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Divisão Azul – A Divisão Espanhola de Adolf Hitler

Um histórico da situação da guerra em 1941 e os processos de formação e treinamento da Divisão Azul Espanhola.

Em 1941 a Alemanha encontrava-se perante um dilema.

A Segunda Guerra Mundial iniciara-se após a invasão da Polônia e a declaração de estado de guerra por parte da aliança integrada pela Inglaterra, que sempre procurou manter um certo equilíbrio político e territorial na Europa continental.

Na 1 ª Guerra Mundial, as potências centrais, lideradas pelo Império Alemão e Austro-Húngaro, já vinham sofrendo com revoltas internas e problemas em manter sua arcaica estrutura política centralizadora, e a guerra apenas tratou de apressar o processo de dissolução destes impérios.

Esta dissolução, seguida das enormes perdas em território e a atribuição à Alemanha de toda a culpa e das obrigações de reparação acabaram por deixar abertas feridas que somente a força poderiam ser resolvidas.

Como na 1ª Guerra, novamente os ingleses impuseram um bloqueio econômico ao comércio marítimo da Alemanha e seus aliados, se bem que desta feita a Alemanha estivesse preparada, as marcas da fome e da revolta popular resultante e que motivou o pedido de rendição alemã na 1ª Guerra Mundial ainda eram bastante frescas, e esta, junto com outros fatores, acabou sendo o motivador da decisão de Hitler em atacar a Rússia comunista, de olho na imensa fonte em matérias primas.

No plano político havia um antagonismo entre a ditadura do proletariado adotado pela Rússia e a linha política adotada pela Alemanha, apesar do tratado de não agressão assinado entre as duas nações, era apenas uma questão de tempo o choque entre as duas ideologias.

Tal choque já havia acontecido em território espanhol onde as Forças Republicanas, sustentadas pelos comunistas e pelas armas e assessores russos foi derrotada pelas tropas Nacionalistas apoiadas pela Alemanha e pela Itália.

Aos espanhóis também restaram feridas profundas e o ódio aos comunistas que perpetraram massacres entre civis e militares durante a guerra civil.

Em 22 de junho de 1941 a Alemanha lançou a maior ofensiva de guerra que o mundo já viu, que foi o ataque a União Soviética.

A Espanha tinha uma dívida com a Alemanha que forneceu apoio em armas e tropas ao General Franco, e já vinha sofrendo pressão para que entrasse na guerra contra os ingleses que mantinham o domínio sobre a contestada ilha de Gibraltar.

Franco pertencia àquela classe de homem de grande astúcia e na verdade mantinha um certo distanciamento dos regimes nacionalistas italiano e alemão, estando mais inclinado a apoiar o trono real de Espanha do que a apoiar as pretensões de mudanças e de igualdade social dos falangistas, facção criada durante a guerra civil e que davam sustentação ao regime franquista.

A campanha da Rússia fornecia a oportunidade de pagar sua dívida com a Alemanha, bem como de arrefecer os ânimos agitados dos membros da Falange.

A abertura de postos de alistamento foi feita principalmente nos quartéis e nas repartições falangistas, e havia a expectativa de atrair pouco mais de 14.000 voluntários, o suficiente para formar uma divisão.

Emblema da Divisão Azul.

O que ocorreu foi uma adesão em massa e o número chegou a mais de 100.000 voluntários, o suficiente para formar um exército, o que estava fora dos planos de Franco, pois uma força superior a de uma divisão significaria uma declaração formal de guerra a Rússia, o que não era o objetivo.

O comando desta Divisão coube ao General de 45 anos, Agustin Muñoz Grandes, pessoalmente indicado por Franco.

Nascido em Carabanchel Bajo, Madrid, em 27 de janeiro de 1896, o General Muñoz Grandes se graduou na academia militar de Toledo, e recebeu o seu primeiro comando na África, onde o seu relacionamento com o General Francisco Franco começou.

Agustin Muñoz Grandes

Durante a Guerra Civil Espanhola Muñoz Grandes comandou a 4 ª Brigada de Navarro, no posto de Coronel. Em março de 1936 ele tomou parte na ofensiva de Aragão, como comandante do Exército de Urgel.

Em 1939 Muñoz Grandes foi designado como Secretário Geral do Partido Falangista e, apesar de sua posição nesta organização fascista ele, como Franco, não era politicamente inclinado pelo movimento.

