Por que Hitler decidiu atacar no Ocidente?

Análise do porquê Hitler decidiu atacar no Ocidente, ou seja, o que levou a Alemanha a desfechar o ataque contra a França e Grã-Bretanha no ano de 1940.

A vitória na frente ocidental, embora depois viesse a parecer tão irresistível, foi concebida em atmosfera de temor e dúvida. O período precedente de “falsa guerra” foi assim denominado por comentaristas americanos para ridicularizar a inatividade dos Aliados.

Nesse sentido, dificilmente se poderá dizer que foi à designação justa, já que os Aliados não tinham os recursos materiais necessários para passar à ofensiva – como os acontecimentos posteriores demonstraram, porém, havia mesmo falsos fatores do lado alemão.

Após a conquista da Polônia e a divisão dos despojos com a Rússia, Hitler fez uma tentativa para assegurar a paz junto às potências ocidentais – mas foi repelido. Nesse ínterim, ia ficando com medo daquilo que iniciara e do seu parceiro temporário.

adolf hitler

Exprimiu o ponto de vista de que uma longa guerra de atrito com a Grã-Bretanha e a França iria exaurir gradualmente os limitados recursos da Alemanha, expondo-a a um fatal ataque russo pela retaguarda.

Nenhum tratado ou pacto pode assegurar a neutralidade duradoura da Rússia

disse a seus generais.

Seu medo levou-o a querer impor a paz à França por meio de uma ofensiva na frente ocidental. Hitler esperava que, se a França fosse derrotada, os ingleses ouviriam a voz da razão e entrariam em acordo.

Considerava que o tempo estava trabalhando contra ele em cada volta do ponteiro.

A melhor defesa é o ataque…

Hitler não se atreveu a correr o risco de esperar para ver se a França se cansava da guerra. Acreditava que naquele momento dispunha de efetivos e armas para conquistar a vitória.

Em certos setores, nos setores decisivos, a Alemanha hoje em dia possui uma clara e indiscutível superioridade de armamentos“.

Achava que tinha de atacar mais cedo possível, antes que fosse demasiado tarde. Sua ordem era: “O ataque será desencadeado, se as condições forem favoráveis neste outono“.

A avaliação de Hitler e essas instruções foram tornadas públicas em um longo memorando de 9 de outubro de 1939.

Sua análise dos fatores militares da situação foi magistral, mas deixou de fora um importante fator político – a ‘obstinação’ do povo inglês quando provocado.

Isso pode parecer estranho, já que em Mein Kampf ele insistira na “determinação obstinada” dos ingleses na guerra, e alertara quanto à tendência alemã de se auto-iludir nesse campo – “uma avaliação para menos pela qual tivemos de pagar caro“.

Terá se esquecido de sua advertência no entusiasmo da vitória, quando Hitler decidiu atacar no Ocidente?

É mais provável que a percepção das coisas o tivesse compelido a tomar medidas mais desesperadas, já que dera o passo fatal de arrastar a Grã-Bretanha para a guerra, embora ainda nutrisse a esperança de que o hábito de compromisso dos ingleses pudesse vir a prevalecer sobre seu instinto obstinado de buldogue.

Além disso, é evidente que a linguagem dos porta-vozes ingleses fez com que sentisse não haver esperança imediata de compromisso, até mesmo antes de sua proposta de paz.

A Polônia foi somente o início

No final de setembro, quando a resistência polonesa estava se esfacelando, o cérebro de Hitler já se voltava para a ideia de uma ofensiva na frente ocidental. O general Warlimont, que chefiou a seção de “defesa nacional” do O.K.W [N.T. Ober Kommando der Wehrmacht – Alto Comando das Forças Armadas] disse:

Eu soube pela primeira vez dessa resolução de Hitler quando visitei seu QG em Zoppot, no mar Báltico, durante a última fase da campanha polonesa.

Até mesmo Keitel, que me informou a respeito da decisão, foi tomado da mais absoluta surpresa, já que as forças alemãs não estavam preparadas para uma campanha dessas, nem espiritual nem concretamente, e muito menos em termos de planejamento.

general Warlimont
general Warlimont

Os chefes do exército ficaram mais preocupados ainda quando, no final de setembro, foram informados da intenção de Hitler e receberam ordem de preparar os planos.

Esperavam que ele ficasse firme – proporcionando tempo para que as nações ocidentais se acalmassem e avaliassem os custos de uma guerra prolongada ou então desfechassem um ataque sem futuro na frente alemã, que só serviria para arrefecer-lhes o ardor.

