Ecos da Segunda Guerra O Melhor conteúdo sobre a Segunda Guerra em Português
Em setembro de 1944, uma imagem capturada pelo fotojornalista Harrison Forman em Yan’an, na província de Shaanxi, retratava membros da milícia Min Ping, ligada ao Exército Popular de Libertação. Formada por civis chineses, essa unidade apoiava o Oitavo Exército de Rota do Exército Nacional Revolucionário, então em combate contra o Japão. A fotografia revelava um fenômeno que se desenrolaria nos anos seguintes: o fortalecimento do Partido Comunista Chinês (PCC) e a transformação de sua força paramilitar em um exército regular e altamente capacitado.
O Exército Popular de Libertação nasceu como uma guerrilha camponesa, limitada em recursos e atuação, mas a Segunda Guerra Mundial modificou sua estrutura e o projetou como uma das mais poderosas forças militares do século XX. Apenas dois dias após o fim oficial da guerra, em 4 de setembro de 1945, as tropas comunistas atacaram inesperadamente o Exército Nacional Revolucionário do Kuomintang na Batalha de Lingbi, rompendo qualquer possibilidade de reconciliação entre as facções rivais e marcando o início da fase decisiva da Guerra Civil Chinesa.
Se na primeira fase do conflito civil, entre 1927 e 1937, o PCC estava relegado a bolsões de resistência em Yenan e Ningxia, a intervenção soviética contra o Japão em 1945 alterou drasticamente o cenário. Os soviéticos ocuparam a região da Manchúria, a área mais industrializada da China, e a entregaram ao Partido Comunista. O acesso a recursos industriais robustos e uma infraestrutura avançada deu ao Exército Popular de Libertação um poder logístico que o Kuomintang não tinha.
Além disso, os comunistas passaram a receber equipamento militar soviético em grande escala. Em poucos meses, sua força armada deixou de ser apenas uma guerrilha de camponeses mal armados para se tornar um exército convencional, bem treinado e equipado com tanques T-34, artilharia pesada e veículos motorizados. Paralelamente, o Exército Nacional Revolucionário sofria um processo de esgotamento severo. Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), as tropas do Kuomintang haviam arcado com o peso da luta contra os japoneses, sofrendo perdas devastadoras. O resultado era um exército debilitado, com moral baixa e alta taxa de deserção.
A estratégia inicial do Exército Popular de Libertação foi tão simples quanto eficaz: atacar guarnições dispersas do Kuomintang ao norte da China e nos limites com a Manchúria. A cada avanço, consolidavam território e recrutavam novos combatentes. Os comunistas também aplicavam táticas de propaganda eficientes, apresentando-se como defensores da população contra um governo corrupto e ineficaz.
Com a escalada da Guerra Fria no pós-guerra, os EUA tentaram apoiar o Kuomintang, fornecendo armamentos e recursos financeiros. No entanto, a instabilidade interna e a falta de uma estratégia coesa levaram o governo de Chiang Kai-shek a uma série de derrotas sucessivas. Em 1949, após uma campanha militar fulminante, os comunistas capturaram Pequim e, em 1º de outubro daquele ano, Mao Tsé-Tung proclamava a República Popular da China. Chiang Kai-shek e os remanescentes de seu governo fugiram para Taiwan, onde estabeleceram um governo rival.
Ao longo das décadas seguintes, o Exército Popular de Libertação passou por transformações radicais. Durante a Guerra Fria, tornou-se um dos pilares da influência militar chinesa na Ásia, participando da Guerra da Coreia (1950-1953) e consolidando-se como um dos maiores exércitos do mundo. Nos anos 1990, com o colapso da União Soviética e o crescimento econômico chinês, passou por um processo de modernização sem precedentes, ampliando sua capacidade tecnológica e projetando poder global.
O que começou como uma guerrilha rudimentar na década de 1920 se tornou uma das forças militares mais poderosas do planeta. A transformação do Exército Popular de Libertação é um reflexo do próprio crescimento da China: de um país fragmentado e enfraquecido a uma das maiores potências do mundo no século XXI.