Junto a ele quatro Regimentos foram formados sob o comando dos Coronéis Rodrigo, Esparza, Pimentel e Vierna.

Uma proporção importante de universitários engrossava as fileiras da “Divisão Azul”, e em Madri, na Cidade Universitária, mais de 4.000 voluntários não conseguiram se alistar.

Os regimentos da artilharia divisional foram formados sob o comando do Coronel Badillo, com armamento alemão, e os serviços de suporte como os antitanques, engenheiros, comunicação e suprimentos foram formados por unidades experientes.

A Divisão deslocou-se de trem para a Alemanha na metade do mês de julho de 1941 para treinamento e reequipamento. O comboio atravessou a fronteira alemã e fez uma parada em Karlsruhe onde um gigantesco bufete aguardava os espanhóis, com montanhas de pães, carnes, frios, cerveja, etc.

Toda aquela fartura desmentia o que a imprensa ocidental dizia desde há anos sobre a vida miserável que o regime hitleriano impusera ao país. E muitos dos voluntários, que nunca comeram manteiga na vida, outros até que nunca a viram, arregalavam os olhos e diziam: Se isto continua assim, vamos morrer antes de chegar à frente de combate!

Outra surpresa para a maioria é a ordem e a limpeza de comportamento que corresponde à das casas, das cidades e mesmo das paisagens alemãs, embora sintam a falta do calor humano comum a sua terra.

Uma vez chegada a localidade de treinamento em Grafenwöhr, na Bavária, em 17 de julho de 1941, eles admiram a maneira impecável como a guarda de honra apresenta suas armas, os oficiais, as auxiliares femininas da Cruz Vermelha Alemã que se encarregam da alimentação, as inspeções sanitárias e, para a surpresa de muitos, os chuveiros, de início temível, em seguida agradável, porquanto na Espanha dessa época as instalações sanitárias são raras, dada a pobreza e a falta de água.

Os quatro Regimentos iniciais foram reduzidos para três, conforme o padrão do Exército Alemão. O contingente de voluntários espanhóis recebeu a designação oficial de 250ª Divisão de Infantaria.

O Coronel Rodrigo foi designado como o segundo em comando e a nova Divisão ficou assim definida:

262º Regimento de Infantaria, sob comando do Coronel Pimentel, com recrutas oriundos principalmente da região de Barcelona.

263º Regimento de Infantaria, sob comando do Coronel Vierna, constituído de recrutas oriundos da região da Catalunha.

269º Regimento de Infantaria, sob as ordens do Coronel Esparza, com voluntários da região de Sevilha.

No Exército Espanhol, as unidades eram conhecidas pelo nome de seus comandantes (ex. “Regimento Pimentel”, “Regimento Vierna” e “Regimento Esparza”).

Cada Regimento Consistia de 3 Batalhões, de 4 Companhias cada (3 de atiradores, 1 de atiradores pesado, armados com morteiros e metralhadoras).

O 250º Regimento de Artilharia sob comando do Coronel Badillo consistia de 3 grupos ligeiros, cada um com 3 baterias de canhões de 105mm, e um grupo pesado com canhões de 150mm.

A unidade antitanque do regimento estava armada com 36 peças de canhão de 37mm.

Os elementos restantes da divisão estavam alocados a unidade antiaérea, engenheiros ou pioneiros, inteligência (Nachrichten-abteilung), bem como outros serviços de suporte divisional como o serviço médico, de transporte, policial, veterinário, padaria, etc.

Também foi formada uma unidade de esquiadores, bastante competentes para serem usados no reconhecimento e em golpes de mão rápidos na neve profunda.

A força total estimada da Divisão em agosto de 1941 era de 641 oficiais, 2.272 suboficiais e sargentos, 15.780 soldados e mais de 800 viaturas diversas.

O treinamento em Grafenwöhr, muitas vezes sob o comando dos duros sargentos do exército alemão foi tudo menos suave. Os alemães são conhecidos por sua intolerância com qualquer coisa menor que a estrita disciplina e ficavam constantemente irritados com seus recrutas espanhóis que tinham uma aparência de pouco caso e respeito as ordens de parada e formação em campo.

O fato era que grande parte destes recrutas eram profissionais do exército espanhol, veteranos da Guerra Civil, já calejados por inúmeros combates. O impacto do treinamento sob ordens provindo de estrangeiros tinha pouco efeito sobre esta tropa.