Agora que o grosso das forças alemãs podia ser deslocado da Polônia para o Ocidente, havia bons motivos para que acreditassem em sua capacidade de repelir qualquer ofensiva franco-britânica.

Mas Hitler insistiu na ideia de que não poderia se dar ao luxo de esperar, e que era necessário atacar a fim de proteger os distritos industriais do Ruhr e do Reno, tão próximos da fronteira belga.

Achava que os belgas, na realidade, não eram neutros nem racional nem afetivamente, ressaltando o fato de que todas as suas fortificações mais novas haviam sido construídas ao longo da fronteira alemã, e não da francesa.

Citou relatórios de informações sobre contatos sigilosos entre os estados-maiores francês e belga, tratando da possibilidade de os exércitos francês e britânico entrarem em território da Bélgica, enfatizando que o mais forte desses exércitos se encontrava concentrado na fronteira belga.

hitler e generais
Hitler e o Estado-Maior da Campanha na Polônia.
Da esquerda para a direita: Coronel-General von Bock, Coronel-General List, General de Artilharia Kuchler, General de Infantaria von Reichenau, Gross Admiral Dr.h c. Raeder, General-Albrecht, Contra-Almirante Schniewind, General de Infantaria Blaskowitz, General de Artilharia Halder, General de Artilharia von Kluge, Coronel-General Milch, Air General Kesselring, Air General Lohr e Major-General Jeschonnek.

Era essencial, declarou, antecipar-se ao perigo de vê-los entrando na Bélgica e se desdobrando na fronteira alemã, próxima ao Ruhr, “trazendo assim a guerra para junto do coração de nossa indústria de armamentos“.

 

(Hitler tinha certa razão para sua ansiedade, já que era exatamente isso que Gamelin, o comandante-em-chefe francês, propusera a 19 de setembro – como revelam os documentos franceses e suas próprias memórias).

Por esses motivos a ofensiva germânica seria dirigida primeiro contra a Bélgica, e depois se voltaria contra a França – a fim de tornar seus resultados decisivos.

Hitler prosseguia dizendo que não esperava atacar a Holanda, tendo esperanças de chegar a um acordo político com os holandeses a respeito da faixa de terra chamada Maastricht, situada entre as fronteiras alemã e belga.

(No decurso do mês de outubro, contudo, inclinou-se pela ideia da ocupação da Holanda, influenciado pelas necessidades da Força Aérea).

Cisma no Comando quando Hitler decidiu atacar no Ocidente

Os generais de Hitler partilhavam de seus antigos receios, mas não de sua efêmera confiança. Não pensavam que o exército alemão fosse assaz forte para vencer a França (não à toa se descontentaram quando Hitler atacou o Ocidente).

Com base em uma comparação numérica, o ponto de vista deles parecia bem justificado, pois não tinham a superioridade no número total de divisões requerido para garantir o sucesso – em qualquer base costumeira de cálculo.

As Forças dos Aliados em Números:

A França mobilizara 110 divisões e podia contar com mais, a partir de um total de 5 milhões de homens treinados; dessas 110 divisões, 85 (número mais tarde aumentado para 101) estavam concentradas diante da Alemanha.

Os ingleses tinham enviado 5 divisões, devendo se seguir mais (chegaram mais 8 durante o inverno).

Os belgas foram capazes de mobilizar 23 divisões.

Por outro lado, o exército alemão entrara na guerra com 98 divisões, e apenas 62 delas estavam prontas para a ação – o restante eram divisões de reserva e de defesa territorial, ainda incompletamente equipadas e constituídas principalmente de homens acima de quarenta anos que haviam servido na guerra anterior, divisões essas que precisariam de muita instrução para se tornarem efetivas.

Além disso, um número considerável de grandes unidades fora deixado na frente oriental para ocupar a Polônia e montar guarda contra a Rússia.

A luz de tal comparação não é de surpreender que os mais graduados generais alemães não pudessem ver perspectivas favoráveis em uma ofensiva.

Eles não compartilhavam a crença de Hitler no poder das novas armas mecanizadas – os blindados e a força aérea – para sobrepujar a superioridade inimiga em efetivos treinados.

Ao mesmo tempo, com mais e melhores razões ainda, eles sustentavam o ponto de vista que Beck delineara tão claramente em seu memorando de 1938 acerca do perigo de provocar uma nova guerra mundial.
Quase todos generais com quem falei, inclusive Rundstedt e seu principal planejador, Blumentritt, admitiram francamente que jamais tinham esperado tão amplo sucesso como o que foi conseguido.

Descrevendo o ponto de vista que prevalecia nos escalões superiores, Blumentritt observou:

Apenas Hitler acreditava que uma vitória decisiva fosse possível“.

