Jacklyn Lucas não era um soldado comum. Aos 14 anos, forjou a própria idade para se alistar e, aos 17, jogou-se sobre duas granadas para salvar seus companheiros. Seu nome entrou para a história como o mais jovem a receber a Medalha de Honra nos Estados Unidos desde a Guerra Civil.
A Infância Rebelde de um Futuro Herói
Jacklyn Harold “Jack” Lucas nasceu em 14 de fevereiro de 1928, na pequena Plymouth, na Carolina do Norte. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 10 anos, deixando um vazio que o transformou em um garoto difícil. Indisciplinado e rebelde, sua mãe o matriculou no Instituto Militar Edwards, buscando impor alguma ordem na vida do filho.
A decisão funcionou. Lucas era um jovem grande e forte para a idade. Destacou-se nos esportes e desenvolveu habilidades que mais tarde o ajudariam no campo de batalha. Mas, acima de tudo, ele carregava uma convicção inabalável: queria lutar na guerra.
A Luta Para se Tornar um Fuzileiro
Quando os japoneses bombardearam Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, Lucas ficou furioso. Determinado a combater, tentou convencer sua mãe a permitir seu alistamento, mas ela recusou. Sem desistir, falsificou sua assinatura e, aos 14 anos, alistou-se no Corpo de Fuzileiros Navais.
Graças ao seu porte físico impressionante — 1,73m e 81 quilos de músculo — passou despercebido como menor de idade. Sua formação militar foi impecável. Em pouco tempo, tornou-se um atirador de elite e foi treinado como artilheiro de metralhadora pesada.
No entanto, sua farsa não duraria para sempre. Quando escreveu para sua namorada, a censura militar interceptou a carta e descobriu que ele tinha apenas 15 anos. Ao invés de ser expulso, foi rebaixado a funções administrativas. Revoltado, arranjou brigas com outros soldados, foi corte-marcializado e acabou preso por cinco meses.
A Determinação de ir para a Guerra
Em janeiro de 1945, Lucas decidiu que não esperaria mais. Fugiu da base e se escondeu a bordo do USS Deuel, um navio de transporte de tropas a caminho do Pacífico. Descoberto dias depois, foi preso, mas como o navio já estava em mar aberto, não puderam enviá-lo de volta. Ao invés disso, ele foi incorporado à 5ª Divisão de Fuzileiros Navais. Seu sonho de lutar se tornara realidade.
O Sacrifício em Iwo Jima
Em 19 de fevereiro de 1945, Jack Lucas desembarcou em Iwo Jima, um dos combates mais sangrentos da Segunda Guerra. No dia seguinte, enquanto patrulhava uma trincheira, ele e mais três fuzileiros foram surpreendidos por soldados japoneses. Durante a troca de tiros, duas granadas caíram perto do grupo.
Sem hesitar, Lucas se jogou sobre os explosivos. Apertou uma das granadas contra o solo e puxou a outra para debaixo do corpo. O primeiro artefato explodiu, rasgando sua carne com mais de 250 estilhaços. O segundo não detonou.
Seus companheiros acreditaram que ele estivesse morto e seguiram em frente. Mas, milagrosamente, Lucas ainda estava vivo. Conseguiu acenar para outro grupo de fuzileiros, que o resgataram e o levaram para a praia.
Ele sobreviveu às primeiras cirurgias a bordo do USS Samaritan, mas seu sofrimento estava longe do fim. Nos meses seguintes, passou por 26 operações para remover os fragmentos de metal de seu corpo.
A Medalha de Honra e Uma Vida de Risco
Aos 17 anos, Jack Lucas tornou-se o mais jovem soldado dos Estados Unidos a receber a Medalha de Honra desde a Guerra Civil. Em 5 de outubro de 1945, o presidente Harry Truman colocou a condecoração em seu peito. Seu ato de coragem o transformou em uma lenda.

Seus dias de perigo, no entanto, não acabaram ali. Em 1961, ele se alistou novamente, desta vez no Exército. Durante um treinamento de paraquedismo, seus dois paraquedas falharam. De alguma forma, ele sobreviveu à queda. Ainda escapou de um incêndio em sua casa e de uma tentativa de assassinato planejada por sua esposa e filhos.
Lucas faleceu em 5 de junho de 2008, aos 80 anos. Em sua homenagem, a Marinha batizou um destróier de mísseis guiados com seu nome, o USS Jack H. Lucas (DDG-125), comissionado em 2023.
Sua história é um testemunho de bravura e sobrevivência. Jack Lucas desafiou as probabilidades e provou que, independentemente da idade, a coragem não tem limites.