicos transpõem o dique, arrastando soldados dos mais bravos. Aproveitando a maré cheia, o LCT 30 e o LCI 54 mergulham na onda de calhaus, encalham justamente na entrada do recôncavo de Coleville, no qual os homens se precipitam. Um golpe direto de um destróier desmantela a casamata de Moulins, cujos defensores se rendem. Os bulldozers blindados abrem brechas nas dunas. Lentamente, a linha estadunidense se ergue sobre a colina, onde as primeiras sebes, pouco desenvolvidas, fornecem abrigos.

É principalmente para a direita, para Caen, que o Comando alemão orienta sua preocupação. Um poderoso instrumento se movimenta: a 21a Divisão Blindada, com o poderio de 16000 homens, de 127 PzKw 4, de 40 canhões de assalto, de 28 peças de 88 mm, etc. Antes de mais nada, ela recebe ordens de limpar a margem direita do Orne, dos pára-quedistas que desceram durante a noite. Chegando ao campo de batalha, apesar de sua perna ortopédica, o General Marcks vê, de golpe, que esta missão já não corresponde à situação. Encontra o coronel Oppeln Bronikovsky, que comanda o 22o Regimento de tanques, e, sob fogo, lhe dá suas instruções. Oppeln deve transportar seu regimento à margem esquerda do Orne e contra-atacar a fundo, rumo a Luc-sur-Mer. “Depende de você – diz Marcks – que a invasão seja repelida”. Deixando o coronel entregue à execução de sua missão, o general põe-se à procura de outras tropas, encontra um batalhão do 192o Pz Gr e orienta-o igualmente rumo a Luc-sur-Mer. O impossível deve ser feito para que o ataque inglês seja desbaratado, para que o desembarque se desorganize, contando com a intervenção das reservas gerais que o liquidarão.

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Commandos britânicos, apoiados por Shermans DD, avançam de Sword para o interior

Oppeln apressa-se. Sua tarefa é difícil. O único caminho praticável do Orne é uma ponte de Caen que está de pé. O 22a Pz atravessa a cidade em chamas. Os caças-bombardeiros o perseguem a saída. Ele sobe a toda pressa a colina de Lebisey, atravessa a aldeia, desce em um pequeno vale atapetado de verdura. Quando chega diante de Biéville, os batalhões de Norfolk e Warwickshire, reforçados por canhões automotores, acabaram de tomar a localidade. Caen está a 7 km. Caen é o objetivo principal deste dia. Ainda não são 6 horas da tarde.

O encontro é áspero. Rechaçados, os tanques tentam contornar Biéville pelos vales de Périers. Destacamentos do Shoropshire Ligth Infantry e da Staffordshire Yeomanry destroem uma meia-dúzia deles. Caindo do céu, oito bombardeiros de mergulho Typhoon incendeiam vários outros. O regimento recua, reagrupa-se nos limites de Caen. Sua intervenção impediu que a cidade fosse conquistada já na primeira noite. Contudo, não impediu a invasão.

O contra-ataque da 192a Pz Gr foi mais longe. Caindo no intervalo das zonas Sword e Juno, seu ímpeto atinge o mar. Os granadeiros desembaraçam os centros de resistência de Saint-Aubin, de Luc e de Douvres-la-Délivrande, põem-se na defensiva, esperam os tanques… Esperam em vão.

No restante do setor britânico, a situação é satisfatória. A 3a Divisão canadense ganhou vários quilômetros e a 50a, reforçada pelos primeiros elementos desembarcados da 7a Armoured, aproxima-se de Bayeux.

No fim da tarde, Rommel chega a Roche-Guyon. Depara com as decisões de Hitler. A 12a Pz SS, estacionada ao sul de Rouen, e a Panzer Lehr, que está na região de Dreux, são postas à sua disposição. Por outro lado, o Fuhrer proíbe toda subtração do 15o Exército, e até anulou uma ordem de Dollmann que chamava à Normandia uma parte das tropas da Bretanha. Decidiu, de uma vez por todas, que o 6 de junho é uma dissimulação, e que a verdadeira invasão ainda vai chegar.

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Soldados Alemães integrantes da 12ª SS Panzerdivision "Hitler-Jugend"

Sobre Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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