Disputa de Opiniões entre os Generais

Mas entre os generais mais moços, havia particularmente dois – Manstein e Guderian – que acreditavam na possibilidade de uma vitória decisiva, desde que os novos métodos fossem utilizados. Com o apoio de Hitler eles conseguiram provar que estavam certos, e, dessa forma, mudaram o curso da história.

O general Siewert, que foi assistente pessoal de Brauchitsch de 1939 a 1941, disse que nenhum plano para uma ofensiva na frente ocidental fora sequer levado em consideração senão após a campanha da Polônia, e descreveu a reação de Brauchitsch às diretrizes de Hitler.

O marechal-de-campo era totalmente contra. Todos os documentos que dizem respeito a esse plano estão nos arquivos, onde quer que eles se encontrem, e provarão que o marechal aconselhou o Führer a não invadir o ocidente.

Foi ver o Führer pessoalmente, para demonstrar a insensatez de uma tal tentativa. Quando viu que não conseguiria convencê-lo, pensou em renunciar“.

Perguntei-lhe com que fundamentos fora apresentada a objeção, e Siewert respondeu:

O marechal-de-campo von Brauchitsch não julgava que as forças alemãs fossem capazes de conquistar a França, e disse que a invasão arrastaria todo o peso da Grã-Bretanha para a guerra.

O Führer não levou isso em conta, mas o marechal o advertiu: ‘Conhecemos os ingleses da última guerra – e sabemos como são teimosos’ “.

Essa discussão teve lugar em 5 de novembro. Terminou com Hitler desprezando as objeções de Brauchitsch e ordenando que os exércitos estivessem prontos para atacar em 12 de novembro.

No dia 7, contudo, a ordem foi cancelada – quando os meteorologistas previram mau tempo. O ataque foi adiado para o dia 17, e depois adiado uma outra vez.

A irritação de Hitler com as condições atmosféricas aumentou com a certeza de que aquilo deixava seus generais satisfeitos. Ele achava que todos estavam prontos para se agarrar a qualquer desculpa que justificasse sua hesitação.

Confrontado com tais dúvidas da parte dos chefes militares, Hitler convocou uma conferência em Berlim, em 23 de novembro, com o objetivo de transmitir-lhes sua própria convicção.

Tenho uma narrativa desse encontro feita pelo general Röhricht, que chefiava o Departamento de Instrução do Estado-Maior e que depois foi o responsável pelo registro das lições da campanha de 1940.

Röhricht disse:

O Führer gastou duas horas com um minucioso estudo de situação destinado a convencer o comando do exército de que uma ofensiva na frente ocidental era uma necessidade.

Ele respondeu mais incisivamente às objeções que o marechal-de-campo Von Brauchitsch fizera antes”.

Naquela noite, após a conferência, Hitler repetiu suas censuras em um encontro pessoal com Brauchitsch, que apresentou sua demissão.

Hitler a repeliu e disse que obedecesse às ordens. Röhricht prosseguiu dizendo que Halder estava tão em dúvida quanto Brauchitsch sobre a ofensiva.

Ambos alegavam que o exército alemão não era bastante forte – a única linha de argumentação que poderia ter tido qualquer chance de dissuadir o Führer. Mas ele insistiu que sua vontade devia prevalecer.

Após a conferência, muitas novas unidades foram recrutadas, para aumentar o efetivo do exército. Era o mais longe que o Führer iria em matéria de concessões a pontos de vista antagônicos“.

Curt Siewert
Curt Siewert

Em maio de 1940 o total de divisões na frente ocidental subira para 130. Mais importante, o número de divisões blindadas aumentara de seis para dez.

A Rússia era uma Ameaça Real

Em discurso aos membros do alto comando, Hitler expressou sua ansiedade a respeito do supremo perigo da Rússia e a consequente necessidade de estar livre no ocidente.

Mas os Aliados não considerariam suas ofertas de paz, e permaneceriam atrás de suas fortificações fora de alcance e, no entanto, capazes de se lançarem ao combate quando quisessem.

Quanto tempo a Alemanha seria capaz de suportar uma situação dessas? Embora dona da vantagem no momento, em seis meses poderia não ser mais assim.

O tempo está trabalhando para o nosso adversário“.

Havia motivos de ansiedade até mesmo na frente ocidental.

Temos um calcanhar de Aquiles – o Ruhr… Se a Grã-Bretanha e a França atravessarem a Bélgica e a Holanda e investirem contra o Ruhr, estaremos em enorme perigo“.

Isso poderia levar à imobilização da resistência alemã. A ameaça tinha que ser removida atacando primeiro.

