O PRIMEIRO BRASILEIRO MORTO NA SEGUNDA GUERRA

22 de março de 1941. Um dia sombrio, gravado em letras de sangue na história do Brasil. O mercantile Taubaté, uma embarcação brasileira carregada de batatas, lã e vinho, navegava pelo Mediterrâneo, próximo à costa de Alexandria, no Egito, quando o horror desceu dos céus. Um avião da Luftwaffe, a temida força aérea nazista, abriu fogo sem aviso, sem piedade. E ali, no convés, caiu José Francisco Fraga, o primeiro brasileiro morto na Segunda Guerra Mundial. Um inspetor naval, um homem comum, vítima de uma rajada de metralhadora que marcou para sempre o destino da nação!

O Taubaté exibia a bandeira brasileira pintada em ambos os lados, um sinal claro de sua identidade e neutralidade. Mesmo assim, o ataque veio com fúria implacável. Primeiro, bombas foram lançadas, mas não acertaram o alvo. Então, o piloto alemão despejou uma saraivada de tiros, que atingiu em cheio José Francisco Fraga, matando-o no convés, além de ferir outros 13 tripulantes. O comandante Mário Fonseca Tinoco relatou ao consulado brasileiro em Alexandria: “Erguemos uma bandeira branca no mastro, mas o ataque não parou”. O avião, identificado pelas insígnias da aviação alemã, ignorou o gesto de rendição e deixou um rastro de sangue e dor.

José Francisco Fraga não foi apenas uma baixa — ele foi o marco inicial de uma série de ataques que vitimariam mais de mil brasileiros. O Taubaté, primeira das 36 embarcações nacionais alvejadas na guerra, sobreviveu àquele dia fatídico, mas carregava o peso de uma tragédia que chocou o país. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil apresentou denúncias à embaixada alemã no Rio de Janeiro, exigindo explicações. A resposta? Um silêncio gelado, que ecoou como um insulto à nação.

E há um detalhe que torna tudo ainda mais impressionante: o Taubaté, de 5.099 toneladas, nasceu como um navio alemão. Construído em 1905 sob o nome Franken, pertenceu ao Lloyd da Alemanha até ser confiscado pelo Brasil em 1917, durante a Primeira Guerra. Rebaptizado e operado pelo Lloyd Brasileiro, resistiu à Segunda Guerra até 1954, quando, já desgastado, rompeu os cabos em Recife e virou perda total. Um fim triste para um símbolo de resistência.

A morte de José Francisco Fraga não passou em branco. Nos meses seguintes, os ataques alemães às embarcações brasileiras se intensificaram, culminando na entrada oficial do Brasil na guerra contra o Eixo em 1942. O sangue daquele inspetor naval, derramado no Mediterrâneo, foi o primeiro de muitos — um sacrifício que mudou os rumos da história brasileira. Este é o relato cru, real e impactante de um herói esquecido, cuja morte abriu os olhos de uma nação para o terror da guerra

Sobre Ricardo Lavecchia

Trabalho como vendedor, mas tenho como hobby desenhar e pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial.

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