Em 31 de agosto de 1941 eles estavam em formação de parada para a apresentação e inspeção da tropa, e para o juramento, cujo o texto foi alterado para a obediência ao Führer apenas na batalha contra o bolchevismo.

Após este curto período de treinamento a tropa recebeu novos uniformes padronizando-os com a cor cinza do uniforme alemão, sendo que apenas os distinguia o escudo no braço direito com as cores da Espanha, vermelho-amarelo-vermelho, com o nome “ESPANA” escrito acima.

Em suas unidades, aos azuis era permitido vestir uma miriade de peças de uniformes que simbolicamente consistiam na boina vermelha do Movimento Carlista (patrocinados por Don Carlos e o trono espanhol), a Camisa Azul em honra a Falange e que deu o nome a Divisão, e a barretina bege em honra à Legião Estrangeira Espanhola, cujo comandante, Muñoz Grandes, havia liderado e da qual um bom número de azuis provinham.

Fonte deste artigo: Artigo de Wolfgang Garlipp: A Divisão Azul (Loup, Saint); Españoles en Guerra (Thurnbull, Patrick)

 

A atuação da Divisão Azul no teatro oriental da guerra européia até sua desmobilização oficial, em outubro de 1943.

Em 29 de agosto de 1941, após deixar a Bavária e ser transportada por 1.200 km até Sulwalki na Polônia, a Divisão Azul iniciou a estafante marcha de 1.000 km durante 40 dias a pé, até Vitebsk, no norte da Rússia. A única forma de transporte que havia eram aqueles puxados por cavalos, e mesmo estes não se apresentavam em boas condições.

No caminho depararam-se diversas vezes com multidões famintas formadas por velhos, mulheres e crianças seminuas ou miseravelmente vestidas, e que saídos das aldeias destruídas, em muitos casos pela política de terra arrasada ordenado por Stalin, pediam num idioma germano-russo incerto um pedaço de pão.

Somente no início de outubro é que a exausta Divisão alcançou Vitebsk, e após um curto percurso de trem, a divisão chegou a linha de frente em Shimsk, no fronte de Volkhov.

Incorporados ao XVI Corpo de Exército do Grupo de Exércitos do Norte (Armeekorps Heeresgruppe Nord) que então cercava a cidade de Leningrado, é-lhes confiada uma frente de 50km ao longo do rio Volkhov, que liga o lago Ilmen, atravessando a floresta, a taiga e pântanos, até o lago Ladoga no norte. Mal chegam e já o tempo esta impiedoso, um verdadeiro frio polar. O primeiro contato com o exército vermelho foi feito pelo II/265 Regimento de Infantaria em Kapella Nova, quando os espanhóis surpreenderam um batalhão soviético que estava cruzando o rio.

Após uma furiosa troca de tiros os soviéticos deixaram para trás mais de 50 corpos espalhados na neve das margens do rio e outros 80 foram feitos prisioneiros.

Durante o gelado mês de outubro de 1941, unidades do 18o. Exército alemão e da 126º Divisão de Infantaria, junto com dois Regimentos espanhóis cruzaram o Volkhov em Udarnik e estabeleceram uma cabeça de ponte no lado leste da margem.
O II/265 R.I foi novamente engajado em violentos combates contra elementos do 52º Corpo soviético, o qual foi repelido após tenaz resistência na defesa da cabeça de ponte.

Continuamente bombardeado pelos soviéticos, recebeu apenas um mínimo de reforços, mas forças do III/263 R.I e elementos do 250º Batalhão de Reserva foram deslocados para a margem leste do Volkhov para reforçar a defesa. Num lento círculo envolvente do norte, leste e sul de seu ponto inicial, os granadeiros espanhóis investiram contra os vilarejos de Tigoda, Dubrovka e Muravji, forçando lentamente os russos a recuar.

Com o completo congelamento do Volkhov em novembro, os espanhóis enfrentaram contra-ataques regulares dos soviéticos em seus flancos, o qual incluía um massivo ataque de artilharia e de infantaria, que atacava em cargas gritando “Urra…”.

No vilarejo de Possad em 12 de novembro, onda após onda de soldados soviéticos eram lançados em ataque na tentativa de retomar o controle da região. A determinação dos “azuis” conseguiu frear sucessivos ataques e causaram baixas pesadas em homens e materiais aos russos, mas os espanhóis também sofreram desgaste e no final do mês apenas foram recebidas poucas reposições em homens e munição.