Mas nem mesmo Hitler demonstrou muita certeza de sucesso nessa ocasião. Descreveu a ofensiva como uma “aposta” e uma escolha “entre vitória e destruição”.

Além disso, terminou a exortação com uma nota sombria e profética – “Ficarei de pé ou cairei nesta luta. Jamais sobreviverei à derrota do meu povo“.

Hitler decidiu atacar no Ocidente, contrariando seus Generais

Uma cópia desse discurso foi encontrada nos arquivos do Comando Supremo após o colapso da Alemanha e exibida em Nuremberg.

Mas o documento não mencionava a oposição que Hitler encontrara, nem uma consequência que poderia ter liquidado com sua carreira no primeiro outono da guerra.

Hitler com Hommel - porquê Hitler decidiu atacar
Generais se apresentando a Hitler. Ao lado o famoso Erwin Rommel

Pois os generais foram levados por seus presságios a cogitar de remédios desesperados. Röhricht me disse: “Foi falado no O.K.H. [N.T. Ober Kommando der Heer – Alto Comando do Exército], por Brauchitsch e Halder que – se o Führer não modificasse sua política e insistisse em planos que envolviam a Alemanha em uma guerra total com a Grã-Bretanha e a França – eles ordenariam ao exército alemão da frente ocidental que fizesse meia-volta e marchasse sobre Berlim para derrubar Hitler e o regime nazista”.

Mas o único homem realmente vital para o sucesso desse plano não quis cooperar. Era o general Fromm, comandante-em-chefe das forças sediadas na Alemanha. Alegou que se os soldados recebessem ordens para se virar contra o regime, a maior parte não obedeceria, tamanha a confiança que tinham em Hitler.

Fromm estava absolutamente certo a esse respeito. Sua recusa em cooperar não se devia a qualquer amor que por ventura sentisse por Hitler. Desgostava do regime tanto quanto os outros, e no fim tornou-se uma de suas vítimas – embora não antes de março de 1945“.

Röhrich prosseguiu:

Mesmo não levando em conta a hesitação de Fromm, acho que o plano teria falhado. A Luftwaffe, entusiasticamente pró-nazista, poderia esmagar qualquer revolta tentada pelo Exército, já que tinha a artilharia antiaérea sob seu controle.

A original medida de se fazer Goering e a Luftwaffe responsável pela defesa antiaérea do exército, foi um passo muito sagaz no sentido do enfraquecimento do poder da força terrestre“.

Os cálculos de Fromm acerca das reações dos soldados provavelmente estavam corretos. Isso foi admitido mesmo pelos generais que se irritaram com a sua recusa em cooperar, e tende a ser confirmado pelo nosso conhecimento de como era difícil as pessoas perderem a fé em Hitler, mesmo após os últimos dias de devastação e desastre.

Mas, embora esse plano de 1939 pudesse não vir a ter êxito, a tentativa teria valido a pena.

hitler na polonia - porquê Hitler decidiu atacar
O Führer discutindo a situação tática com o General de Artilharia, Major-General von Reichenau

Pelo menos poderia ter despertado a Alemanha para invalidar os planos de conquista da França formulados por Hitler.

Nesse caso, todos os povos europeus teriam sido poupados do sofrimento que se abateu sobre eles em consequência daquele triunfo ilusório.

Inclusive o povo alemão não teria sofrido nada de parecido com aquilo que experimentou após uma longa guerra, acompanhada por uma devastação cada vez maior vinda do ar.

Embora esse plano tivesse nascido morto, Hitler não conseguiu desfechar a ofensiva de 1939 como tencionara. O mau tempo provou ser mais eficaz no trabalho de obstrução que os generais, e uma temporada excepcionalmente fria levou a uma nova série de adiamentos durante a primeira parte de dezembro.

Hitler decidiu então aguardar até o Ano Novo e conceder uma dispensa de Natal. O tempo piorou logo após o Natal, mas a 10 de janeiro Hitler marcou o início da ofensiva para o dia 17.

Um Acidente Decisivo

No mesmo dia em que Hitler tomou essa decisão, aconteceu uma dramática “interferência”. Relato a estória como me foi contada pelo general Student, comandante-em-chefe das Forças Paraquedistas Alemãs:

A 10 de janeiro, um major que eu designara como oficial de ligação junto à 2ª Esquadrilha Aérea, voou de Munster para Bonn a fim de discutir alguns detalhes sem importância do plano com a Força Aérea.

Levava consigo, contudo, o plano operacional completo para o ataque na frente ocidental. Com o vento forte e o frio que estava fazendo, ele se perdeu sobre o Reno congelado e recoberto de neve e entrou na Bélgica, onde teve que fazer uma aterrissagem forçada.

