rubens-leite-de-andrade.jpg

Relato da Segunda Guerra – Um dia marcante – Sargento Rubens Leite de Andrade

Depois de cumprir várias missões, no dia 6 de março de 1945, o seu Pelotão foi designado para fazer uma patrulha visando obter informações, para o Comando do Regimento, sobre a linha em que o inimigo passou a ocupar. Sua função nessa Patrulha era a de esclarecedor, isto é, o “ponta” da Patrulha. Estava parado em um determinado ponto, Região de Vergato, quando, ao olhar para o seu Comandante de Patrulha, este, por sinais, mostrou-lhe uma casinhola junto a um monte de feno, determinando-lhe, ainda por sinais, que a vasculhasse. Após demonstrar ter compreendido, levantou-se para dirigir-se à casa, quando o seu pé direito tocou em uma mina antipessoal, arrancando-lhe a perna. Nesse campo minado, junto com ele, outros integrantes do Pelotão foram atingidos pelas minas, em reduzido espaço de tempo Segue abaixo a narrativa do caso pelo proprio Veterano. Era o dia 6 de março. Lembro-me como se fosse hoje. Íamos pela estrada, quando veio a ordem de se lançar uma patrulha para buscar o contato com o inimigo e identificar sua nova posição defensiva. Quando se faz uma linha de defesa, em qualquer guerra, colocam-se minas à frente das posições, uns 500m à frente. O Capitão Darcy Lázaro, Comandante da Companhia, não escalou o Pelotão para a patrulha. Ele nos disse que estávamos exaustos, exauridos. Por isso iria escalar apenas o Comandante, cabendo ao Comandante escolher os homens. Assim, escalou o sargento Ferrine. Como eu era amigo do sargento Ferrine, o primeiro escolhido por ele fui eu, seria esclarecedor da patrulha. Formada a patrulha, saímos em direção aos morros. Eu estava na retaguarda quando o sargento me chamou, para frente; eu lhe disse que nunca tinha sido esclarecedor. Ele retrucou que não tinha importância, que seria naquele dia. Andamos a tarde toda até chegarmos às montanhas onde caímos num campo minado. O primeiro a pisar em uma mina fui eu. O Comandante da patrulha, sargento Ferrine, tomou a frente, dizendo para que os demais só pisassem onde ele já tivesse pisado. Mas outros pisaram em minas; até o anoitecer, foram oito baixas, oito que perderam as pernas. Meu Comandante de Grupo de Combate, o sargento Aquino, perdeu as duas pernas, três dias depois morreu. Todos desconheciam que aquela região se encontrava minada e esse desconhecimento fica como exemplo para o futuro, a fim de que as patrulhas, que saiam em missão sejam informadas, sempre que possível, da possibilidade da existência de campos minados. Pisar numa mina dói muito. É uma amputação a sangue frio. Anoitecia, o sargento Ferrine comunicou-se com a Companhia. Recebeu ordens de permanecer no local e aguardar o pessoal da “desminagem” para que a patrulha pudesse retrair em segurança. Isso aconteceu e saí dali transportado em padiola. Creio que fiquei umas quatro horas aguardando o padioleiro. Nós tínhamos avançado muito e estávamos no meio de um campo minado. Fui levado para uma ambulância, que nos aguardava na estrada, a mim e aos outros feridos. Fomos para o hospital de emergência em Porreta Terme. Lá passei três dias e sofri uma operação de emergência. Desse hospital fui para outro, o 7o, em Pistóia. Dali fui para Nápoles, onde ficava o Hospital Fixo, no qual fiz uma operação preparatória para colocar aparelho ortopédico. Fui muito bem atendido pelos médicos. Em Nápoles, havia conforto, boa alimentação. Tomei penicilina três vezes ao dia, durante trinta dias. Quando a enfermeira vinha aplicar a injeção, eu virava a cara, doía, mas era necessário. Em abril, um grande grupo de brasileiros feridos embarcou para os EUA, eu estava entre eles. Foi na madrugada do dia 13 de abril, dia da morte do Presidente Roosevelt. Muitos americanos choravam.

História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial Tomo 5

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

Veja também

livro1.jpg

Manoel Dantas Loiola – De Cangaceiro a Soldado da Borracha

Manoel Dantas Loiola, uma história intrigante! Muitos foram os brasileiros lutando pelo esforço de guerra …

3 comentários

  1. O Capitão Darcy era um bom homem? Ele foi meu avô mas não cheguei a conhece-lo, hoje ganhei uma bala da minha mãe, que ela pegou no dia que houve uma comemoração de fim de guerra, algo assim e resolvi procurar sobre ele.

  2. Sou um apaixonado pela 2 guerra mundial náo pelas atrocidades cometidas mas peladesprendimento destes homens e mulheres que fizeram historia, pena que a grande parte de nossos pracinhas foram relegados ao esquecimento pela patria, tive o prazer de conhecer varios ex conbatentes e poder escutar sua historias.

  3. Francisco Guilherme N. Salvado.

    Tive o prazer de conhecer pessoalmente o sargento Rubens no ano de 1995, na época presidente da Associação dos ex-combatentes do Brasil, foram três entrevistas de poucos minutos em dias alternados, entretanto, o suficiente para conhecer sua retidão de carater e princípios morais, independente do crédito que é possuidor frente a nação brasileira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese