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Um Venezuelano na Segunda Guerra – Manuel Antônio Prince Veroes

Manuel Antônio Prince Veroes, um venezuelano na Segunda Guerra lutando no Pacífico


“As balas não são de algodão”

Assim contou um veterano um venezuelano na Segunda Guerra Mundial.

Em meados da década de 1950, um senhor de média idade, caminhava por Barquisimeto, na Venezuela,  quando um oficial da guarda nacional perguntou a ele:

“Antônio, quantos japoneses você matou na guerra?”

Ele respondeu: “Você está vendo esses dez dedos em minhas mãos? Eles não são suficientes para conta-los.”

Manuel Antônio Prince Veroes nasceu em Aroa, estado de Yaracuy, em de 16 de junho de 1914. Sua mãe era de Sam Juan de LoCayos s e seu pai era de origem Holandesa, e que foi para Venezuela para trabalhar na construção da estrada de ferro Bolivar. Quando menino, ele cresceu em Brasquisimeto, estudou no Colégio La Salle, jogou beisebol, e se lembra que nessa época conheceu o futuro presidente da Venezuela, Rafael Caldera (Presidente da Venezuela em 1969 e 1994).

Quando completou 13 anos, seu irmão mais velho lhe convidou para morar com ele em Nova York.

Venezuelano na Segunda Guerra
Manuel Antônio Prince Veroes, um venezuelano na Segunda Guerra

Primeiro se preocupou em aprender o idioma, depois foi para Detroit, onde aprendeu um pouco de mecânica, que serviu para trabalhar como mecânico dos famosos táxis amarelos. Em pouco tempo já era gerente de um estacionamento do qual o dono era libanês. No final dos anos 20 e 30, Antonio tinha um grande grupo de amigos latinos, na sua maioria porto-riquenhos e mexicanos.

Em 07 de dezembro de 1941 sua vida mudou, o Estados Unidos declarava guerra ao Japão, devido o ataque a sua Base Naval de Pearl Harbor.

Manoel e seus amigos hispânicos foram obrigados a servir ao país, isso ocorreu devido a lei aplicada para residentes com mais de três anos no país. Essa estava de acordo com suas convicções sobre essa nação e não era objetivo ir contra essa ordem, pelo contrário, era motivo de orgulho.

No início de 1942 treinou por três meses em um campo de treinamento militar na Carolina do Sul, logo em seguida foi enviado com milhares de outros alistados de trem para São Francisco, de onde embarcaria para o Pacífico.  Imaginou que iam lutar contra os japoneses, uma vez que lhes deram uniformes na cor caqui de algodão e não de lã para suportar o frio da frente europeia.

Prince foi designado para o 182º Regimento de Infantaria da 23º Divisão do Exército Norte Americano, essa unidade foi ativada em maio de 1942 na Nova Caledônia, era conhecida pelo seu brasão azul com as estrelas formando o cruzeiro do sul. Quando Manoel chegou, a unidade era formada somente por latinos.

No final desse ano viajaram para as ilhas ocupadas pelos japoneses em navios de transporte de tropas da US Navy. Entrou em combate em outubro do mesmo ano em Guadalcanal, nas proximidades da foz do rio Matakinau. Os primeiros a desembarcar foram os jovens marines de 18 anos.

Prince estava com 28 anos e sua divisão foi a segunda a desembarcar. Quando chegou na praia, viu os corpos dos primeiros marines na areias e outros boiando na praia. O reforço de seu regimento, permitiu que os estadunidenses tomassem o monte Austen em janeiro de 1943 e tomar o campo Henderson, que se tornou a base aérea para os primeiros ataques contra o Japão.

Brasão da Unidade

Seus companheiros latinos o batizaram como “Bruxo” devido a maneira destemida que entrava em combate enfrentando a morte contra os japoneses. Ele recorda que para sobreviver em batalha tinha que ser mover como um esquilo e que em parte parecia como um jogo de beisebol. Seu lema era: “As balas não são de algodão”.

No ano seguinte foi promovido a sargento, e comandou um esquadrão de jovens soldados estadunidenses e latinos. Sua arma principal era o morteiro de 81mm para apoio avançado.

Quando Guadalcanal foi totalmente tomada, o General Mac Arthur desembarcou, e entre os soldados que o recebeu estava o venezuelano, seu aspecto hispano chamou atenção do general que então perguntou de onde era, ai para não confundir com a localização de seu pequeno povoado Yaracuyano, respondeu: “Caracas!”.

E em um espanhol perfeito o general replicou: “Oh, si Caracas!” Convidando-o para segui-lo à barraca de campanha. Por ser baixo e moreno, os aborígenes tiveram afeição achando que era um deles, e isto lhe fez conseguir outras atenções. Também era cortês com as crianças locais dando de presente galinhas e cantando canções infantis.

Venezuelano na Segunda Guerra
Manuel Antônio Prince Veroes, o único venezuelano na Segunda Guerra

Depois de Guadalcanal, foi para Fiji, até alcançar Bouganville em 1944, quando chegaram nas Filipinas era o último ano, a guerra estava nas ilhas de Corregidor. Ali ele teve seu maior feito, quando nas colinas da cidade de Cebú em 03 de abril de 1945, um grupo de seis soldados americanos estavam sendo derrotados pelos japoneses.

Manoel viu de longe o perigo que os companheiros passavam e dirigiu fogo de morteiro contra o inimigo, além de uma nuvem de fumaça verde que escondeu os americanos do ataque. Isso cegou os japoneses e permitiu a evacuação de seus companheiros, incluído os feridos. O mais dramático de tudo, eram os franco-atiradores nipônicos, mas sua ação evitou a ação dos atiradores. Essa ação lhe rendeu um reconhecimento por escrito com selo estadunidense assinado pelo general da Divisão, uma cinta e medalha para seu uniforme de gala por destaque em combate.

Ia para a invasão de Okinawa em julho de 1945, se previa a derrota do império Japonês, mas essa era a primeira ilha em território japonês e a sua defesa seria encarniçada. Porém o batalhão americano continuou a atacar os focos de resistência. No início de agosto a guerra terminou com a rendição japonesa e Manoel foi enviado para casa. Em novembro lhe deram a baixa honrosa, e em Nova York seus familiares e amigos deram calorosas boas vindas.,

Venezuelano na Segunda Guerra
Manuel Antônio Prince Veroes, um venezuelano na Segunda Guerra lutando no Pacífico

Em 1946, voltou para a Venezuela, onde montou uma oficina de automóveis em Barquisimeto. O jornal local “El Impulso” publicou seu retorno em 27 de novembro, e posteriormente, outros diários também escreveram sobre ele.

Casou-se e teve seis filhos. Viveu com seus princípios de respeito as pessoas e em defesa da democracia, do qual sempre destacava nas conversas. Criticou os ataques de 11 de setembro em 2001 numa de suas entrevistas a jornais locais.

Com quase 80 anos ganhou uma pensão do governo dos Estados Unidos antes de sua morte em 2003.

Em 2012, tive contato por e-mail com um familiar do sargento Prince, Daniel Athalido, que enviou parte dos documentos e fotos para servirem de prova das experiências desse Venezuelano, personagem ilustre da Segunda Guerra Mundial. 

Manuel Antônio Prince Veroes, um venezuelano na Segunda Guerra lutando no Pacífico.

Por: Clemente Balladares C.

Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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