Não conseguiu queimar por completo o importantíssimo documento. Algumas partes caíram nas mãos dos belgas e, consequentemente, a ideia geral do plano completo da ofensiva.

O adido aeronáutico alemão em Haia informou que na mesma noite o rei belga teve uma longa conversação telefônica com a rainha da Holanda“.

É claro que na época os alemães não sabiam exatamente o que acontecera com os documentos, mas é natural que tenham receado o pior, e houvessem levado isso em conta. Na crise, Hitler conservou a calma, ao contrário dos demais. Continuando a narrativa de Student:

Foi interessante observar as reações provocadas por esse incidente nos homens que conduziam a Alemanha. Enquanto Goering teve um acesso de cólera, Hitler permaneceu calmo e controlado.

A princípio quis atacar imediatamente, mas, por sorte, deteve-se – e decidiu abandonar todo o plano, que foi substituído pelo de Manstein“.

O que veio a ser muito lastimável para os Aliados, muito embora tivessem tido mais quatro meses de graça para seus preparativos, uma vez que a ofensiva germânica foi adiada indefinidamente, enquanto o plano era todo refeito, não saindo senão a 10 de maio.

Quando desfechada, desequilibrou completamente os Aliados e levou a um rápido colapso os exércitos franceses, enquanto que os ingleses conseguiram fugir pelo mar, via Dunquerque.

Hitler e Goring - porquê Hitler decidiu atacar
Hitler e Goring

Todos esses terríveis eventos se originaram daquele estranho acidente no qual um simples major entregou o plano alemão original em mãos estrangeiras.

É natural que se pergunte se isso foi mesmo um acidente. Explorei essa questão depois da guerra com muitos dos generais envolvidos.

É de se esperar que qualquer um deles ficasse muito satisfeito em poder se colocar sob uma luz favorável com seus captores, alegando que tinha providenciado aquele alerta para os Aliados.

Mas na verdade, nenhum deles procedeu assim – e todos pareceram convencidos de que o acidente era perfeitamente genuíno.

Mas nós sabemos que o almirante Canaris, chefe do Serviço Secreto Alemão – que mais tarde foi executado – tomou uma série de providências secretas para frustrar os objetivos de Hitler, e que pouco antes dos ataques contra a Noruega, Holanda e Bélgica, na primavera, chegaram advertências aos países ameaçados – embora não tivessem recebido a devida atenção.

Sabemos também que Canaris trabalhava misteriosamente, e que era habilidoso para encobrir seu próprio rastro. Assim, o acidente decisivo de 10 de janeiro está destinado a permanecer como uma questão aberta.

Enquanto Hitler muito se beneficiou do acidente aéreo que o levou a mudar o plano, os Aliados sofreram bastante. Um dos aspectos mais estranhos da estória toda é que tenham feito tão pouco para tirar proveito do aviso que lhes caiu nas mãos.

Os documentos que o oficial de estado-maior alemão carregava não foram totalmente queimados, e cópias deles foram prontamente passadas pelos belgas para os governos franceses e britânicos – revelando claramente o esquema geral do plano germânico.

Mas seus assessores militares, da mesma forma que os belgas, inclinaram-se a considerar os documentos como tendo sido entregues de propósito para lográ-los.

Ponto de vista este que dificilmente faria sentido, pois teria sido o tipo do logro imbecil arriscar-se a colocar os belgas em guarda e levá-los a colaborarem mais estreitamente com a França e a Grã-Bretanha!

A Bélgica poderia facilmente ter decidido abrir suas fronteiras e deixar que entrassem os exércitos franceses e britânicos, para reforçar suas defesas, antes de o golpe ser desfechado.

Mais estranho ainda foi o fato de o Alto Comando Aliado não ter feito qualquer mudança em seus planos, nem ter tomado quaisquer precauções para fazer face ao fato de que, se o plano capturado fosse genuíno, o Alto Comando Alemão quase certamente modificaria o objetivo do ataque principal.

E na sua opinião, por que Hitler decidiu atacar no Ocidente?

Referência: HART, B. H. Liddell. O outro lado da colina. Brasilia: Biblioteca do Exército, 1980. 392 p. Luiz Paulo Macedo Carvalho.

 

Andre Almeida

Ex-militar do exército, psicólogo e desenvolvedor na área de TI.Sou um entusiasta acerca da Segunda Guerra Mundial e criei o site em 2008, sob a expectativa de ilustrar que todo evento humano possui algo a ser refletido e aprendido.

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