Enquanto os soviéticos continuavam a atacar em ondas com seus gritos de “urra…” os espanhóis desafiadoramente replicavam com o grito de guerra “Arriba España!”, que era usado pelos Nacionalistas durante a Guerra Civil.

Com a temperatura ao redor dos -40ºC e sob fogo constante da artilharia russa e dos ataques aéreos a situação foi se tornando crítica. A comida era escassa e o pão congelado era cortado a machadadas. Os defensores não tinham descanso e não conseguiam dormir a dias, e mesmo assim mantiveram-se firmes. Diante da pressão, o Alto Comando alemão acabou por permitir a retirada de Possad e Otensky em 7 de dezembro, apenas quando os serviços de inteligência assinalaram que os soviéticos também se retiravam devido a exaustão de suas forças.

Como exemplo do desgaste sofrido, as perdas da 269º R.I durante este mês brutal foi de 120 mortos, 440 feridos e 20 desaparecidos. Todas as unidades da 250º R.I foram retiradas da margem leste do Volkhov, para posições fortificadas do outro lado do rio.

No inverno da noite de natal de 1941, as posições avançadas na região de Lubkovo, ocupadas pelos granadeiros espanhóis foram subitamente atacadas e ultrapassadas pelas forças soviéticas.

Posteriormente tropas espanholas retomaram a região e se depararam com um cenário de horror. Os corpos mutilados do Tenente Moscoso e de vários granadeiros brutalmente mortos a machado ou com suas próprias baionetas e dispostos como se estivessem crucificados provocou a ira e o desejo de vingança dos espanhóis.

Logo após este acontecimento, um contra-ataque realizado por duas companhias do I/269 R.I deixou sobre a superfície congelada do Volkhov um rastro de corpos de um batalhão soviético inteiro.

Com o tempo este tipo de atrocidade e a vingança resultante foi se tornando comum. Esta era a realidade dos amargos combates na frente do Volkhov.

Mas o maior inimigo era o frio assustador que modificava todos os valores. Temperaturas ao redor dos -50º C davam a sensação de que a atmosfera se solidificara à sua volta, tornando difícil até respirar. As partes mais isoladas do corpo corriam sempre o risco de congelamento que neste ambiente significava a amputação. O gosto das coisas tornava-se imperceptível, as bordas das pálpebras acumulavam continuamente uma franja de gelo e a sensação era a de que o próprio olho estava congelando.

Com o fracasso da ofensiva alemã contra Moscou em dezembro de 1941, os russos lançam uma ofensiva simultânea por toda a frente da guerra, e a Divisão Azul que cobria uma parte do flanco direito do dispositivo na região do Volkhov sofre constantes ataques.

No início de 1942, ao sul do lago Ilmen, a 290ª Divisão alemã foi ultrapassada pelo rolo compressor russo. Os sobreviventes, cerca de 543 homens, foram cercados na vila de Vsad. A unidade espanhola mais próxima era a 5ª Companhia antitanque do Capitão Ordas, situada no extremo norte do lago Ilmen que distava 30km de distância em linha reta sobre a superfície gelada do lago. Embora pequena, a esta unidade o General Grandes pediu o supremo sacrifício para ajudar os camaradas alemães cercados. Uma força composta por 206 homens e 70 cavalos conduzidos por voluntários civis russos atravessou o grande lago a uma temperatura de –56ºC, onde até a bússola se recusava a funcionar. Nas horas seguintes, durante a marcha, 102 homens sucumbiram ao frio ao tempo que alcançaram a vila de Ustrika que distava mais de 20km da posição que deveriam alcançar. Ao se desviarem dos obstáculos e sem a bússola, inútil neste frio, eles acabaram por se afastar do objetivo na direção oeste.
No dia seguinte a força estava reduzida a 76 homens, mas mesmo assim avançou até a posição onde auxiliou na evacuação dos sobreviventes alemães e dos voluntários letões.

Os soviéticos contra atacaram com blindados e tropas de esquiadores, forçando os espanhóis e as tropas lituanas da 81ª Divisão a recuarem até a posição de Bolshoye Utschno. Os poucos homens ainda aptos ajudaram na contra-ofensiva e na recaptura de três vilas, juntos com unidades das tropas lituanas, e ao final restavam apenas 12 homens. 

Isto mostra como eram aguerridos os voluntários espanhóis que ganharam a admiração de aliados bem como respeito do inimigo.

Os soviéticos, que de inicio cercavam várias tropas alemãs, passaram a ser os cercados. Para tentar libertá-los Stalin envia para dentro do bolsão o General Vlassov, herói da defesa de Moscou e que será feito prisioneiro.

Os diversos bolsões russos resistiram até junho, e os espanhóis obtiveram uma expressiva vitória fazendo 5.097 prisioneiros, capturando ou destruindo 46 peças de artilharia para a perda de 274 homens em combate.

No final do mês de agosto de 1942 a Divisão Azul tomou parte nos combates em torno de Krasny Bor, no fronte de Leningrado. O relacionamento com a população local era excelente, diferentemente de seus colegas alemães.

Todos os esforços foram feitos e uma nova ofensiva para a tomada de Leningrado falhou. Mesmo cercada, a cidade ainda recebia suprimentos através do Lago Ladoga e mantinha a sua produção de guerra.

Em fins de novembro de 1942 o comando da Divisão Azul foi passado ao General Emilio Esteban que também havia lutado na Guerra Civil.

Em janeiro de 1943 os soviéticos tentaram levantar o cerco de Leningrado com redobrado vigor, e para sustentar a defesa, cada divisão integrante do XVIII Exército Alemão cedeu um destacamento que reunidos formaram uma reserva estratégica sendo empregadas no reforço as unidades que estavam sob forte pressão. A Divisão Azul enviou a 269º Regimento de Infantaria sob o comando do Capitão Patino. A 22 de janeiro a 2ª Companhia do 269º R.I alcançou a área de Poselok e imediatamente caiu sob um intenso bombardeio de artilharia e ataques aéreos. Durante estes combates um obus atingiu a casamata onde estavam reunidos os oficiais e seis deles foram feridos. Apenas um oficial restou, o Tenente Soriano que durante a noite defendeu a posição com 29 homens. Após sofrer vários ataques de tropas soviéticas, a unidade foi forçada a abandonar sua posição. As baixas foram pesadas e de um contingente de 800 homens apenas 200 estavam aptos ao combate.

Um contra-ataque foi ordenado objetivando a recaptura das posições, e apesar da forte oposição soviética, o objetivo foi alcançado e a linha foi mantida. Após pesados ataques dos alemães sobre os soviéticos, os espanhóis foram rendidos no dia 28. Eles retornaram ao quartel-general em Slutz com apenas 1 oficial, 7 sargentos e 200 homens. Todos receberam a Cruz de Ferro.

Em fevereiro de 1943 os soviéticos derrotaram o 6º Exército alemão em Stalingrado e no setor norte estava-se preparando uma nova ofensiva com a finalidade de liberar a via férrea que ligava Leningrado a Moscou. Os espanhóis estavam posicionados próximos ao rio Ishora que era o centro de atenção dos soviéticos, e em antecipação ao ataque os alemães da 212ª Divisão se prepararam na localidade de Krasny Bor. Os espanhóis estavam frente a quatro unidades soviéticas, as 43ª, 72ª, 45ª e 63ª divisões. Também davam suporte a estas unidades dois Regimentos Blindados, 187 Baterias de artilharia, dois Batalhões de morteiros, uma Brigada Motorizada e duas Companhias de esquiadores, frente às forças espanholas de dois Batalhões de infantaria, uma Companhia de esquiadores, uma pequena unidade de artilharia e antitanque, e sapadores, no total 5.600 homens.

No dia do ataque, apesar da ferocidade do fogo de artilharia, os espanhóis conseguiram manobrar e instalaram seu posto de comando em Raikelevo, de onde o General Esteban Infantes dirigiu a batalha. Após três horas de bombardeio da artilharia a infantaria russa atacou, acompanhada dos blindados que acabou por penetrar o dispositivo espanhol em vários lugares, avançando para Krasny Bor. A 3ª companhia, que defendia a estação de trem na localidade foi batida e deixada com apenas 40 homens que lutaram até o fim. O seu comandante, o Capitão Ruiz de Huidobro, a quem foi oferecida a chance de deixar a unidade de licença poucos dias antes morreu em combate. Ele foi postumamente condecorado com a Cruz de San Fernando.

Tudo ao redor dos espanhóis desabava sob a pressão dos ataques dos soviéticos. As ambulâncias que tentavam retirar os feridos para a retaguarda eram deliberadamente atingidas pelos tanques russos, mas estes tanques foram destruídos pelos espanhóis armados de coquetel Molotov e granadas de mão. No final da tarde a Luftwaffe enviou alguns caças-bombardeiro que bombardearam as posições soviéticas ao redor de Kolpino.

Os pequenos bolsões de resistência que foram submergidos pelo ataque soviético só puderam ser liberados no final da tarde quando a 212ª Divisão e elementos da 112ª Divisão integradas por voluntários lituanos e flamengos vieram em suporte da Divisão Azul.

Os elementos restantes da 262ª de artilharia e os sapadores que ainda ocupavam Krasny Bor foram evacuados naquela noite. Mais ataques soviéticos foram feitos na manhã seguinte ao longo do rio Ishor, próximo a fabrica de papel, e os homens da 3ª companhia do 262º R.I e as diversas unidades espanholas repeliram todos os ataques nos dois dias seguintes.

O maior ataque soviético aconteceu no dia 19 de março e novamente os espanhóis repeliram os atacantes. Ao final da batalha as baixas espanholas foram extremamente pesadas, atingindo 75% do efetivo, um total de 3.345 homens foram feridos ou mortos e 180 foram feitos prisioneiros, em compensação as baixas soviéticas atingiram mais de 11.000. O setor do rio Ishora foi ocupado dois meses depois por tropas alemãs da 254ª Divisão, quando o repatriamento dos integrantes da Divisão Azul começou a ser feito.

A Espanha sob crescente pressão dos aliados para que retirasse o apoio a Hitler resolveu retirar a Divisão Azul do combate. As negociações com o governo alemão foram iniciadas na primavera de 1943, e a ordem de retirada foi dada em outubro de 1943.

Os homens com mais tempo de permanência foram os primeiros a serem repatriados em um ritmo de dois trens por semana que os levaram até a Baviera e de lá até a fronteira espanhola. Em 29 de outubro os primeiros veteranos da Divisão Azul pisaram o solo espanhol, muitos pela primeira vez em dois anos.

O quadro final de baixas da Divisão foi de 4.334 mortos, 8.466 feridos e 326 desaparecidos, 321 foram feitos prisioneiros pelos soviéticos e 94 morreram em cativeiro, contra 49.000 baixas soviéticas. Os restantes 230 prisioneiros foram repatriados somente em 1954. Em razão das baixas e das reposições pelo sistema de rodízio, o número de espanhóis que lutaram no fronte leste chegou a 25.000 homens. Os feridos foram tratados em hospitais na retaguarda principalmente por pessoal médico espanhol.

Muitos dos veteranos espanhóis resolveram se alistar como voluntários no exército alemão, a uma média de 50 homens de cada Companhia, atingindo a cifra de cerca de 3.000 voluntários. Esta nova legião foi enviada a Yambergin na Lituânia, sob comando do Coronel Antonio Garcia Navarro, composto por duas “Banderas” que era o termo espanhol para unidades do tamanho de um batalhão. A primeira missão desta unidade foi contra os guerrilheiros na área do Narwa e após algum tempo ela foi anexada a 121ª D.I em Begolovo e Kostovo.

Pelo natal enfrentaram e repeliram dois ataques da infantaria soviética. Em janeiro a Legião recebeu ordens de se retirar e fez suas últimas ações contra os guerrilheiros e no final do mês retirou-se para Luga. De lá foram transportados para a Estônia para tomar parte na defesa de Narwa, mas uma ordem mandou dispersar a unidade que retornou a Espanha em março de 1944.

Mas um número considerável de voluntários entrou para as Waffen SS que organizou uma nova unidade que recebeu o título de Spaniche-Freiwillegen Kompanie der SS. Esta unidade participou da defesa de Berlim lutando até a derrota final.

Quando consideramos a qualidade combativa da Divisão Azul vindo de uma nação neutra e a quantidade de voluntários, o balanço final é bastante impressionante. São inúmeros os exemplos de heroísmo e bravura do soldado espanhol que por si só dariam muitas páginas escritas.

Na Espanha a história da Divisão Azul é preservada no Museu Nacional de Madri, próximo do Museu do Prado, que tem uma sala reservada a 250ª Divisão, a Divisão Azul.

Fonte deste artigo: Artigo de Wolfgang Garlipp: A Divisão Azul (Loup, Saint); Españoles en Guerra (Thurnbull, Patrick)

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Sobre Ricardo Lavecchia

Desenhista, Ilustrador e pesquisador sobre a Segunda Guerra Mundial

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